Terça-feira 26 de Novembro de 2024

Bullying começou em contexto escolar mas passa pelo meio laboral e policial

StopBullyingSignO projecto “Desporto sem Bullying”, que foi apresentado há dias pela Faculdade de Motricidade Humana (FMH) e tema de debate no Panathlon Clube de Lisboa no dia seguinte, tem muito mais que se diga do que simplesmente saber o que é isso de “bullying”.

Nos documentos que suportam o projecto (e que estão disponíveis em www.desportosembullying.pt) ficou a saber-se que é um estudo pioneiro, internacional, no qual a FMH se integrou, nos anos noventa, com instituições de Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha, para analisar a alta taxa de suicídio que se verificava no sistema escolar na Noruega, onde foram estudadas as causas e a sua natureza, que tem na exclusão social nas escolas a base principal, pelo que o principal “remédio” é procurar os caminhos para prevenir este tipo de problemas.

Estão a concluir-se 27 anos sobre o “tiro de partida” para esse estudo e, hoje em dia, sabe-se que o “bullying consiste num comportamento agressivo e anti-social entre pares, intencional e repetido, caracterizado por uma assimetria de poder entre bullies e vítimas”, que é “um fenómeno universal, transversal a diferentes países, culturas, géneros ou modalidades desportivas”

Apesar de abrangente e intemporal, o “bullying não pode ser tolerado, uma vez que consiste numa incontestável violação dos direitos individuais”.

De outra forma, o “bullying é a exposição de uma pessoa ou grupo de pessoas a acções negativas com intenção de magoar ou provocar desconforto, repetidamente e ao longo do tempo”.

Não é do género da violência pura e dura – que é outro campo de estudo – mas a tangência das situações verificadas pode roçar esta última referência, aliás como tem acontecido há já algum tempo em Portugal, tendo presente as notícias que vem sendo públicas e visíveis nas redes sociais e, depois, nos canais de TV.

Se recuarmos até aos anos sessenta do anterior milénio, sabemos que os jovens dessa altura também tinham fases muito parecidas mas que, depois das lutas, ficavam amigos, apesar de as situações menos boas se poderem repetir. Mas nunca como agora.

O contexto social – ou de exclusão social na escola, e não só – mudou por completo; evoluiu nalgumas vertentes mas não podemos esquecer que continuam a existir, como antes, largos milhares de cidadãos carentes, quiçá de pouca coisa, mas que, pela falta desse pouco, perdem as “estribeiras” e são obrigados a “desviarem” a sua rota de uma vida normal para uma outra que não se pode classificar como “vida”.

Em termos portugueses, o estudo foi feito junto de milhar e meio de jovens atletas masculinos federados de todo o País e revelou uma taxa de vitimização de “bullying” superior a dez por cento, de acordo com os dados que os investigadores Carlos Neto e Miguel Néry – catedrático e investigador no Departamento de Desporto e Saúde e no Laboratório de Comportamento Motor na FMH – recolheram ao longo de todo esse tempo e que agora resolveram publicar, com o objectivo de sensibilizar e prevenir que este tipo de questões possam, tendencialmente, desaparecer dos “radares” do dia-a-dia.

Nessa sequência, o “Desporto sem bullying” é um projecto de investigação-acção que sensibiliza as comunidades educativa e desportiva sobre o bullying na formação desportiva, promovendo a intervenção directa através de três estratégias fundamentais: criação de ferramentas, formação de treinadores e intervenção especializada nos clubes.

Tudo isto sem esquecer que, no âmbito laboral e policial – por motivos de variada ordem, como se compreenderá – também surgem situações análogas que levam as “vitimas”, não conseguindo suportar a pressão, a extremos que podem redundar em suicídio.

Mais do que sensibilizar, é preciso que se promovam acções de prevenção, assentes em guiões que estão definidos no site referido atrás, cuja consulta é livre e gratuita, que podem ajudar todos a contribuir para uma melhor sociedade.

O que se pretende com alguma celeridade e com “actores” acutilantes e capacitados para “entrar” no espirito dos que estão a passar por esta fase, em que toda a ajuda será pouca para prevenir o pior cenário.

É sobre isto que se voltará a falar esta quinta-feira, a partir das 17h30, no Museu do Desporto (Praça dos Restauradores), por iniciativa da Confederação do Desporto de Portugal.

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