Perante um auditório repleto de figuras proeminentes do desporto em Portugal – uns mais conhecidos do que outros, como se pretende numa fase de renovação de quadros com vista ao futuro – foram empossados os setenta e oito membros das nove comissões definidas pelo Comité Olímpico para o novo ciclo olímpico (2017-2021), no que se parece com um “mini parlamento”, embora no seio olímpico.
Pensar-se-á, à primeira vista, que 78 membros para nove comissões (seis com nove membros e três com oito), é um número demasiado alto para o nosso meio, em termos de país, mas haverá, por certo, razões para o efeito.
Por outro lado, importa acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos de cada uma para se analisar de que forma actuarão junto dos parceiros não contemplados e, por outro lado, se o trabalho que cada uma vai implementar se será complementar com o que já desempenham outras instituições (no terreno há tempo largo) ou se poderá haver eventual “colisão” de interesses. O tempo o dirá.
O que ressalta, logo à partida, é a presença de figuras que, de uma ou outra forma, tem estado à margem (pouca ou nenhuma visibilidade na área desportiva), como o novo presidente da TAP (nomeado pelo Estado), Miguel Frasquilho (ex-AICEP), que integra a Comissão de Marketing, onde também terá assento Tiago Craveiro, o executivo-mor da Federação Portuguesa de Futebol.
Na Jurídica, a novidade é a presença de Margarida Dias Ferreira e do sobrinho André Dias Ferreira, enquanto se constata que foram criadas as Comissões de Treinadores, Ciência e Desenvolvimento e de Arbitragem e Ajuizamento Desportivo, enquanto a Comissão Médica passou a ser Conselho Médico, onde se assinalam os regressos de João Paulo Almeida e Maria João Cascais, depois de um largo interregno.
Depois do auto de posse, José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico de Portugal, abriu a sua intervenção afirmando que “perante os complexos desafios que hoje o mundo enfrenta, marcados por uma intolerância e radicalização preocupantes, é um lugar-comum afirmar
que o desporto incorpora um quadro de valores crucial para inverter este pendor crescente”, adiantando que “o movimento olímpico é disso fiel testemunha: porque constitui um inestimável património cultural, educativo e cívico, que se expressa em diversas áreas como o desenvolvimento sustentável, a paz, a integridade das competições, o desporto para todos, a diplomacia económica, a inclusão social ou a cidadania”.
Mais à frente, agradeceu a disponibilidade de todos depois de dizer que “perante o movimento olímpico e desportivo os agora investidos, assumem o compromisso de colaborar com o Comité Olímpico em diversas áreas de especialidade”, frisando que “com a vossa ajuda sabemos que não vamos mudar tudo o que no desporto precisa de ser mudado, mas estamos seguros que vamos pensar e agir melhor”.
Mais cáustico, referiu que “semana após semana, somos confrontados com comportamentos e graus de conflitualidade que deitam por terra todo o esforço que fazemos para valorizar socialmente o desporto; que anulam o esforço de professores, de treinadores, de pais que junto de crianças e jovens tentam valorizar o papel formativo do desporto., sendo testemunhas de comportamentos de titulares e agentes de instituições de utilidade pública que constituem péssimos exemplos para a sociedade e que colocam em causa a dimensão educativa e formativa do desporto. Comportamentos amplificados à exaustão onde frequentemente se negligenciam aqueles que são o foco determinante da excelência desportiva – os atletas – por uma opinião pública sedenta de casos menores”.
Depois de passar em revista “um conjunto de factores de inflamação de tensões e confrontos, ao
invés de um instrumento promotor do respeito, da amizade e da excelência em busca de um mundo mais solidário, mais justo, mais tolerante”, Constantino frisou que “estas tendências têm privado a vida pública de uma dimensão moral e humanista e têm esvaziado a cidadania da energia capaz de travar o declínio de valores da vida contemporânea. O desporto não escapou a este tropismo orientado por dimensões eminentemente materiais”, tendo acrescentado que “os resultados estão à vista: o desporto é uma das actividades sociais mais regulada no plano jurídico, seja por normas de origem pública, seja por normas de génese associativa, mas a percepção que todos temos é que se trata de uma actividade de que em alguns dos seus segmentos está completamente desregulada, a ponto de colocar em crise a própria autoridade do Estado”.
