Com Mariana Machado e Miguel Moreira em destaque, ao ponto de Portugal conseguir os melhores resultados da última dezena de anos nas competições internacionais de crosse, parece que a Federação Portuguesa de Atletismo terá encontrado o fio à meada para o futuro.
“Quem não arrisca não petisca” – como diz o ditado – Maria Machado e Miguel Moreira souberam superar-se num terreno algo “irregular” (o que é normal em crosse), pelo que voltaram a estar a grande altura, em especial a excelente aluna de medicina e filha da campeã dos anos noventa, Albertina Machado.
Mariana Machado terminou a prova com 26.13, numa corrida em que a italiana Nadia Battocletti dominou (25.43), no que foi uma brilhante “estreante” na prova sénior, tendo conseguido o melhor resultado de uma atleta portuguesa desde 2013, quando Dulce Félix foi ao pódio. Foi uma corrida em que a portuguesa andou num grupo da frente, conseguiu estar sempre no ritmo para fechar na sexta posição.
Mariana referiu que “foi uma prova dura. Num percurso que parece mais fácil mas que teve muitas quebras de ritmo, mas lutei até ao fim, tentei manter-me num grupo que estava na luta, tinha algumas forças que usei para ultrapassar duas atletas na reta da meta, e estou satisfeita com a minha estreia e com a minha equipa que tenho a certeza que deu o seu melhor ao longo destas cinco duras voltas, por isso estou muito orgulhosa, isto é apenas um recomeço e estamos a trabalhar para conseguir melhores resultados no futuro”.
Depois de Mariana Machado, chegou Laura Taborda (34º, com 27.07), enquanto Marta Pen Freitas chegou em 50º lugar (27.41), mostrando o porquê da sua convocatória. Com ela Portugal fechou a classificação coletiva no 9º lugar, com 90 pontos.
Mais para trás, ficaram as outras três portuguesas: Vanessa Carvalho (55ª, com 27.49; Neide Dias (58ª, com 24.16 e Solange Jesus (69ª, com 28.28).
Na principal competição masculina, onde o grande favorito, o norueguês Jacob Ingebrigtsen, confirmou o seu estatuto, que chegou destacado no final com 22m16s, com o melhor português, Miguel Moreira, a não se deixar ludibriar e conseguiu manter-se numa posição confortável, para terminar em 13º lugar, com 22.51, a melhor classificação de um atleta português desde 2010.
Contaram também para a equipa (10º lugar, com 115 pontos) os atletas André Pereira (43º, com 23.31) e Etson Barros (55º, com 23.56).
O primeiro a não pontuar foi João Pereira, vítima de duas quedas, com esfoladelas e hematomas, ainda assim fechando em 62⁰ (24.02). Nuno Pereira (68.⁰, com 24.16) e Ruben Amaral (70.⁰, com 24.24), completaram a formação lusa.
“Foi uma prestação honrosa, o circuito parece mais fácil do que é. Houve dificuldades que não estávamos a prever, mas é normal, porque correram muitas pessoas antes e também houve chuva na noite anterior. Foi muito disputada, não havia espaços vazios, era um comboio enorme, um ritmo arrasador desde o início, com aquela reta enorme a princípio, e os nossos adversários levaram-nos até ao nosso limite”, referiu Miguel Moreira.
Fantástico foi o final da estafeta mista, decidido no sprint final, com as três primeiras formações, Itália, França e Grã-Bretanha a terminarem todas com o mesmo tempo: 18m02s. Quanto à formação portuguesa, que correu com muita determinação, terminou em 9º lugar, com o quarteto composto por José Carlos Pinto, Patrícia Silva, Marta Castro e Rodrigo Lima a chegar à meta em 19m04s.
