Europeu de Zuriqu
Na verdade, foram duas as medalhas conquistadas, se bem que em termos de campeonato apenas uma (bronze) vale e é isso que foi importante para Portugal marcar mais uma participação positiva, mas aquém das (melhores) previsões.
A outra (prata) foi alcançada numa competição paralela (Taça da Europa da Maratona, neste caso feminina), que é o somatório da ordem de chegada de três atletas, o que os homens não conseguiram.
De uma forma geral, era crível que – segundo o ranking europeu – se esperava mais de Patrícia Mamona, Marco Fortes, Dulce Félix e mesmo Sara Moreira (ainda aqui com reservas fundamentadas) a caminho de uma medalha. Mas não aconteceu. Pese embora a boa prestação tida em função de alguns condicionalismos verificados.
Outros “desencontros” também se verificaram pelas condições atmosféricas (que prejudicaram os lançadores, os barreiristas e mesmo os saltadores), além de outros que não conseguiram sequer fazer os mínimos que tinham cumprido no período definido e outros ainda que não justificaram a presença, salvando-se, em especial a extraordinária actuação de Victor Ricardo Santos, ao bater o recorde de Portugal dos 400 metros por duas vezes (eliminatória e meia-final), que esteve, em termos de marcas, acima de toda a gente.
Houve um conjunto de estreias – uns que confirmam e outros que não – mas é bom destacar quem conseguiu, em termos globais, estar ao seu melhor nível (confirmando ou melhorando os “mínimos”), como o já referido Victor Ricardo Santos e a estafeta de 4×100 metros (masculino) composta por Diogo Antunes, Francisco Obikwelu, Arnaldo Abrantes e Yazaldes Nascimento, que também bateu o recorde de Portugal (38,79 contra os anteriores 38,88), não conseguindo melhor porque foi desclassificada na final, onde tinha chegado com o mérito do recorde, bem como Jéssica Augusto a nossa medalha de bronze na maratona.
O relevo vai ainda para João Almeida que, nos 110 metros barreiras, se superou e dos 13,91 (um centésimo a mais do que o determinado) passou para uns brilhantes 13,58, apenas a quatro centésimos da meia-final.
Em termos globais ainda, de salientar a prestação dos atletas que “pontuaram” para uma classificação colectiva tradicional (pontos para os atletas do 1º ao 8º lugar), como foram os casos da já referida Jéssica (bronze = 6 pontos), Sara Moreira (5ª nos 10.000 metros), Nélson Évora, Sara Moreira e Ana Cabecinha (6ºs no triplo, 5.000 e 20 km marcha, respectivamente), Marco Fortes (7º no peso) e Susana Costa, Edi Maia e Yazaldes Nascimento (8ºs no triplo, vara e 100 metros), o que originou um total de 24 pontos e que correspondeu ao 16º lugar entre 34 países pontuados, equiparando-se à Suíça (26), Croácia (24), República Checa e Bélgica (22), Sérvia (21) e Grécia (20).
Para Portugal, com um contingente de 44 atletas, a classificação, ainda que oficiosa, não é tão positiva quanto se esperaria, comparando com outras edições semelhantes (em termos de participantes, um recorde agora batido), por algumas das razões apontadas, ficando a dúvida se se justificou um elevado investimento.
Mas, no plano global, estes campeonatos também deram relevo a uma crise de meio fundistas e fundistas que existe a nível europeu, considerando que nos 5.000 e 10.000 metros se registaram finais directas o que não tem correspondência – para se formar uma classificação mais correcta – com aquelas que exigem duas ou mais eliminatórias.
Fecha-se, com a conquista de mais uma medalha, desta vez por parte de Jessica Augusto, o 22º Campeonato da Europa de Atletismo, elevando para 273 as medalhas conquistadas pelo atletismo nacional desde que, em Fevereiro de 1976, Carlos Lopes se consagrou como campeão mundial de corta-mato, no que foi a primeira de ouro.
Fica, por último, o registo dos resultados obtidos pelos atletas lusos neste domingo, com Ricardo Ribas a ser o melhor na maratona (10º com 2.15.43) e José Moreira a obter o 39º posto (2.24.23), enquanto Rui Pedro Silva e Hermano Ferreira desistiram.
Na final dos 4×100 metros, a formação nacional foi desclassificada, a par da Itália.
Em termos internacionais, destaque especial para o francês (de origem portuguesa) Yohan Diniz, que bateu o recorde mundial, europeu, do campeonato e francês dos 50 km marcha (3.32.33) – que teve a ousadia e grandiosidade moral de chegar ao fim com as bandeiras portuguesa e francces em cada uma das mãos, para o caso em homenagem aos avós, já falecidos e ao país onde nasceu e acolheu, tornando-se francês.
Também de salientar mais um duplo triunfo do bicampeão olímpico e mundial – agora também bicampeão europeu nos 5.000 e 10.000 metros, que é o britânico Mo Farah.
Para o ano será o mundial. De outra latitude, com mínimos mais exigentes e com Portugal a levar muito menos atletas.