Mundial de Pequim
Para nós, portugueses, por certo que esta quinta-feira é de júbilo pela conquista de mais uma medalha (bronze) por parte de Nélson Évora – nem que seja a última neste mundial de Pequim – depois de três anos de “bolandas” mais ou menos graves em função das lesões que sofreu.
Nélson muito porfiou ao longo de todo este tempo, ganhando batalhas após batalhas e chegar ao primeiro lugar do mastro, com direito a ouvir o hino no mesmo estádio, sete anos depois de ali ter conquistado o título de campeão olímpico, aumentado o pecúlio (ouro, em 2007; prata em 2009 e bronze em 2015, no triplo, confirmando-se como uma atleta de eleição.
Começando o concurso dentro da “normalidade” com os 17,24 com que se apurou para o mundial, Nélson entrou em Pequim a fazer 17,28, o que era um bom princípio porque quatro centímetros acima do seu melhor, mas um nulo ao segundo ensaio terá feito “tremer” o campeão olímpico. Regressou com 17,25 mas novo “estremeção” surgiu com dois nulos seguintes, numa altura crucial para tentar chegar ao bronze, porque atingir a meta dos 17,70 metros era praticamente impossível. Mas dois nulos consecutivos podiam ter estragado a festa.
Mas Nélson forçou, preparou-se mentalmente, fez figas, procurou Nossa Senhora de Fátima pelo “Ninho do Pássaro” e, na verdade, o último ensaio foi uma obra quase prima (se o fosse na totalidade até podia ter chegado ao ouro) deste o início da corrida até à maior velocidade atingida na parte prevista para fazer uma chamada primorosa e uma impulsão tripla de excelente recorte técnico para os 17,52 bronzeados. Com sangue, suor e lágrimas, foi abençoado.
Uma curiosidade significativa foi o facto de os três primeiros terem atingido as melhores marcas no último ensaio do concurso, um feito que não é conseguido muitas vezes.
Nas eliminatórias dos 1.500 metros, Hélio Gomes passou despercebido ao classificar-se em 38º (entre 41 participantes) com um registo (3.46,32) para esquecer – tinha (e tem) como melhor 3.37,50 – mas o facto de ter esperado até à última para ser aceite pela organização, por certo que teve influência psicológica negativa.
Mas esta quinta-feira é, ainda, de grande brilho para mais alguns campeões, recordistas até quanto ao número de medalhas conquistadas, como foram os casos do imbatível jamaicano Usain Bolt (duplo ouro nos 100 e 200 metros), atingindo o primeiro feito entre todos, ao conquistar a quarta medalha de ouro nos 200 metros (19,55), ampliando ainda o seu recorde para doze medalhas, dez das quais de ouro.
Algo “desaparecido” ao longo da época – deixando o principal adversário (Justin Gatlin, o principal rival) a brilhar durante todo o ano – Bolt surgiu em Pequim para surpreender tudo e todos da forma como se viu.
Outra estrela que brilhou a grande altura foi a norte-americana Allyson Felix que surpreendeu logo à partida ao não se inscrever para os 200 metros (distância que domina há muitos anos) e preferir estrear-se nos 400. Foi ouro sobre azul, porque ganhou a aposta e mais uma medalha de ouro, a que juntou a melhor marca (49,26) mundial deste ano.
Entre Jogos Olímpicos e Mundiais são já treze ouros conquistados por esta jovem de 29 anos, que está para durar e criar mais surpresas no futuro.
Quarta nota para a queda do primeiro recorde dos campeonatos ao fim do sexto dia de provas, proeza cometida pela polaca Anita Włodarczyk, que enviou o martelo a 80,85 logo no primeiro ensaio, quase que garantido logo aí o ouro mundial.
Nas quatro finais desta quinta-feira, a polaca Anita Włodarczyk conquistou o ouro no lançamento do martelo (80,85), com um novo (e até agora único) recorde do campeonato, deixando bem longe de si a chinesa Wenxiu Zhang (76,33) e a francesa Alexandra Tavernier (74,02).
Nos 400 metros, a novidade com a estreia da rainha dos 200 metros – a norte-americana Allyson Felix – a vencer com a melhor marca (49,26) mundial deste ano, à frente de Shounae Miller (Bahamas), com 49,67 e da jamaicana Shericka Jackson, com 49,99.
No masculino, o norte-americano Christian Taylor ganhou o ouro no triplo salto (18,21, a terceira melhor marca mundial de sempre), à frente do cubano Pedro Pichardo (17,73) e de Nélson Évora com brilhantes 17,52.
Para terminar, mais um “show” do jamaicano Usain Bolt ao vencer os 200 metros no melhor tempo (19,55) mundial do ano, relegando o dominador desta época, o norte-americano Justin Gatlin para segundo lugar (19,74), tendo o sul-africano Anaso Jobodwana sido terceiro, com um novo recorde (19,87) do seu país.
No final deste sexto dia, o Quénia mantém a liderar nas medalhas (6 de ouro, 3 de prata e duas de bronze), seguido dos Estados Unidos (3-4-5), da Jamaica (3-0-2) e G. Bretanha (3-0-0), os únicos países com três medalhas de ouro cada.Com duas de ouro estão a Polónia (2-1-3) e Cuba (2-1-0).
Nos pontos, os Estados Unidos da América mantêm-se firmes na liderança, com 141, à frente do Quénia (108), da Jamaica (67), da Alemanha (63), da China (49), da Polónia (47) e da G. Bretanha (46).
Para esta sexta-feira, Portugal tem mais uma hipótese, quiçá a única, de poder voltar a brihar, se tudo correr bem a Ana Cabecinha, a melhor marchadora portuguesa da actualidade e que já foi 7ª no mundial. Espera-se que assim seja.
Com ela estarão ainda Inês Henriques e Vera Santos.
Num dia em que se dá início à competição dos mais fortes (o Decatlo), lugar ainda às finais dos comprimento, 200 e 100 metros barreiras no sector feminino e dos 110 metros barreiras no masculino.
Quanto aos portugueses para os dois dias finais deste campeonato são:
Sábado (29) – Pedro Isidro na final directa dos 50 km marcha (00h30);
Domingo (30) – Filomena Costa na final da maratona (00h30).