Patrícia Silva demonstrou o sentimento da equipa, salientando que “estou muito feliz por representar Portugal mais uma vez, acho que trouxemos uma equipa muito capaz, para representar o nosso país da melhor forma. O circuito foi duríssimo, muita lama, areia, desníveis. Nós somos quatro atletas de pista, mas viemos cá dar o nosso melhor, num percurso que não favorece nenhum de nós. Quero dar os parabéns ao Rodrigo Lima, que fez um percurso excelente, recuperando muito, e obrigado Portugal por nos trazerem cá. Estamos sempre disponíveis para representar o nosso país”.
A prova masculina de sub-23 proporcionou outro grande despique emocionante, com tudo a decidir-se na reta final, onde Will Barnicoat se impôs, cortando a meta em 18.27, um segundo menos que os adversários. Entre os portugueses, grande prova de João Amaro, que até poderia ter conhecido melhor desfecho, já que o português acusou um pouco o forte andamento (que provocou “dor de burro” na terceira volta), afirmou, mas conseguiu recuperar até terminar em 21º lugar (19.04), ultrapassando Duarte Santos (22º, 19.05), que fez uma boa prova. Faltou uma melhor finalização de João Pais (42º, 19.23), para Portugal terminar uns lugares mais acima. Ainda assim a seleção fechou no oitavo lugar, com 85 pontos (mais cinco pontos que o sexto lugar).
Os jovens Leandro Monteiro (51º, 19.44) e Ruben Pires (57º, 19.52) fecharam a prestação portuguesa.
João Amaro deu conta do sentimento coletivo, partindo da sua experiência pessoal, ao afirmar que “decidi partir com mais cautela, mas a prova foi muito rápida. Tentei resguardar-me um pouco, mantendo o lugar, recuperar alguma energia e na última volta consegui voltar a correr melhor, recuperei alguns lugares, num percurso muito difícil, mas sentimos que demos o nosso melhor”.
Na prova feminina de sub-23, grande domínio da britânica Phoebe Anderson, que triunfou em 21m16s. Petra Santos foi a melhor das portuguesas (41ª posição, em 22m49s), seguindo-se Rita Figueiredo (49ª, 22.58) e a estreante Beatriz Rios (56ª, 23.13). Foram elas a pontuar para a equipa, que foi 13.ª, com 146 pontos. Registe-se as prestações de Alexandra Canedo (68ª, com 24.12), Diana Fernandes (70ª, 25.02) e Ana Silva (71.ª, 25.08).
Na corrida feminina de sub-20, uma atleta turca andou na frente durante parte da primeira volta, mas em breve as britânicas vieram para a liderança e assim se mantiveram até ao final, com Innes Fitzgerald a triunfar isolada, em 15m47s. A madeirense Solange Nunes, estreante nestas competições, acabou por ser a melhor representante lusa, terminando no 48º lugar (17.28), subindo vários lugares volta a volta, ultrapassando Lara Costa (56.º lugar, com 17.37) e Stela Fernandes (não terminou a prova), que foram as melhores portuguesas nas primeiras voltas. Muito bem esteve a mais jovem do grupo, a ainda sub-18 Cátia Khvas, que foi 64ª (17.49). As três colocaram Portugal no 13º lugar, com 168 pontos. Fora da pontuação coletiva, Carlota Almeida terminou foi 79ª (18.15), enquanto Beatriz Azevedo foi 81ª (18.18).
A corrida masculina em sub-20 foi diferente da feminina, com muitos atletas na frente e chegada ao “sprint” do claramente favorito, o neerlandês Niels Laros (14m07s).
André Barbosa foi o melhor português, no 42º lugar, com 14m45s, “vingando” a desistência do ano passado. Dois lugares depois, chegou Alexandre Lucas (14.46) e pouco depois Tiago Jorge (46º em 14.48), com ambos a fecharem as contas da equipa, 13ª com 132 pontos. Fora da pontuação coletiva, chegaram o campeão nacional, Manuel dos Santos (55º, 14.56), Pedro Rodrigues (57º, 14.58) e Rui Mineiro (67º, 15.09).