Prestígio ao Mérito
No dia em que as mulheres estiveram presentes, em maioria – o que se verificou pela primeira vez, sendo um facto histórico – na cerimónia comemorativa do Dia Internacional da Mulher, o Comité Olímpico de Portugal homenageou dezoitos das mulheres que se destacaram no dirigismo desportivo português.
Um acto de inteira justiça, gratificante para os distinguidos e para o desporto nacional, que o Comité entendeu protagonizar no dia, confinado mundialmente, em que, uma vez mais, as mulheres foram as vedetas, no bom sentido.
Com carreiras variadas, entre atletas, técnicas e dirigentes, esta singela homenagem às dezoito mulheres que mais se destacaram, em múltiplas funções, no desporto, marcam mais um ponto de viragem na intervenção do Comité Olímpico de Portugal, que deixou de ser, quase em exclusivo, um parceiro do Estado no que se refere à coordenação, quadrienal, das comitivas lusas aos Jogos Olímpicos, para se dedicar à promoção de acções e eventos de variada ordem – acordando para o mundo real e presente a cada momento – quanto a distinções a cidadãs (para o caso lusas que mais fizeram pelo desporto nos últimos 30/50 anos.
Entre duas gerações (uma dentro do quadro sénior – 60/65 anos – e outra mais “vintage/trintage”), que se esperam sejam as seniores daqui a alguns anos e continuarem a laborar.
Dentro desse quadro e na classe mais antiga, foram premiadas figuras como Alda Côrte-Real, ginasta (olímpica em 1996, Atlanta), treinadora, juiz nacional e internacional e, há mais de uma década, Presidente da Associação de Juízes de Ginástica Desportiva; Ana Maria Cabral, pioneira do dirigismo no andebol em Portugal em clubes e há 16 anos na Associação de Andebol de Lisboa; Isabel Trigo de Mira, dirigente das federações de Ginástica e Atletismo e a primeira mulher nos corpos sociais do Sporting Clube de Portugal; Júlia Rocha, um exemplo de dedicação ao associativismo desportivo, com várias funções no Lisboa Ginásio Clube desde 1979 e até agora; Maria de Lurdes Lopes, membro dos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Voleibol desde 1996 e membro da Direcção desde 2004 até ao presente, iniciando-se na modalidade em 1962; Maria Emília Azinhais, que foi a primeira mulher a presidir a uma federação desportiva (Esgrima) em Portugal (1972), aliada a uma carreira de esgrimista, professora do ensino secundário e que foi ainda presidente do Panathlon Clube de Lisboa, entre outras coisas.
Ainda neste lote de “idade sénior”, destaque para Paula Ferrão, presidente do Xico Andebol, pelo mérito do trabalho desenvolvido durante muitos anos; Regina Mirandela da Costa, campeã nacional de basquetebol, dirigente da administração pública, presença em vários organismos internacionais (como o Conselho da Europa), foi ainda chefe de delegação do Special Olympic aos Jogos Mundiais em todas as edições (até 2015) e Teresa Oliveira, 28 recordes nacionais como nadadora da Associação de Natação de Coimbra entre 1993 e 2008, sendo agraciada com a medalha de prata da respectiva Federação em 2010.
