Apesar da derrota frente à Chéquia, as comandadas de José António Silva vão marcar presença no Euro 2024, como um dos melhores terceiros classificados.
Portugal entrou para o último embate do Grupo 3, frente à Chéquia, carregado de ambição para marcar presença num Campeonato da Europa, 16 anos depois… o que acabou por acontecer, escrevendo uma página dourada na modalidade, que não acontecia desde 2008.
As comandadas de José António Silva ouviram o apito inicial sabendo que se encontravam no terceiro lugar do Grupo – com quatro pontos conquistados frente à Finlândia – e que no overall dos melhores terceiros eram as segundas classificadas.
A não qualificação das Lusas era praticamente impossível, já que partiam com um goal average negativo de 26, apenas atrás da Turquia que conquistou um ponto no empate com a Sérvia. As Ilhas Faroé estavam na mesma situação que Portugal (-26) e, de seguida, Grécia (-33) e Eslováquia (-41).
José António Silva deixou de fora deste encontro – onde pretendia vingança de uma derrota dura frente à Chéquia, em outubro passado, por quatro golos de diferença (26-30) – Matilde Rosa e Carmen Figueiredo.
Com Isabel Góis, Carolina Monteiro, Mariana Lopes, Mihaela Minciuna, Beatriz Sousa, Patrícia Rodrigues e Bebiana Sabino no set inicial, o técnico nacional apostou na troca da central e lateral esquerda face ao último encontro, o que acabou por trazer frutos, já que Mariana Lopes inaugurou o marcador na Chéquia e Patrícia Rodrigues da marca de castigo máximo colocou as lusas a vencer por dois.
Apesar da ajuda de Isabel Góis, aos cinco minutos estava tudo empatado a três golos na região boémia e, com a oportunidade de passar para dois golos, as Lusas acabaram por desperdiçar e permitiram, novamente, o empate ao adversário.
Com um golo de Bebiana Sabino e um roubo de bola de Beatriz Sousa, as comandadas de José António Silva conseguiram passar, novamente, para dois golos de diferença (4-6). Da marca de castigo máximo, Patrícia Rodrigues mostrou-se letal e ampliou para três, ao contrário das adversárias que falharam em face de Isabel Góis e Mihaela Minciuna deu continuidade ao bom momento, levando Bent Dahl, técnico norueguês, a parar o encontro, pela primeira vez, quando o marcador registava 4-8.
O treinador português fez sair Mariana Lopes e colocou em jogo Joana Resende; apesar disso Portugal acabou por sentir mais dificuldades no ataque e o mesmo era espelhado pelo adversário. Nesta altura, valia a prestação entre os postes das guarda-redes, de um lado Isabel Góis, do outro Sabrina Novotná e a diferença foi reduzida para três, com José António Silva a dar uso ao seu primeiro time-out.
Portugal voltou a sair melhor da paragem e chegou aos seis golos por Joana Resende, mas a arma forte foi Mihaela Minciuna com ações defensivas decisivas que permitiram às Lusas conquistar sete bolas à maior (6-13) – maior diferença registada em toda a primeira parte.
Bent Dahl voltou a parar o jogo, quando faltavam pouco mais de cinco minutos para o intervalo, e a paragem fez bem à Chéquia que impôs um parcial de quatro golos sem resposta e recolheu aos balneários com apenas três de desvantagem (10-13).
Na segunda metade, com posse de bola, Charlotte Cholevová reduziu para dois golos (11-13) e, após uma falha no ataque, Veronika Mala assinou o 12-13. Mariana Lopes acabou por marcar, mas Bebiana Sabino foi excluída e as checas voltaram a reduzir. As Lusas conseguiram ampliar para dois golos, mas a Chéquia não baixou a guarda e chegou ao empate com pouco mais de sete minutos volvidos.
