Há algum tempo em Lisboa, devido aos problemas de saúde por que passou nestes últimos tempos, um dos grandes desportistas angolanos, Rui Mingas, faleceu esta quinta-feira num Hospital da capital portuguesa.
Tendo tido oportunidade de o conhecer pessoalmente nos anos setenta, no final da sua carreira como atleta do Benfica – ainda que não tenha feito qualquer prova com ele, porque fui velocista mas sem barreiras – Rui Mingas, nascido em 12 de Maio de 1939, em Luanda (Angola), patenteou sempre não só a sua categoria atlética como um trato que, naqueles tempos, era de irmãos, independentemente do clube a que cada um pertencia.
Algo reservado, mas tendo uma simpatia comum a outros atletas negros – para o caso dos agora países africanos de expressão portuguesa, mas independentes – sempre se sentiu uma harmonia humana de alto grau, independentemente das questões de ordem política.
Após o regresso a Angola, nos finais dos anos setenta, voltei a encontrá-lo na bela capital angolana (Luanda), onde tive oportunidade de integrar um grupo de elementos do atletismo (Pedro de Almeida, que foi recordista nacional do salto em comprimento, com 7,62, era outro) que foram os percursores da nítida evolução da modalidade em Angola até ao dia da independência – 11 de Novembro de 1975), secundando o extraordinário trabalho desenvolvido por outro atleta negro, Demósthenes de Almeida – o “velho” Demo para os amigos – o grande formador da maioria dos atletas locais.
Dia após dia, no Estádio dos Coqueiros (ainda com pista de cinza), cimentou-se a amizade e o trabalho evoluiu de uma forma mais concertada, no que rendeu mais algumas dezenas de atletas para as seleções nacionais (portuguesas) – como Rui Mingas tinha sido enquanto esteve em Portugal – com encontros consecutivos e sucessivos em reuniões, recordando-se ainda o Prof. Aberto Quádrio ou o Prof. Daniel Leite, enquanto responsável máximo pela Escola de Instrutores de Educação Física e Desporto de Angola.
Antigo responsável pelos Desportos em Angola (tendo chegado a Ministro, de 1979 a 1989) e antigo embaixador de Angola em Portugal, poeta e músico da resistência angolana, autor da conhecida canção “Meninos do Huambo”, Rui Mingas, aos 84 anos, deixou-nos.
Mais que um ser Humano, Rui Mingas provocou grande mágoa entre todos com quem contatou e ou trabalhou, o que se deve realçar neste momento, em que desaparece um atleta que foi recordista nacional de Portugal (salto em altura, 1,88 e 1,90 em 1960) num despique cerrado com outro angolano, Júlio Fernandes – do Sporting – quando leões e águias disputavam os títulos nacionais ponto a ponto.
Na foto que ilustra este texto, Rui Mingas – numa das viagens que fez a Portugal, depois de ter
voltado a Angola para fundar a sua Universidade – está acompanhado pela agora viúva e pelo seu colega atleta, Júlio Pereira (800/1.500 metros) e do autor destas linhas.
Rui Mingas foi internacional português em nove encontros, em 110 metros barreiras e salto em altura, disciplina em que se sagrou campeão de Portugal e foi recordista nacional, recordando-se que iniciou a sua carreira no Clube Atlético de Luanda, representando o Sport Lisboa e Benfica, entre 1959 e 1972.
A música, a que depois se começou a dedicar com grande êxito, acabou por prejudicar a carreira atlética, que ficou muito aquém das perspetivas iniciais, ao modo de Barceló de Carvalho (mais conhecido por Bonga – cançonetista angolano de mérito e ainda em atividade), que chegou a recordista nacional dos 400 metros.
À família enlutada e aos amigos ficam sinceras condolências.