Cumpriu-se mais uma edição (78ª) da Volta a Portugal Santander Totta e, com isso, ficou a saber-se que continua a haver desportistas portugueses que são capazes de grandes feitos, como o que se verificou com Rui Vinhas, que deu um banho a toda a gente.
Pode-se dizer, até, que era um vencedor improvável, que ninguém se afoitou a considera-lo para coisas maiores, mas a verdade é que chegou ao fim com uma vantagem confortável de mais de minuto e meio, depois de ter partido para a última etapa (contra-relógio individual) com dois minutos e meio de avanço o que, se nada de anormal acontecesse – como foi o caso – o ciclista da W52/FCPorto seria o vencedor sem grande esforço.
Como os factos demonstraram no final, Vinhas deu-se bem com os ares entre Vila Franca de Xira e Lisboa e apenas perdeu cerca de um minuto, criando um facto dino de registo e de estoicismo, aplaudindo e enaltecendo o esforço feito, se bem que, porventura, com alguma “azia”, já que “não deixou” que o colega de equipa – mais cotado e vencedor nas duas últimas edições – Gustavo Veloso (espanhol) chegasse ao tri.
Isto porque, quando Vinhas atingiu a vantagem de 2’25”, Gustavo foi o primeiro a afirmar que não “faria nada para ir contra Vinhas”, quiçá face às ordens superiores dos “donos” da equipa. Fosse pelo que fosse, o português Vinhas venceu com todo o mérito. O que já não se via há cinco anos.
E o crédito a Vinhas ainda é maior porque andou de amarelo praticamente desde o princípio, uma vez que liderou desde a terceira jornada.
Rui Vinhas cumpriu a derradeira etapa com o quarto melhor crono, com mais 54 segundos, terminou a prova com uma diferença de 1’31’’ sobre Veloso. Daniel Silva (Rádio Popular-Boavista) fechou o pódio da Volta 2016 a 2’49’’.
Ainda sem acreditar no que estava a acontecer, Rui Vinhas explicou como foi o último dia de competição. “A certa altura não acreditava nas indicações de tempo que me chegavam do carro. O meu pensamento foi dar o máximo. Vim sempre no limite e cheguei sem forças nenhumas”, salientou o vencedor da 78ª Volta a Portugal Santander Totta que, no momento da vitória, não esqueceu a atitude de Gustavo Veloso. “Tenho de agradecer ao Gustavo Veloso que foi um bom ponto de referência para mim. Tentou resguardar-me ao máximo, não é qualquer líder que está a altura de ter esta atitude.”
Ainda antes de subir ao pódio, para ser brindado pelo segundo lugar e confirmar a melhor regularidade em prova, e a respectiva liderança da Classificação por Pontos traduzida na Camisola Verde Rubis Gás e ainda o Prémio Kombinado KIA, Gustavo Veloso não conseguiu disfarçar a desilusão. “É um encontro de sentimentos. Fico feliz pela vitória do Vinhas e pela camisola amarela ficar na equipa. Fico triste por saber que sou o mais forte na volta e não ter ganho. Nem sempre ganha o mais forte.”
Após 11 dias de competição, e com a meta e o pódio final da última etapa instalados na majestosa Praça do Comércio, houve festa azul e branca com os portistas e o presidente Pinto da Costa em grandes comemorações. Na cerimónia de coroação dos vários vencedores esteve também o melhor dos trepadores, o colombiano Ramiro Diaz (Funvic-Soul Cycles) Camisola Azul Liberty Seguros. O russo AlexanderVdovin (Lokosphinkx) envergou a Camisola Branca RTP por ser o melhor jovem em prova.
Na classificação geral individual, Raul Alarcon (W52/FCP) foi 4º, a 3’30” e Joni Brandão (Efapel) foi 5º, a 3’54” do vencedor. O primeiro ciclista do Sporting/Tavira foi Rinaldo Nocentini (21º) a 28’42”.
Na colectiva, triunfo abismal da W52/FCP, somando 122.54.24, à frente da Rádio Popular/Boavista (a 16’46”), Efapel (a 33’33”), LA Aluminios/Antarte (a 41’53”) e a Androni Giocattoli (a 41.54).
Nos pontos, Gustavo Veloso venceu com 124, à frente de Daniel Mestre (Efapel), com 89 e de Francesco Gavazzi (Androni Gio Cattoli), com 70.
Na montanha, prémio para Ramiro Diaz (Funvic/Soul Cycles/Carrefour), com 70, à frente de Joni Brandão (Efapel), com 58 e Bruno Silva (LA Alumínios/Antarte), com 55.
Na juventude, vitória para Alexandr Vdovin (41.39.14), seguido de Diego Ochoa (41.56.49) e de Vitor Etxebarria (41.58.10).
No Kombinado, triundo de Gustavo Veloso (9), à frente de Raul Alarcon (16) e Joni Brandão (17), verificando-se que os representantes da W52/FCP dominaram quase por completo esta 78ª Volta a Portugal Santander Totta.
Quem é o Rei da Volta 2016?
Rui Vinhas é natural de Sobrado, concelho de Valongo. Nasceu a 6 de Dezembro de 1986 juntamente com Miguel, o irmão gémeo e mecânico na equipa W52-FC Porto.
Com nove anos, Rui Vinhas começou a ter o primeiro contacto com o ciclismo. O passar dos anos deu-lhe a certeza de que era em cima de uma bicicleta que queria “lavrar o pão”.
Em 2006 integrou a equipa da terra, o então conjunto sub-23 da União Ciclista do Sobrado, na altura chamada Casactiva-Quinta das Arcas. Ali cresceu e deu o salto para o escalão Elite. Com 24 anos seguiu até Paredes para correr pela LA Alumínios-Antarte. O Algarve foi a paragem seguinte. Esteve dois anos no Louletano, até voltar à terra natal, em 2015, para vestir as cores da W52-Quinta da Lixa.
Esta foi a quarta vez que Rui Vinhas participou na Volta a Portugal. O discreto trabalhador de equipa alcançou aos 29 anos o sonho da vida de qualquer corredor. E agora? Rui Vinhas responde: “Gosto bastante de trabalhar para os meus colegas, mas com esta vitória vou encarar as competições de maneira diferente.”
Terminada a Volta de 2016, a Podium Events já está a planear o próximo ano. Joaquim Gomes, director da 79ª Volta a Portugal Santander Totta, anunciou que a prova deverá subir de escalão UCI e começar em Lisboa com um Prólogo, para terminar, a 15 de agosto, em Viseu.
“Posso acrescentar que a partida da primeira etapa em linha será de Vila Franca de Xira e está garantido que o formato de etapa da Torre será para manter com chegada à Guarda. A emoção e sobretudo as dificuldades daquele dia garantem-nos que foi a mais exigente etapa que alguma vez se realizou em Portugal no âmbito da Volta a Portugal”, rematou Joaquim Gomes.