Este domingo, a cidade de Guimarães acolhe a 101ª edição dos Campeonatos Nacionais de Corta-Mato, onde, uma vez mais, Sporting e Benfica vão lutar pelos títulos no masculino e no feminino, numa história que vem de longe e que se repete, ainda que os anos dourados dos leões tenham vindo a “empalidecer” nos últimos tempos, no que aos homens diz respeito.
Em termos históricos, o Sporting é o grande dominador, somando 49 títulos. A esmagadora maioria destes títulos foram conquistados no século passado e a hegemonia leonina conheceu largos períodos, o mais marcante deles foi entre 1965 e 1974 com dez títulos consecutivos. Oito anos depois iniciou novo ciclo (até 1989) e oito triunfos consecutivos.
O Benfica, somou 25 títulos, 19 deles no século XX. Contudo, no início deste século, estas duas formações históricas não conseguiram sobrepor-se a outros clubes, nomeadamente o Maratona Clube de Portugal (que começou a coleção de 11 títulos ainda nos anos 90 do século passado) e o Grupo Desportivo e Recreativo da Conforlimpa (seis títulos).
Porém, a partir da segunda década do século XXI (2013), os dois “grandes” de Lisboa voltaram a dar cartas. Primeiro o Benfica, com três títulos consecutivos, depois o Sporting, com cinco títulos consecutivos, e de novo o Benfica, campeão consecutivo nas três últimas edições.
Ao longo de 100 edições do corta-mato, em 113 anos de competição, vários atletas foram marcando a sua época de triunfos, mas nenhum deles foi tão marcante quanto Carlos Lopes.
Entre 1968 e 1985 (17 anos!) o viseense, que nasceu para o atletismo no Lusitano de Vildemoinhos, subiu 14 vezes ao pódio (nunca abaixo do segundo lugar), conquistando 10 títulos nacionais. Na década de 70, o atleta do Sporting venceu oito vezes, perdendo apenas em 1975 (adoentado) para Aniceto Simões e em 1979 para Fernando Mamede.
Lopes dominou em mais de duas décadas. Entre o seu primeiro (1970) e último título (1984) mediaram 24 anos! Contudo, Lopes foi “obrigado” a partilhar com outro grande atleta português, Fernando Mamede. O alentejano representou o Sporting Clube de Portugal durante 23 épocas, teve como pontos altos os recordes da Europa (por duas vezes) e do Mundo dos 10 000 metros, e triunfou seis vezes, os pontos altos de 15 (quinze) presenças nos pódios!
Antes deles, houve outras grandes figuras do crosse. Primeiro, Manuel Dias. O corredor do Sporting, ardina de profissão, começou as suas lides atléticas como ciclista, mas depressa se dedicou ao pedestrianismo. Na sua carreira conquistou cinco títulos, os mesmos de Manuel Faria, que até integrou a primeira seleção portuguesa no Crosse das Nações (1955). Faria venceu em cinco anos consecutivos.
Nos anos sessenta, surgiu outro nome, Manuel Oliveira, que naquele período conquistou os seus cinco títulos e subiu mais duas vezes ao pódio.
Sucedendo a Manuel Faria e antecedendo o enorme Carlos Lopes, Manuel Oliveira foi o grande fundista português da década de sessenta, somando títulos (16) e recordes nacionais (32).
No final da década de 90 e princípio deste século, três atletas dominaram o corta-mato em Portugal.
O mais titulado deles é Paulo Guerra, que venceu cinco edições do crosse nacional. O barranquenho, no entanto, alcançou alto gabarito internacional, chegando ao terceiro lugar do Mundial de corta-mato e obtendo quatro títulos europeus de corta-mato.
A par, esteve também Domingos Castro. Cinco vezes campeão, ainda conquistou medalhas nos Europeus de Corta-mato. O terceiro elemento é Eduardo Henriques que somou quatro títulos nacionais. Domingos Castro (presidente) e Paulo Guerra (vice-presidente) estão neste momento à frente da Federação Portuguesa de Atletismo.
