Navio Escola Sagres vai ser Casa de Portugal
Para poupar à volta de cinco milhões de euros em arrendamento de instalações e aquisição de outros serviços indispensáveis ao funcionamento, o Comité Olímpico de Portugal desafiou – e conquistou – a Marinha Portuguesa para a que o Navio Escola Sagres seja a Casa de Portugal no Rio de Janeiro.
Uma primeira vitória lusa para os Jogos do Rio de Janeiro, ainda que mais fácil do que se poderia pensar, já que o Almirante Luís Macieira Fragoso, Chefe do Estado da Maior da Armada aceitou a acutilância de José Manuel Constantino, Presidente do Comité, e a oportuna sugestão que encherá, uma vez mais, de orgulho todos os portugueses espalhados pelo mundo e que vão demandar terras de Santa Cruz para assistir aos primeiros Jogos Olímpicos de língua portuguesa.
Um evento que, por si só, sendo o maior espectáculo do mundo de quatro em quatro anos, sobe agora de tom por falar português. Independentemente dos resultados desportivos que se possam verificar – e esperamos, já com alguma ansiedade, que a bandeira das quinas suba ao pódio nem que seja por uma única vez – Portugal já está a ganhar.
Uma oportunidade única, ainda, para que a campanha da promoção e divulgação da língua de Camões possa elevar o nível de Portugal e de todos os países onde o português é a língua oficial em termos internacionais, tendo como base a histórica Sagres, um símbolo dos descobrimentos portugueses de há quinhentos anos.
Navio Escola que, aproveitando mais uma viagem de instrução de cadetes da Escola Naval, estará no Rio de Janeiro entre 3 e 21 de agosto, saindo de Lisboa um mês antes e depois de paragens em Cabo Verde, Recife e Salvador da Baía (já no Brasil), antes da chegada à cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016.
Desta forma, a Sagres (NRP Sagres), enquanto embaixada nacional itinerante, será a Casa de Portugal no Rio de Janeiro, apoiando o COP, os atletas portugueses e as empresas nacionais que adiram ao projecto (algumas estão quase a assinar o protocolo depois da visita guiada que já fizeram ao navio, tendo achada a ideia interessantíssima), em número que poderá ser elevado.
Para albergar as necessidades de uma “casa” deste tipo, a Sagres vai ser adaptada naquilo que possa ser para o efeito, pese embora sem implicar minimamente com a formação que terá de prestar aos cadetes da Academia de Marinha, em viagem de formação prática.
O projecto foi apresentado esta sexta-feira, a bordo da Sagres, onde reinou, entre as regras próprias da Marinha – formatura para a recepção dos convidados – um ambiente diferente do habitual para as coisas do desporto, contando com as presenças do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Luís Macieira Fragoso, do Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, da campeã olímpica e Vice-Presidente do COP, Rosa Mota, do Secretário-Geral do COP, José Manuel Araújo, do Chefe da Missão Olímpica, José Garcia, e do Comandante do Navio Escola Sagres, Manuel Gonçalves.
A realização diária de eventos, assim como a presença regular de atletas da Missão Olímpica Portuguesa em convívio com os visitantes da Casa de Portugal e, simultaneamente, para contactos com comunicação social lusa que fará a cobertura mediática dos Jogos Olímpicos, a par dos encontros de âmbito comercial entre as empresas portuguesas que também “viajarão” na Sagres, criam expectativas de que Portugal está na frente de uma linha que pode marcar uma viragem inolvidável em todas as áreas, se se souber aproveitar o manancial de oportunidades que este facto proporcionará.
“É um grande prestígio para Portugal estarmos num país estrangeiro mas conseguirmos estar em território nacional quando a bordo do Navio Escola Sagres” – salientou José Manuel Constantino, frisando ainda que “é importante o apoio do tecido empresarial a este projecto para que seja uma iniciativa de sucesso, que simbolize a união do Portugal Desportivo com o Portugal Económico”.
O Almirante Luís Macieira Fragoso, explicou o desenrolar do processo e as expectativas da Marinha, recordando que “logo que o COP nos contactou iniciámos os trabalhos para viabilizar este projecto, procurando apoios que o concretizem. Esperamos no Brasil uma recepção entusiástica pois foi esse o acolhimento que o Navio encontrou sempre que esteve no Brasil. Estamos certos que teremos muitos visitantes, tanto portugueses, como brasileiros, como de outras nações”.
Quanto à história do Navio Escola Sagres, foi construído nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, tendo na altura sido baptizado de Albert Leo Schlageter. Foi o terceiro de uma série de quatro navios encomendados pela Marinha Alemã. O navio foi cedido à Marinha do Brasil no final da II Guerra Mundial, em 1948, tendo sido adquirido pela Marinha Portuguesa em 1961 para substituir a antiga Sagres.
Foi precisamente no Rio de Janeiro, a 30 de Janeiro de 1962, que decorreu a cerimónia oficial de entrega do Navio à Marinha Portuguesa. Esta aquisição visou dar continuidade à existência de um navio-escola veleiro na Marinha Portuguesa, para que pudesse ser assegurada a formação marinheira dos futuros oficiais, complementando-se assim as componentes técnicas e académicas ministradas na Escola Naval.
A guarnição é composta por 128 marinheiros, sendo nove oficiais, dezasseis sargentos e 103 praças.
Resta aguardar que as águas se mantenham calmas para se melhor desenvolver este projecto inédito em termos de Jogos Olímpicos para Portugal.