Salomé Afonso, com a conquista de uma segunda medalha (bronze), alcançou um êxito inédito a nível dos europeus de pista (coberta) curta, alcançando um feito nunca conseguido, pelo que se pode considerar como uma atuação imperial!
A prata nos 1.500 metros e a de bronze nos 3.000 metros, não tanto pelos resultados técnicos mas pela força mental e física, com resistência e resiliência, foram o corolário de uma atleta que se superou a si própria, ficando-se na expetativa do que irá acontecer no mundial de pista curta, no final deste mês de março, para se tirar a “prova real” da categoria que ora demonstrou, como também para os restantes elementos da equipa nacional que possam estar presentes nessa competição.
Aliás, como é público, muitos dos principais atletas internacionais (a que se junta o nosso Pedro Pichardo e outros e o recordista mundial do salto com vara, Armand Duplantis) residentes na Europa não foram a este europeu, resguardando-se para o mundial.
Na competição que terminou, este domingo, em Apeldoorn (Países Baixo), Salomé Afonso, nos 3.000 metros e Auriol Dongmo, no lançamento do peso, fixaram a conquista de quatro medalhas para Portugal, uma de prata e três de bronze, onde apenas sete equipas conseguiram mais, e alcançou a maior pontuação de sempre (45 pontos), ocupando o 9º lugar da tabela.
Salomé Afonso quebrou há dois dias a “malapata” das medalhas e, não contente, arriscou tudo e depois de duas corridas de 1.500 metros, com a medalha de prata, conseguiu partir para novo desafio, com mais duas corridas de 3.000 metros (9000 metros no total dos quatro dias).
Na final atribulada dos 3.000 metros, Salomé Afonso nunca se intimidou e esteve sempre bem colocada para poder discutir as medalhas nos últimos 50 metros, onde ultrapassou a espanhola Marta Garcia, para conquistar a sua segunda medalha destes campeonatos, a sua segunda de sempre, tornando-se a primeira portuguesa de sempre a obter duas medalhas numa mesma edição de campeonatos europeus.
Ao site da FPA referiu que “ontem falámos nisto, que sem dúvida é um bocadinho como passar à final, a primeira vez é que custa mais, depois o cérebro muda o “chip” e diz, é possível, é possível, com muita crença, foi caótica, em que sinceramente pensei em muitas coisas, ao longo da prova pensei em eliminar pensamentos, porque foram muitas quedas, muitos contatos, muita dificuldade em me posicionar, foi tudo o que não queria fazer, mas foi chegar aos últimos 40 metros e pensar, é possível. Vamos lá Salomé, é deixar tudo aqui. E sem dúvida deixei tudo aqui nesta pista”.
E prosseguiu: “antes queríamos passar à final, no ano passado consegui fazer isso nos mundiais de pista coberta, depois cheguei à final dos Europeus em Roma, à meia-final dos Jogos Olímpicos e agora ganhei medalhas europeias e o próximo passo é manter esse nível e ir aos mundiais, tentar uma medalha global, sabemos que é difícil, que o nível está muito elevado. Nós nunca sabemos quando será o nosso dia, será o nosso campeonato, um dia vai cair para uma, outro para outras. E temos de estar prontas na nossa oportunidade”.
Salientou que “não fazia ideia que era a primeira portuguesa a ganhar duas medalhas. Pensava que outros atletas o tinham feito, não quero referir nomes, mas um tal Isaac Nader pode fazê-lo, acho que fui um bocadinho mais ousada nestes campeonatos, fui a primeira, mas acho que outros poderão repetir”.
A segunda medalha de bronze da tarde foi obtida por Auriol Dongmo, no lançamento do peso. A recordista nacional e bicampeã europeia, regressada à competição após prolongada recuperação de lesão, conseguiu lançar a 19,26 metros ao segundo ensaio e garantiu o terceiro lugar, com outra portuguesa, Jéssica Inchude, a terminar no quinto lugar, com a marca de 18,91 metros conseguida também no segundo ensaio. Arriscando tudo, Jéssica não conseguiu acertar mais nenhum ensaio.
Assim, a medalhada (bronze) foi Auriol Dongmo, que já se sagrara bicampeã europeia e que referiu: “claro que o meu objetivo era subir ao pódio, eu e o meu treinador não estávamos a olhar para a marca, mas acabo feliz por conseguir a melhor marca do ano e subir ao pódio”, tendo acrescentado que “toda a gente sabe que eu gosto da medalha de ouro, mas esta medalha de bronze tem um grande sabor, porque vem de muito pouco tempo de trabalho, depois de prolongada lesão e de gravidez. Normalmente eu ficaria muito chateada por esta medalha de bronze, mas graças a Deus, consegui subir ao pódio”, referiu.
No meio da alegria, uma pontinha de tristeza. “Tenho de referir que estou triste pela Jéssica, porque ela merece mesmo subir ao pódio. Também a Eliana já merece ir a uma final. Hoje fiquei com este sabor amargo, mas acredito que a Jéssica vai subir ao pódio”, concluiu.
Jéssica Inchude salientou que “esta final tem um sabor agridoce, porque comecei bem a prova, mas as minhas adversárias, como eu disse ontem, podiam surpreender. Ninguém deu o seu máximo ontem e hoje fizeram um bom concurso. Fiquei em quinto, fui ultrapassada no último lançamento. Eu estava um bocado tensa, corrigi o que tinha de corrigir, mas acho que me dispersei um pouco a meio da competição. Foi o que deu, algum dia será o meu dia”.
Miguel Moreira participou na sua primeira final em Campeonatos da Europa. Nos 3000 metros, com a presença do norueguês Jakob Ingebrigtsen, a prova começou lenta, mas conheceu diversas mudanças de velocidade à medida que os metros eram ultrapassados. O português esteve bem na corrida até aos últimos mil metros e, aí, não conseguiu ter mudanças suficientes para subir mais lugares na classificação, terminando no 12º lugar com 7.59.81.
Numa análise à presença em Apeldoorn, Miguel Moreira afirmou que “o dia de ontem foi muito positivo, porém hoje saio muito triste. Último era mesmo o último lugar em que eu pensava ficar. No entanto, andei ali com os melhores, numa realidade diferente. Agora quero usar isso para me motivar ainda mais nos treinos, porque para a próxima tem de ser diferente”, acrescentando que “vou tentar perceber como foi esta prova, tentar lembrar-me das sensações que tive, para poder treinar de forma a ter respostas para estas finais”.
Lorene Bazolo ficou-se pelas meias-finais dos 60 metros. Foi quarta classificada na sua corrida, com a marca de 7,21 segundos, ficando em 14º lugar em 40 concorrentes.
“Foi uma boa corrida, mas acho que nunca corri tão rápido em campeonatos. Fica em suspenso melhorar o recorde pessoal. Tenho-me sentido muito bem, mas basta um pequeno erro para pagarmos no fim. Sinto que o tenho nas minhas pernas, mas não aconteceu. Estou grata, cheguei aqui muito feliz, estou a sair com saúde e isso é que importa”, afirmou a atleta.
Voltou a frisar que nunca correu “tão rápido, quer em Europeus, quer em Mundiais, acho que tinha 7,24 segundos, agora foi mais rápido”, referiu ainda.
No que foi, globalmente, a melhor presença em europeus de pista curta, fica a responsabilidade de melhorar ainda mais, aproveitando o maior leque de escolhas que existe e vai aumentar de talentos que se tornam realidade cada vez mais rapidamente.