No quadro de uma geração mais recente, releve-se Ana Rolo, uma das mais jovens dirigentes desportivas portuguesas, liderando desde 2012 o Ginásio Clube Figueirense, o qual serviu como atleta nas modalidades de natação e remo e onde obteve vários títulos nacionais; Joana Gonçalves, Presidente da Federação Portuguesa de Hóquei desde 2012, com um papel decisivo no impulso da modalidade em Portugal, sendo a única mulher presidente de uma federação desportiva de modalidade olímpica no nosso país e, ainda, membro do Comité de Desenvolvimento de Projectos da Federação Europeia de Hóquei, tendo sido designada pelo Comité Olímpico de Portugal adjunta do Chefe de Missão ao Festival Olímpico da Juventude Europeia de Utrecht em 2013;
Outras mulheres: Leila Marques, que foi uma das primeiras atletas portuguesas com relevantes resultados desportivos nos Jogos Paralímpicos, em cujas edições de Atlanta, Atenas, Sidney e Pequim participou na modalidade de natação. Preside também à Comissão Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal; Mafalda Freitas, é desde Junho de 2010, a primeira mulher a conduzir os destinos do Clube Naval do Funchal, o qual, com 64 anos de existência é um dos mais emblemáticos clubes de desportos náuticos da Região Autónoma da Madeira, sendo Mestre em Gestão de Empresas e tendo também o cargo do clube que preside a gestão da Marina do Funchal; Mónica Jorge, seleccionadora nacional Feminina entre 2007 e 2011, tem sido o motor da expansão do futebol feminino em Portugal, num trabalho reconhecido pela UEFA cujo comité para o futebol feminino é membro. É membro da Direcção Executiva da Federação Portuguesa de Futebol e directora para o futebol feminino, bem como observadora técnica e delegada da UEFA em jogos internacionais femininos. É membro da Comissão de Treinadores do COP; Teresa Oliveira, com um currículo desportivo onde figuram 28 recordes nacionais como atleta, desempenhou ainda funções dirigentes na Associação de Natação de Coimbra entre os anos 1993 e 2008, nos quais foi presidente durante 13 anos. O seu trabalho à frente de uma das maiores associações da modalidade granjeou-lhe assinalável prestígio, tendo sido candidata a presidente da Federação Portuguesa de Natação. Na sua carreira teve um contributo assinalável na dinamização da Natação Master, sendo-lhe outorgada a Medalha de Prata da Federação Portuguesa de Natação em 2010 e Violante Isabel Ribeiro que, num momento particularmente conturbado e exigente da história de um dos mais importantes clubes desportivos do Movimento Olímpico nacional, com vários medalhados olímpicos e o 2.º registo com mais atletas participantes portugueses na história dos Jogos, Violante Ribeiro teve a coragem de assumir a liderança do Sport Algés e Dafundo e a audácia de assumir um plano de acção para revitalizar o clube à altura dos pergaminhos desta instituição centenária.
Dentro do quadro “sénior”, é de louvar ainda Assunção Fernandes – Presidente da Associação Assomada desde 2005, que iniciou há cerca de 25 anos no bairro da Pedreira dos Húngaros em Linda-a-Velha um projeto pioneiro de integração social através do desporto junto da comunidade cabo-verdiana aí residente, recorrendo única e exclusivamente ao trabalho voluntário. O seu trabalho tem sido alvo das mais diversas distinções, com destaque para a condecoração atribuída pelo Presidente da República de Cabo Verde em 2008, e desenvolvido noutras áreas sociais de intervenção prioritária do Concelho de Oeiras. Assunção Fernandes é reconhecida pela comunidade local que lhe tem confiado os filhos, possibilitando que através do desporto, nomeadamente do andebol, muitas crianças e jovens tenham saído da marginalidade e várias atletas formadas no clube tenham representado clubes europeus de topo e envergado a camisola da selecção nacional.
Para além destas distinções, o COP decidiu ainda prestar tributo a uma jovem e a uma mulher que há cerca de 40 anos se dedicou a uma intervenção cívica e política pela valorização do papel da mulher no desporto.
No primeiro caso, Filipa Godinho recebeu o Prémio Juventude, graças à actividade dedicada ao desporto universitário desde o seu ingresso no ensino superior em Coimbra. Filipa Godinho exerceu diversas funções de direcção e gestão nesta área tendo integrado a direcção da Federação Académica do Desporto Universitário entre 2011 e 2013 como Vice-Presidente para a área internacional. Foi eleita presidente desta federação para o mandato 2013/2015, organizando vários eventos nacionais e internacionais de desporto universitário, bem como participando em várias delegações, onde se destaca a chefia da Missão às Universíadas de Verão em 2015, em Gwanju na Coreia do Sul. Actualmente integra a Comissão Jovem da ENGSO – Organização Europeia Não Governamental para o Desporto e é directora da Confederação do Desporto de Portugal.
No segundo, Odete Graça é uma das suas maiores referências quanto à intervenção cívica protagonizada nos anos setenta, tendo tido uma acção pioneira enquanto autarca com o pelouro do desporto em Sesimbra, até chegar a presidente da Assembleia Municipal, tendo sido ainda dirigente da Confederação do Desporto de Portugal e na Associação “A Mulher e o Desporto”, ajuntando a tudo isso o grau académica de Mestra em Gestão do Desporto, tendo recebido o Prémio Carreira com toda a propriedade.
Uma cerimónia que recordou carreiras iniciadas nos anos 60 e 70 – ainda hoje não terminadas – e que colocou uma vez mais o COP na vanguarda de acções inovadoras, ante uma inércia – ou ausência de visão – de outras entidades mais direccionadas para o efeito.
Mas quem sabe, pode e quer, não pode esperar “sentado”. O que o COP fez.