Nos anos mais recentes, têm sido vários os campeões nacionais, mas os nomes de Rui Pinto e Rui Teixeira surgem com mais referências nos pódios. No entanto, nos três últimos anos, Samuel Barata (duas vezes) e Etson Barros (uma) foram os campeões nacionais.
Os Campeonatos Nacionais de Corta-mato realizam-se no Parque do Desporto, em Guimarães, com as chegadas a efetuarem-se em plena Pista Municipal Gémeos Castro. Mais informações
Sporting de Braga e Maratona líderes no femininos
A inclusão das provas femininas nos Campeonatos Nacionais de Corta-Mato deu-se em 1967, na prova realizada em Lisboa, a primeira em que a competição decorreu conjuntamente. Depois, em várias ocasiões, os nacionais femininos realizaram-se separados dos masculinos, passando a organizar-se conjuntamente, a partir de 1995, cumprindo agora a 58ª edição.
Tal como na competição masculina, os primeiros clubes a destacarem-se foram o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal, mas tudo se alterou em 1976, altura em que as fundistas portuguesas eram originárias do Porto e por isso Futebol Clube da Foz (três títulos) e Futebol Clube do Porto (quatro títulos) dominaram a competição até 1983, ano em que a hegemonia do corta-mato se mudou mais para norte, com o Sporting Clube de Braga a conquistar nove dos seus 12 títulos entre esse ano e 1992. Nessa época apenas perdeu para o Benfica em 1990. Em 1993 surgiu o Maratona, primeiro como Clube da Maia, depois como Clube de Portugal, que conquistou 20 triunfos em 21 edições, baqueando apenas em 1999 para o Sporting de Braga conquistar o seu 10.º título.
Com a suspensão da equipa feminina do Maratona, em 2014 voltaram aos triunfos os clubes de Lisboa, com o Sporting a conquistar seis dos seus nove títulos e o Benfica a fechar os seus oito títulos. Nas duas últimas edições registe-se o regresso do Sporting de Braga aos triunfos.
Em termos individuais, a atleta mais titulada é Rosa Mota, que somou oito títulos, entre 1975 e 1985, sendo ela a grande figura dos anos 70, a par de Aurora Cunha, que entre 1979 e 1986 conquistou quatro títulos, tantos quantos a primeira campeã nacional, Manuela Simões, que venceu as quatro primeiras edições do corta-mato feminino.
No final dos anos 80 e princípio dos anos 90, duas minhotas dominaram a prova: Conceição Ferreira, que venceu quatro vezes, e Albertina Machado, triunfal em duas ocasiões.
Contudo, entre 1992 e 1995, uma atleta atingiu enorme projeção no corta-mato. A portuense Albertina Dias venceu apenas três vezes os nacionais, mas brilhou internacionalmente nos Campeonatos Mundiais de corta-mato subindo três vezes ao pódio conquistando uma medalha de ouro, outra de prata e uma outra de bronze.
Depois surgiu Fernanda Ribeiro, que já se destacara nos escalões mais jovens, e em 1996 conquistou o primeiro dos seus quatro títulos consecutivos, conquistando ainda mais um em 2003, intercalada pelos três títulos consecutivos de Carla Sacramento.
Neste século surgiu outro grande nome do corta-mato nacional, a vimaranense Dulce Félix, que conquistou seis títulos consecutivos entre 2010 e 2015, voltando a triunfar em 2019. Um ícone do corta-mato que sucedera a Anália Rosa (dois triunfos) e Jessica Augusto, que conquistou quatro títulos, sendo que venceu três vezes entre 2006 e 2009, e voltou a vencer em 2017 (pelo meio sagrou-se campeã da Europa de corta-mato).
Salomé Rocha (dois triunfos) e Catarina Ribeiro (um título) conquistaram durante o final do “reinado” de Dulce Félix, e nas três últimas edições, fulgurante, surgiu outra minhota: Mariana Machado. Filha de Albertina Machado, a jovem bracarense já conquistou três títulos consecutivos (ultrapassando mesmo o pecúlio da sua mãe).