Albertina Dias – a única atleta portuguesa que subiu aos três lugares do pódio no Mundial de corta-mato, podendo-se apelidar de uma “rainha do crosse” no panorama internacional – é a Convidada de Honra da 27ª Corrida dos Reis, que se efectua este domingo na bela Ilha do Pico (Açores)
Nascida em 26 de Abril de 1965, na freguesia de Miragaia, no Porto, a mais medalhada portuguesa na especialidade de crosse, elevou-se a este patamar graças a um grande espírito de luta, a que não terá sido alheia uma infância bem difícil.
Como se recorda no livro “As Grandes Medalhas do Atletismo Português”, Albertina Dias foi a mais nova de oito irmãos (cinco rapazes e três raparigas), não conheceu o pai (faleceu dois meses antes de nascer) e com a mãe a trabalhar a dias, de manhã à noite.
Aos 12 anos, concluída a escola primária, a que veio a ser “papa-medalhas” no crosse mundial, trabalhava no transporte de fardos de palha às costas.
Iniciou-se no atletismo aos 10 anos, no Núcleo de Atletismo da Esperança, mas só aos 18 começou a dar nas vistas, ao ser terceira classificada no Nacional de Corta-Mato, em juniores, surgindo como inscrita no Inatel.
Passou alguns meses no FC Porto mas foi pelo Boavista que se filiou na Federação Portuguesa de Atletismo. Na estreia no escalão principal (seniores), em 1984, foi sétima no Campeonato de Portugal.
Em 1988 foi quarta e no ano seguinte subiu pela primeira vez ao pódio, com um terceiro lugar. Embora favorita, foi derrotada por Conceição Ferreira em 1990 e 1991, mas em 1992 alcançou o primeiro título de campeã nacional, o que repetiu em 1993 e 1995.
Mas as grandes proezas deram-se no Mundial: foi segunda em 1990 (medalha de prata), sexta em 1991, terceira em 1992 (bronze), campeã em 1993 (ouro), quinta em 1994 e nona em 1995.
Quando o Campeonato da Europa surgiu, Albertina já estava na fase descendente da carreira, tendo alcançando um 5º lugar (1996) e um 7º (1998).
Embora brilhando menos intensamente, Albertina Dias chegou também a posições de relevo na pista, nomeadamente pelo 10º lugar alcançado na final de 10.000 metros dos Jogos Olímpicos de Seoul’1988.
Depois, foi 13ª nos Jogos de Barcelona’1992 e sétima no Campeonato do Mundo de Estugarda’1993. Chegou a ser recordista nacional de 3.000 e 5.000 metros, distinguindo-se especialmente na mais curta destas distâncias, quando foi quarta no Mundial de Sevilha’1991, em pista coberta.
Depois de cinco presenças no Campeonato do Mundo de Estrada (15 km), sendo 8ª em 1989, Albertina Dias tentou a maratona, sendo segunda em Berlim (1993), com o que foi, na altura, o melhor tempo europeu jamais obtido por uma atleta estreante na distância (2h 26m 49 s).
Nas quatro restantes maratonas que correu, entre 1994 e 1996, não foi feliz, culminando com um 27º lugar nos Jogos Olímpicos de Atlanta.
Para além dela, estará também Rosa Mota, que é a Embaixadora desta competição, pela dedicação que sempre demonstrou a pequenas coisas que são tão importantes na vida de cada população, com é o caso da empatia com as gentes da Ilha do Pico pelo exemplo deram, em especial, na época da caça às baleias, agora proibida.
Sendo um evento marcadamente social, com cunho religioso, a Corrida dos Reis empolga toda a comunidade açoriana espalhada pelo mundo que, nesta altura, ruma até ao Arquipélago para se reunir com a família.
E aproveitam a oportunidade para se integrarem nos mais de 1.200 participantes, que são aguardados na freguesia de São Mateus, dos quais cerca de trezentos são de fora da ilha do Pico, nomeadamente das outras ilhas dos Açores, do continente português e da diáspora.
Haverá corridas para os mais jovens e para todos os escalões e estarão presentes nas provas principais 8.000m masculinos e 5.000m femininos vários atletas que militam nos principais clubes portugueses.
São os casos de Hugo Ganchas, Ruben Pessoa, André Pereira e Marta Sousa (Benfica), Jorge Moreira, Diana Almeida e Ana Gonçalves (Sporting), Ricardo Vale (Braga), João Pereira (Maratona), Rita Mineiro (CDUL) e Hugo Gil (Ingleses FC).