A formação de Bent Dahl ainda passou para o comando, mas Patrícia Rodrigues empatou e um mau passe das adversárias deu a oportunidade a Mariana Lopes de recolocar Portugal na liderança (17-18). Nova falha no ataque das checas levou a mesma atleta a dar dois golos de vantagem (17-19) mas Natálie Kuxová conseguiu reduzir.
O encontro seguiu em parada e resposta e Portugal foi mantendo os dois golos de vantagem, quando faltavam pouco menos de 15 minutos para o final, mas Veronika Mala voltou a mostrar-se inspirada e empatou a 20 golos. A mesma atleta, em contra-ataque, coloca a Chéquia no comando levando José António Silva a parar o encontro.
Joana Resende teve a oportunidade de igualar, na marcação de livre de 7 metros, mas acabou por falhar e, apesar do golo de Patrícia Rodrigues, a Chéquia regressou aos dois golos de vantagem (23-21), com alteração na baliza portuguesa, com a entrada de Jéssica Ferreira. As checas voltaram a ampliar e o técnico português pediu paragem no tempo de jogo, mas que se revelou infrutífero já que não conseguiram recuperar até ao final (25-22).
Portugal conquistou uma vaga no Campeonato da Europa como o terceiro melhor terceiro classificado, atrás de Turquia e Ucrânia, ambas as equipas que conquistaram um empate nos seus grupos.
Mihaela Minciuna – 1 golo e 1 assistência, foi a MVP e Top Scorer: Mariana Lopes – 7 golos (70% de eficácia)
Bebiana Sabino, capitã da seleção nacional, mostrou-se bastante emocionada com esta qualificação ao afirmar que “acho que ainda não estou em mim, era um sonho e é público que eu jogo porque era isto que me faltava: um apuramento para o Campeonato da Europa. Finalmente conseguimos e agora vamos trabalhar para representar bem Portugal no Euro e que isso não seja somente esporádico, mas que seja o início de grande marco para o andebol feminino português. Este apuramento não é exclusivamente destas 18 jogadoras que estão aqui, é de jogadoras que também fazem parte deste grupo, jogadoras que ao longo de todo estes percursos, nos últimos 16 anos, também lutaram e trabalharam imenso por conseguir isto. E finalmente conseguimos, e eu estou aqui a representar-vos a todas vocês com muito orgulho.”
José António Silva, técnico desta formação, acredita que este será um momento muito importante para o futuro do andebol feminino, tendo referido que “espero que signifique um incremento grande para o nosso andebol. Estas jogadoras e outras que fazem parte deste lote, e outras que todos os dias dão o seu melhor para jogar a modalidade que amam e jogar ao mais alto nível de preferência, merecem que todos nós façamos esforço enorme para lhes criar melhores condições para elas continuarem a evoluir. Espero que esta qualificação seja de facto um momento marcante na evolução do andebol feminino em Portugal. E, portanto, tem que merecer o esforço, o empenhamento delas, o compromisso delas, destas que aqui estão e de outras, tem que merecer um tratamento recíproco e nós temos que dar o máximo para as defender e para as ajudar.”
Sobre esta participação no EHF Euro 2024, 16 anos depois, o técnico (58 anos) acredita que “Portugal tem que para ir para lá para aprender, para melhorar o seu jogo, para melhorar a sua eficácia. Mas antes de pensarmos no Europeu, temos que pensar em toda a preparação: nós temos que melhorar as nossas atletas do ponto de vista técnico, físico, também, claro, do ponto de vista da tática e da estratégia, mas fundamentalmente nos dois primeiros fatores, e temos estes meses para fazer investimento forte. Eu sei que elas que vão responder a esse desafio. Agora, nós todos, clubes, federação, treinadores, todos nós temos de responder àquilo que são os naturais anseios que elas vão certamente demonstrar.”
Recorde-se que vão estar presentes neste euro’2024 os dois primeiros classificados de cada um dos oito grupos dos Qualifiers, mais os quatro melhores terceiros, para além das co-organizadoras já apuradas (Áustria, Hungria e Suíça) e da Noruega, Campeã da Europa em título.