Sábado 23 de Novembro de 2024

Valores pelo Desporto Estudar ou … jogar!

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Esta foi a frase proferida por um treinador a um jovem futebolista quando, em determinada altura, frequentava uma academia num dos clubes top de Portugal – segundo revelou o próprio, agora aluno da Universidade Europeia – no debate esta quinta-feira promovido a propósito do “Treino dos valores pelo desporto”.

Uma situação que diz bem dos “valores éticos” que grassam neste âmbito, quiçá tendo por base que uma academia se destina a formar desportistas que tem que dar rendimento ou, então, deixarão de lá estar porque a procura é muita e a oferta nem por isso.

Nesta hora, em que o jovem tenta conjugar os estudos (porque precisa para o futuro, atendendo a que a vida de desportista é curta em relação ao horizonte de vida) com a prática da modalidade que mais gosta – situação que é “vendida” como tal – surge a informação de que, afinal, não é bem assim.

Por ventura – sendo ou não admissível – o clube quererá rentabilizar (financeiramente) o jovem jogador para obter receita, a verdade é que estudar e jogar tem limites, definidos por vários parâmetros.

Num debate vivo, construtivo e percebido por uma plateia de jovens alunos que preenchia quase por completo o auditório da Universidade Europeia, o debate foi proporcionado por Pedro Pauleta (antigo internacional de futebol e actual dirigente da Federação Portuguesa de Futebol), Luís Sénica (Director Técnico e seleccionador nacional de Hóquei em Patins) e Jorge Pina (invisual, ex-campeão nacional de boxe e actual atleta paralímpico) sob a moderação do director do jornal Record, António Magalhães.

Cada um contou a sua história de vida, como exemplos das melhores práticas éticas – a acção teve a parceria do Plano Nacional de Ética no Desporto – ambos comungando de que o respeito (por si próprio e pelos outros) faz parte da vida de cada desportista. Se assim não for não há forma de lidar uns com e para os outros.

Como foi referido, a cidadania começa em casa, junto da família, situação que, por vários motivos, continua esquecida no interior de cada casa. Não raras são as vezes, fazendo numa leitura da comunicação social, que o volume de notícias do que se passa em casa de cada um só tem aspectos negativos. Se assim não se fizer, por certo que, no exterior, os jovens terão mais dificuldades em apreender e praticar essa cidadania junto de todos dos colegas e parceiros envolvidos numa qualquer actividade regular, sendo desportiva ou meramente social.

Outra “máxima” referida pelos palestrantes é de que os pais pressionam os filhos para a obtenção do melhor aproveitamento (desportivo) que se sobrepõe ao escolar, pensando que os filhos, aos 14 ou 15 anos, já te, “assegurada” uma vida de “estrela” quando, na verdade, nessa altura ainda se está no “berço” de uma vida, não se sabendo em que direcção soprarão os ventos.

Uma vez mais, Jorge Pina o pugilista campeão que se viu cego ainda jovem e que teve de virar a agulha para o atletismo – está integrado no projecto paralímpico para os Jogos do Rio de Janeiro, tendo num teste decisivo no dia 24 deste mês na maratona de Londres – surpreendeu ao contar que o pai era capataz de escravos mas desejava que o filho estudasse e não fosse praticar desporto. Teimoso, Pina não lhe vez a vontade. E foi penoso porquanto teve um desvio comportamental para o consumo de álcool, onde foi viciado, mas que encontrou no desporto a forma de “sacudir” de vez um passado nada lisonjeiro.

Momentos que calaram bem fundo a plateia e que levou Luís Sénica a pedir um aplauso (por aclamação longa, como se verificou) para o exemplo de vida e da postura de Jorge Pina perante a sociedade.

A dopagem no desporto também foi falada, sendo relevado que é nos desportos individuais que mais existe, com Pauleta e Pina a afirmarem que nunca foram “convidados” a experimentar. Pina que referiu ainda, por ser invisual, que teve que dar uma volta à sua vida no aspecto mental e espiritual.

Aas questões económicas também vieram à baila, que prevalecem sobre as restantes, enquanto Sénica frisou que é preciso prevenir os comportamentos desviantes.

O papel dos dirigentes também foi abordado, sendo notória a falta de ética em muitas situações – aliás visível quase todos os dias na comunicação social – sendo ainda questionado se a rivalidade entre os clubes teria ou não influência, se ajuda ou não nos comportamentos, do ponto de vista global.

A redução das horas dedicadas à educação física nas escolas também foi um tema abordado, o que não é compatível com a necessidade, imperativa, da prática da actividade física pelas camadas jovens.

O novel “cartão branco”, que foi implementado nos jogos de futebol para o árbitro atribuir aos jogadores mais correctos, com acções éticas e de desportivismo dentro de campo, mereceu uma referência de que não estava a fazer sucesso, provavelmente por ser a primeira vez e não haver ainda uma motivação nele centrado, salientando-se que os árbitros não falam com os jogadores (infelizmente, uma verdade imposta por regulamentos, deixando a pedagogia que devia existir) para esclarecer seja o que for.

Um exemplo ético foi enaltecido, como a do jogador (jovem) de Rugby que, precisando a equipa de empatar ou ganhar o jogo que perdia por 12-10, falhou a marcação da falta e a derrota confirmou-se, vendo-se todos os elementos da equipa a correr para o companheiro que chorava a bem chorar, pelo facto de não ter conseguido marcar, mas que foi reconfortado. A amizade, a camaradagem e, acima de tudo, um acto ético de grande significado.

Sobre o papel da comunicação social na promoção de tudo o que diga respeito ao desporto, mormente aos aspectos mais nobres da actividade dos intervenientes (ética, fair play, desportivismo) ficou a saber-se – o que não é novidade – que, acima de tudo, estão as questões económicas que, num mercado pequeno como o português, limitam em muito a acção dos média e, mais, se encontra numa situação complicada.

De reter ainda as importantes questões que foram colocadas (e bem) pelos alunos, com um retorno acima da média relativamente a este tipo de acções já promovidas nos estabelecimentos de ensino, pelo que este bem a Universidade Europeia ao implementar esta acção. Outras se seguirão.

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