Quarta-feira 25 de Novembro de 3914

“O Desporto no Feminino, 2021 que futuro?”

Philippe BanaSubordinada ao tema “O Desporto no Feminino, 2021 que futuro?”, o Núcleo dos Antigos Alunos do Liceu Passos Manuel levou a efeito, em parceria com a Universidade Lusófona, um seminário que reuniu, além de outras personalidades (masculinas), um trio de senhoras de alto gabarito do desporto nacional.

Referimo-nos às olímpicas Joana Pratas e Filipa Cavalleri e à actual directora (para o futebol feminino na Federação Portuguesa de Futebol), Mónica Jorge.

Quase que foi “arrepiante” as palestras da velejadora e da judoca, pelo sentido de vida que divulgaram, com Joana Pratas a afirmar que “no tempo em que comecei a velejar senti logo a discriminação porquanto as raparigas neste desporto eram poucas e tínhamos que que lutar contra os rapazes para conseguirmos posições que nos colocassem nos lugares elegíveis para as grandes competições internacionais, uma vez que não havia provas separadas”.

Joana-Filipa-MónicaDepois de referir que a sua referência desportiva nacional foi a Rosa Mota e que recorda com muita alegria o facto de a ver de medalha de ouro ao peito e a ouvir o hino nacional, confessou que “esse facto esteve sempre no meu espirito para lutar cada vez mais, treinar cada vez melhor, ter uma grande resiliência e a ajuda e apoio dos familiares e amigos, tendo como base a educação que me proporcionou um papel importante”, recordando que se iniciou na modalidade com apenas nove anos e que foi a primeira velejadora (mulher) e a mais jovem (entre homens e mulheres) portuguesa a participar nos Jogos Olímpicos, tendo ainda participado em campeonatos mundiais e europeus.

Detalhou um pouco mais a sua longa vida ligada ao mar (recorde-se que foi a Embaixadora de Portugal nos Jogos do Rio de Janeiro, fazendo a viagem (ida e volta) a bordo do navio “Sagres”, no que foi uma epopeia nobre e gratificante, tendo terminado a recordar as palavras de António Guterres, presidente da ONU, quando da comemoração do Dia Internacional da Mulher, que “Os direitos das mulheres são direitos humanos”.

Por seu lado, Filipa Cavalleri – que foi a primeira grande referência feminina no judo nacional – recordou que, por “ordem familiar”, ela e os quatro irmãos foram para o judo para “se desgastarem por forma a melhor dormir depois da jornada de cada dia”.

Começou com dez anos, foi três vezes aos Jogos Olímpicos e foi, entre os irmãos, que foi mais longe na carreira.

Conquistou a medalha de bronze no mundial de 1995, com apuramento directo para os Jogos de 1996 (Atlanta) – tinha estado antes nos Jogos de 1992 (Barcelona) e foi depois a Sydney (2000) – num ano em que ficou fora da família mais de um mês.

“Na verdade – contou – para fazer um estágio a sério, tive que ir para Cuba, longe do habitat normal e da família, entregue a mim própria, treinando apenas com homens, uma situação que deixou marcas psicológicas, ao ponto de, nos Jogos, ter perdido logo no primeiro combate”.

Ligada mais ao atletismo, ao futsal e ao halterofilismo (onde foi atleta federada), Mónica Jorge, hoje em dia directora para o futebol feminino da Federação Portuguesa de Futebol, depressa se embrenhou pela modalidade rainha ao seguir a carreira de treinadora, atingindo o IV nível do curso da UEFA, enquanto também se licenciava em Desporto de Alto Rendimento (variante de futebol).

Passou por vários lugares e funções até entrar, há 17 anos, na FPF para assumir o cargo de seleccionadora nacional, sendo directora desde 2012, integrando ainda o Comité do Futebol Feminino da UEFA, sendo a primeira mulher com um cargo directivo na estrutura federativa, o que foi e é uma oportunidade única.

“Sem história” no futebol (jogo jogado), Mónica Jorge apresentou o “plano estratégico para o futebol feminino 2015/2020 – Realidades e Desafios”, afirmando que “em apenas dois anos aumentámos em 35% o número de praticantes, sendo que o objectivo é duplicar até 2020, para colocar Portugal no top’25 da FIFA, estando agora na 34ª posição, sendo 20ª na UEFA”.

Salientou ainda Mónica Jorge que “das cerca das 4.100 federadas, 3.079 são juniores, pelo que o futuro estará salvaguardado, até porque o futebol feminino já integra 22 associações distritais e que se vai iniciar o projecto das jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos”.

Mónica Jorge culminou a sua intervenção dizendo que “queremos criar uma cultura diferente para o futebol feminino, não seguindo os padrões tradicionais que vigoram no futebol masculino!”

Num dia bem preenchido, foram ainda debatidos temas como “A Mulher no Desporto e na Sociedade”, com intervenções de Jorge Proença (Universidade Lusófona), António Salvador (GFK Portugal) e Maria Fernanda Rollo (Investigadora); A Escola e o Desporto”, com Manuel Brito (Panathlon Clube de Lisboa), Nuno Ferro (Sociedade Portuguesa de Educação Física), Jorge Tormenta (Colégio de Gaia) e Pedro Kay (Desporto Escolar) e “França, um caso de sucesso no desporto feminino”, com a presença do director técnico nacional francês de Andebol, Philippe Bana, que conquistou títulos olímpicos, mundiais e europeus, como focou alguns dados sobre a forma de como foi possível chegarem a esse patamar de excelência.

Jorge Máximo (Vereador da Câmara Municipal de Lisboa) e João Paulo Rebelo (Secretário de Estado da Juventude e do Desporto), enalteceram a oportunidade da iniciativa e deixaram palavras de incentivo.

De parabéns o histórico Núcleo dos Antigos Alunos do Liceu Passos Manuel, uma referência no desporto nacional, no andebol em particular, em Portugal.

 

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