Num discurso alargado (e escrito), Constantino adiantou também que, porventura, “o que nos falta é uma boa dose de sentido de responsabilidade, que todos precisamos, se queremos continuar a exigir um desporto com valores e princípios, e útil à sociedade. Um desporto de causas e não de casos. Um desporto que em circunstância alguma para os que o praticam, gerem ou comentam se desligue de uma cidadania responsável. Não podemos, por isso, abrir mão de alguns dos valores que, civilizacionalmente, moldaram o desporto e que o apresentam como uma expressão de cultura com valor formativo”.
Tempo ainda para o presidente do COP salientar que “estou seguro que o vosso prestígio, a vossa competência e o vosso profissionalismo capacitar-nos-ão, a todos, a estar mais bem preparados para esta enorme responsabilidade. Uma responsabilidade perante o esforço e a dedicação dos que, através do desporto, formam gerações de cidadãos e atletas, reforçam a nossa identidade, promovem a nossa cultura e colocam o nome de Portugal ao mais elevado nível, tantas vezes remetidos para as brumas da memória de onde urge resgatar como exemplos de referência.”
Finalizando, José Manuel Constantino salientou também que “é, pois, chegado o momento de assumirmos esta herança e, a cada ensejo, a cada gesto, sabermos preservar, promover e transmitir rumo a um futuro em que o desporto assuma um estatuto em harmonia com a dimensão do valor que acrescenta à sociedade portuguesa nos mais variados domínios.
Um futuro em que o Movimento Olímpico e Desportivo afirme uma agenda mais ampla que não se esgote a falar para si próprio e para as preocupações imediatas e de vistas curtas de alguns dos seus protagonistas”.
Posto isto, mãos à obra. Tóquio’2021 é já amanhã. E há muito que fazer!
Artur Madeira
CONSTITUIÇÃO DAS COMISSÕES
Comissão Mulheres e Desporto
Ana Celeste Carvalho
Ana Vital de Melo
Catarina Rodrigues
Elizabete Jacinto
Filipa Cavalleri
Juliana Sousa
Mónica Jorge
Teresa Barata
Comissão de Marketing e Financiamento
Alcides Gama
Alfredo Silva
Antonio Cunha Vaz
João Paulo Brito e Silva
Maria Areosa
Miguel Frasquilho
Nuno Galhardo Leitão
Ricardo Andorinho
Tiago Craveiro
Comissão Jurídica
André Dias Ferreira
Carlos Lopes Ribeiro
Elsa Matos Ribeiro
José Mário Ferreira de Almeida
Manuel Marinheiro
Miguel Fernandes
Margarida Dias Ferreira
Tito Crespo
Comissão de Arbitragem e Ajuizamento Desportivo
Ana Vieira
Álvaro Sousa
Avelino Azevedo
Isabel Fernandes
Jorge Salcedo
José Araújo
Nuno Castro
Paula Saldanha
Paulo Duarte
Comissão de Educação Física e Desporto na Escola
Carlos Gonçalves
Filipe Carmo Ferreira
José Cordovil
Leonel Salgueiro
Luísa Estriga
Nuno Ferro
Paula Queiroz
Pedro Dias
Ricardo Machado
Comissão de Treinadores
António Vasconcelos Raposo
Gabriel Mendes
Henrique Vieira
Isabel Mesquita
João Paulo Bessa
Paulo Sá
Pedro Almeida
Rui Norte
Tiago Lourenço
Comissão de Cultura e Desporto
David Justino
Elísio Sumavielle
Francisco J. Viegas
Gonçalo M. Tavares
Isabel Botelho Leal
Jorge Olímpio Bento
Teresa Lacerda
Zélia Matos
Comissão de Ciência e Desenvolvimento
Anna Volossovitch
Cláudia Dias
Francisco Alves
José Maia
Jaime Sampaio
Manuel João Coelho-e- Silva
Orlando Fernandes
Salomé Marivoet
Tiago Barbosa
Conselho Médico
Artur Moreira Lopes
António Freitas
Artur Pereira de Castro
Jacob Frischknecht
João Páscoa Pinheiro
João Paulo de Almeida
José Gomes Pereira
Maria João Cascais
Miguel Mendes