Paul Wylleman, professor de psicologia na Vrije Universiteit Brussel e colaborador do Comité Olímpico da Bélgica, abordou o tema numa sessão realizada pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), em mais uma ação das “Power Talks”, da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO).
José Manuel Araújo, secretário-geral do COP, congratulou-se com a presença do referido técnico frisando que “estamos muito satisfeitos por ter connosco um perito como Paul Wylleman, capaz de partilhar as suas práticas nesta área”, enquanto Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, reforçou a importância de realizar as “Power Talks” sobre a transição de carreira, tendo referido que “são vários os desafios com que os atletas se confrontam nesta área, mas nem todos sabem como preparar-se para esta fase, pelo que precisamos reforçar cada vez mais a nossa intervenção neste âmbito”, tendo Sidónio Serpa, psicólogo do COP, feito a apresentação curricular do palestrante, que conhece desde 1995.
Com experiência na equipa olímpica dos Países Baixos e a trabalhar atualmente com a Bélgica, Paul Wylleman começou por defender que, para atuar numa transição de carreira dos atletas sem crises, é necessário “entender o passado para preparar o futuro”, e elencou os muitos desafios que se colocam aos atletas em cada ciclo olímpico, tal como, por exemplo, a pressão mediática que aparece episodicamente a cada quatro anos. Depois traçou os quadros de bem-estar mental, mal-estar mental e de doença, esclarecendo que é importante considerar “a perceção que o atleta tem da doença mental.”
Paul Wylleman sublinhou que neste processo é necessário “encarar o possível fim de carreira, a transição e a adaptação à transição”, e revelou que 80% dos casos de transição são bem-sucedidos.
“É preciso dizer que, às vezes, no desporto as coisas correm muito bem”, salientou. Mas nem sempre. Wylleman revelou que, no pós-carreira, 29% dos atletas de elite enfrentam problemas de ansiedade/depressão, 27% distúrbios alimentares, 23% consumo de álcool, 22% distúrbios de sono e 18% a sensação de angústia. E 16% apresenta, pelo menos, dois sintomas.
“A idade média para o fim de carreira de um atleta de elite são os 34 anos, mas varia muito em função da modalidade. Na ginástica acontece por volta dos 24 anos, na natação e na patinagem artística entre os 26 e os 29, mas na vela a carreira pode estender-se até aos 41 anos, e no golfe e nas disciplinas equestres o fim varia entre os 45 e os 56”.
As mulheres atletas de elite terminam primeiro as suas carreiras do que os homens atletas de elite, o que põe em perspetiva mais uma série de fatores que contribuem para a problematização da transição de carreira.
“Têm de entender a instabilidade que há numa carreira no desporto, temos de olhar para os fatores que nos empurram ou afastam do fim”, advertiu o psicólogo belga.
Finda a carreira, os atletas precisam estar preparados para problemas como “começar uma nova carreira, por baixo, ao lado de jovens. Esta fase exige saber comunicar forças e pontos fracos, criar rede de contactos, ter resiliência na carreira, autoconfiança e flexibilidade”, precisou Paul Wylleman.
As palavras finais do convidado da CAO foram para “o que os políticos não fazem nesta área”, e na verdade “podem fazer mais com pouco dinheiro. Não queremos dinheiro, queremos compreensão sobre o que significa o fim de carreira”, sublinhou Paul Wylleman. “Onde estão as políticas para os atletas de elite? E a consciência nacional sobre a contribuição que os atletas de elite deram à sociedade?” – questionou, a finalizar.