Ao quinto dia da Volta, Filipe Cardoso foi o vencedor, ao mesmo tempo o primeiro português e, por isso, todos nós nos regozijamos com isso, porquanto não sendo um especialista em montanha, ganhou a quarta etapa, num misto de velocista e “fundista alpinista”, que este domingo se desenvolveu entre Arouca e Mondim de Basto.
“No dia em que tiver medo de arriscar deixarei de ser ciclista” foram as palavras que Filipe Cardoso proferiu no final da etapa, o que vem provar que, afinal, podemos ser “especialistas” de muitas coisas para as quais, antecipadamente, temos algum receio … ainda que sem experimentar.
Na vida, há estratégias para (quase) tudo. E foi por via disso que Filipe arriscou. De rolador/”finisher” passou para o tal “fundista/alpinista”, unindo estas qualidades numa só prova, o que veio a dar num triunfo justo, pese embora se encontre em 36º lugar da geral, a 8.15 do líder.
E a estratégia explica-se sobretudo pela vantagem obtida na descida após a contagem de primeira categoria na Barragem do Alvão – quando ainda faltavam 44 quilómetros para a chegada. Nesse momento destacou-se de Bruno Silva (LA Alumínios-Antarte), com quem andou fugido, e como é exímio a descer a alta velocidade conseguiu ganhar a vantagem que lhe garantiu o sucesso não sendo especialista na montanha. É caso para se dizer que também se ganham etapas a descer … para uma montanha que surge logo à frente.
Do grupo de oito corredores em fuga quase desde a partida, destacou-se o líder da Camisola Azul Fundação do Desporto, Bruno Silva (LA Alumínios-Antarte). O grupo conseguiu rolar junto durante 93 quilómetros, mas as dificuldades da tirada começaram a fazer mossa.
Bruno Silva conseguiu ganhar três das quatro contagens mas, a sós com Filipe Cardoso, ainda rolou cerca de 20 quilómetros até ao momento em que surgiu a descida “louca” do adversário que fugiu para a vitória.
Arriscou e petiscou, como diz o ditado. Filipe completou os 159,4 km da etapa em 4.26.14, o mesmo tempo atribuído aos 2º e 3º classificados.
Metro a metro, o corredor de 31 anos, foi conquistando este triunfo trepando sozinho os oito quilómetros da subida ao mítico Monte Farinha e teve ainda a felicidade de, no final, ver Jóni Brandão, seu companheiro na Efapel, terminar em segundo na etapa e com esse resultado chegar ao terceiro lugar da classificação geral.
Com o triunfo Filipe Cardoso passou a liderar a classificação por pontos (53 contra 52 de Gustavo Veloso) e enverga a Camisola Vermelha Banco BIC. A “teimosia” de Cardoso valeu-lhe ainda o Prémio de Combatividade Conselheiros da Visão, numa etapa em que desistiram três ciclistas, reduzindo para 114 o número de corredores em prova.
Num dia de importância crucial para as contas da Volta, o Camisola Amarela Liberty Seguros, Gustavo Veloso (W52-Quinta da Lixa) confirmou o favoritismo e conseguiu dilatar um pouco mais a vantagem ao terminar na Senhora da Graça em terceiro lugar, com o tempo do vencedor.
O galego passou a ter 17 segundos sobre o compatriota e companheiro de equipa, Delio Fernández, e 35 segundos sobre Brandão. Até agora, Gustavo Veloso já foi segundo duas vezes e fez dois terceiros lugares. Por essa razão assume a ambição que tem em vencer novamente a Volta a Portugal.
Quanto às equipas, a W52 – Quinta da Lixa continua a liderar, com um total de 57.05.37, estando a LA Alumínios-Antar a 1.49 e o Louletano-Ray Just a 2.33.
A 5ª etapa ligará, esta segunda-feira, Braga e Viana do Castelo, numa distância de 169,4 km, com a partida a ser dada pelas 12h50, num percurso onde o espectáculo das chegadas em alto continuará na 77ª Volta a Portugal Liberty Seguros.
Dois anos depois, o monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, um dos “ex libris” da cidade do Lima, regressa à competição, desta vez com primazia para a freguesia de Palmeira, de onde é natural Peixoto Alves, vencedor da Volta em 1965.
Um prémio de Peso
Uma das maiores preocupações de um profissional do ciclismo é o peso. Cuidados com a alimentação ou com a massa gorda e muscular são essenciais para que tudo dê certo nas alturas decisivas.
Este ano, a Volta a Portugal dá especial destaque ao peso dos corredores. Diariamente, o vencedor de cada etapa é pesado numa balança colocada junto ao pódio. A marca NOBRE oferece o peso do corredor em produtos a uma Instituição Particular de Solidariedade Social selecionada por cada município que recebe os finais de etapa.
Dos cinco homens que venceram etapas e que foram à balança, o mais pesado foi exatamente o do arranque da Volta. Gaetan Bille (Verandas Willems) registou na balança 70,6 quilos. O mais leve até agora foi Vicente de Mateos (Louletano-Ray Just Energy) com 65,5 quilos. Filipe Cardoso, que triunfou este domingo no alto da Senhora da Graça, pesou 69,1 quilos.