Reguengos de Monsaraz foi palco da XXVIII Sessão Anual e da IX Sessão para Membros da AOP, evento promovido pela Academia Olímpica de Portugal em parceria com a Câmara Municipal local, na qual o CNID-Associação dos Jornalistas de Desporto também esteve presente e participativo na moderação (por Artur Madeira) de dois dos mais significativos debates.
Se bem que o tema global da Sessão fosse “Os desafios contemporâneos do movimento olímpico”, outros houve que completaram uma informação – promovida por vários oradores – mais completa sobre as questões olímpicas, sobressaindo um que está na ordem do dia (pela sua importância diríamos “estratosférica”, face à globalidade mundial) e que foi o mote de abertura da sessão.
Depois da inauguração da exposição sobre as mascotes olímpicas (uma colecção particular de enorme valor sentimental) e dos discursos do Presidente da Câmara Municipal local, José Gabriel Calixto; do Presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino e do Presidente da Academia Olímpica de Portugal, Tiago Viegas, coube a João Paulo Almeida, director-geral do COP, abordar um assunto dos mais candentes na actualidade, no que concerne ao “Movimento olímpico e a integridade no desporto”.
Quais os motivos “para a infiltração criminosa no desporto”, que consequências, como se pode arriscar uma carreira desportiva, como se pode proteger o atleta, frases que foram sendo desmontadas por este especialista no âmbito, que envolveu ainda passagens pelo “match fixing” (manipulação de resultados de resultados e apostas ilegais) – um sistema como que paralelo à dopagem no desporto – podendo catalogar-se os que “se vendem para ganhar dinheiro através de meios ilícitos”.
Neste campo, destacam-se as “apostas ilegais” que, segundo os estudos existentes – citados por João Paulo Almeida – fizeram “rodar” cerca de 140 milhões de euros em 2015 em todo o mundo, através de três a dez mil operadores legais e ilegais.
Foram passados vídeos sobre alguns “arrependidos”, onde se referiram as “mafias” instaladas, quase sempre dentro de um código de silêncio que torna difícil denunciar, pelo medo que perpassa pelos envolvidos, até porque provoca danos irreparáveis até no seio familiar.
Depois de também registar a falta de interesse, de uma maneira geral, dos órgãos de comunicação social sobre este (e outros temas), João Paulo Almeida discorreu um conjunto de factores que levam à corrupção, à manipulação de resultados e outros factores adjacentes.
Os organismos internacionais que acompanham este processo criaram como que um código para que se possa travar estes factos, através dos chamados 3 R (Reconhecer o que está a acontecer, Resistir, rejeitando imediatamente e Reportar, denunciando o mais rapidamente possível, todas as manobras intimidatórias sobre a manipulação dos resultados.
Tudo isto com base no Código de Ética do Comité Olímpico Internacional, cujas últimas alterações (este ano) deram a abertura necessária para se implementar este processo junto de todas as federações internacionais de modalidade.
Surgindo ainda acoplado ao Plano de Integridade no Desporto, desenvolvido junto de todos os países por via da acção da SIGA-Aliança Global da Integridade no Desporto (no original Sport Integrity Global Alliance) – composta por, entre outros, pelas Ligas Europeias de Futebol Profissional, Centro Internacional de Segurança Desportiva, o Instituto de Basileia sobre a Boa Governação, a Associação dos Comités Olímpicos Nacionais, Comité Olímpico de Portugal, empresas como a Mastercard e Delloite, cujo coordenador geral é o português Emanuel Medeiros.
O tema central da Sessão foi “Os desafios Contemporâneos do Movimento Olímpico”, que contou com a presença de Artur Lopes (ex-Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e Vice-Presidente da Federação Internacional da modalidade e responsável pela área da dopagem na mesma entidade), Paulo Barrigana (antigo atleta internacional e responsável pelo treino de alguns jovens que já chegaram aos Jogos Olímpicos), bem como de Rui Bragança, campeão mundial de Taekwondo (por vídeo conferência).
O que também reuniu elevada participação foi o tema “Canoagem em Portugal. Passado, presente e futuro”, que teve no presidente da Federação, Vítor Félix, um orador que deu a conhecer como é que a modalidade atingiu o segundo lugar no “ranking” do Comité Olímpico de Portugal (relação resultados obtidos-medalhas conquistadas, em elevado número) mas que para o IPDJ é apenas a 17ª (pelo número de atletas filiados não ser relevante como as outras 16 à frente).
Deu a conhecer que a renovação da “frota” de atletas de gabarito é um grande desafio que tem pela frente, ao mesmo tempo que salientou que “se torna indispensável resolver a pós-carreira dos atletas que a terminem, aliás como se faz na Alemanha, na Itália, na Suécia e Espanha, onde há garantia de trabalho, o que ainda não se faz em Portugal”, tendo sugerido a realização de uma discussão a nível nacional.
Gustavo Marcos, membro da AOP, falou sobre “Os Jogos Olímpicos da Antiguidade”, enquanto Carlos Manuel Albuquerque, jornalista da RTP, abordou “A Importância da difusão televisiva dos grandes eventos desportivos na lógica do desenvolvimento de uma cultura desportiva”.
Ilídio Torres, membro da AOP, dissertou sobre “Pierre de Coubertin: o antes e o depois” e Tiago Viegas, presidente da AOP, se referiu à “Academia Olímpica de Portugal – Desafios”.
Catarina Monteiro, recordou o que se passou “O Festival Olímpico da Juventude Europeia – Gyor’2017”, do qual foi chefe de missão, com Teresa Rocha, membro da AOP e da Confederação dos Treinadores de Portugal, que abordou o Olimpismo sob o ponto de vista dos treinadores, tendo apresentado alguns dados sobre o que os técnicos pensam do assunto, num estudo que se insere na tese de doutoramento que está a fazer.
Mais um momento de reflexão do espirito olímpico, passando pelo espirito desportivo e pelo fair play, numa altura em que, no desporto, se viúvem momentos conturbados do ponto de vista da ética.