Segunda-feira 24 de Novembro de 6949

Até um dia caro Prof. Moniz Pereira

Moniz e Domingos-1

Arq JDM

Faleceu este domingo – depois de algum tempo internado no Hospital Curry e Cabral – a principal figura do desporto português de sempre, porque a ele se deve, sem dúvida, os melhores resultados desportivos para Portugal.

Tendo como base o atletismo, onde foi o Rei, sem dúvida que depois de Carlos Lopes ter sido campeão mundial de crosse em 1976 e, oito anos depois, ter chegado à primeira medalha de ouro olímpico para Portugal através do brilhante e histórica vitória de Carlos Lopes na maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Antes, já Manuel de Oliveira tinha conseguido ser o primeiro finalista português no mundial de atletismo nos 3.000 metros obstáculos, onde obteve um extraordinário 4º lugar, enq.uanto José Carvalho foi o primeiro finalista nos 400 metros barreiras (5º lugar)

Sempre positivo, acreditando em tudo o que que fazia e que um dia chegaria a hora mais brilhante da sua vida enquanto técnico de atletismo, que era ver a bandeira portuguesa no mais alto mastro do Estádio Olímpico e ao som do Hino de Portugal.

Trinta e nove anos depois de divulgar este seu pensamento, a medalha de ouro da maratona olímpica entrou em Portugal ao peito do primeiro campeão português, para o caso Carlos Lopes.

Este foi o “rastilho” para que o atletismo – um parente pobre do desporto português na altura, onde o futebol, tal como hoje, chamava a si toda a economia – arrancasse para uma período de brilhantismo absoluto, que ainda hoje se verifica, porquanto todas (e únicas) as medalhas de ouro do desporto português pertencem ao atletismo. Depois de Carlos Lopes foi Rosa Mota (maratona), Fernanda Ribeiro (10.000 metros) e Nélson Évora (triplo-salto).

Aos 95 anos (completados em 11 de Fevereiro passado) e em “sofrimento” desde que a sua amada esposa Carlota Moniz Pereira subiu ao céu, Moniz Pereira não teve força para marcar outro treino.

Tendo-o acompanhado enquanto atleta (por ele treinado), como dirigente da Federação Portuguesa de Atletismo, como jornalista e amigo no dia-a-dia, guardo todos estes 50 anos com o optimismo que Moniz Pereira sempre transmitia a todos que por ele passavam ou com quem lidava, com um fino trato mas exigente, sofrendo também com outras situações com as quais não concordava mas que tinha que obedecer.

Um homem de carácter.

Para o Sporting “o professor Mário Moniz Pereira é o símbolo máximo do ecletismo do Sporting CP e desporto nacional”, que salientou o seu contributo para a modalidade, como antigo atleta, dirigente, treinador e professor, que era conhecido como o “senhor atletismo” e mesmo “o pai do atletismo português”, tendo sido o grande responsável pelas carreiras de atletas como Carlos Lopes, Fernando Mamede e os gémeos Castro e muitos outros, principalmente Manuel de Oliveira e José Carvalho, como atrás se referiu.

Mas na vida dos noventa e cinco anos de Moniz Pereira, houve muitas histórias, até porque o Prof. Jogou Voleibol e foi técnico desta modalidade, como foi preparador físico da equipa de futebol do seu clube de sempre, o Sporting, entre outras, tendo sido eleito como vice-presidente do primeiro elenco de Bruno Carvalho na presidência do clube de Alvalade.

Licenciou-se em Educação Física no antigo INEF), foi ainda seleccionador nacional de atletismo, director técnico na federação portuguesa de atletismo, além de ter exercido ainda cargos ligados à federação de voleibol, outra das modalidades em que esteve envolvido.

Na vida desportiva, esteve em 12 jogos olímpicos (48 anos), que intermediou com a presença em campeonatos mundiais e europeus, de pista e corta-mato, tendi sido distinguido com várias condecorações do estado português, como a Medalha de Mérito Desportivo, Medalha de Mérito em Ouro, Ordem Olímpica; além das comendas da Ordem do Infante D. Henrique, da Ordem da Instrução Pública e a Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Nos anos cheios de vida que percorreu, como dizia muitas vezes – e não a vida cheia de anos – Moniz Pereira estava sempre preparado para tudo, ainda que discordando de algumas coisas, mas arranjando espaço para compor músicas para centenas de fados, muitos grandes êxitos de vários artistas, incluindo Carlos do Carmo.

Um dos seus sucessos é o «Valeu a pena», que Maria da Fé celebrizou.

É verdade. “Valeu a Pena” caro Prof. Estou-lhe grato pelo que me ajudou na formação como atleta e, em especial, como homem que, desde 1962, nunca mais perdeu o “bichinho” do desporto até aos dias de hoje.

Sentidas condolências à família e que descanse em Paz.

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