Terça-feira 23 de Novembro de 9030

José Manuel Constantino de Doutor Honoris Causa a futura (nova) condecoração presidencial

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Foi mais um dia feliz na vida do Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, depois de receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Lisboa ante uma multidão que, esta quarta-feira, se associaram ao evento.

O pavilhão da Faculdade de Motricidade Humana foi “polvilhado” pela melhor nata de professores formados, em especial, nesta instituição, que arrastou a presença de cerca de quatro centenas de cidadãos e cidadãs, concitando o especial interesse de Marcelo Rebelo de Sousa que, no decorrer do discurso final, precisou que “foi uma cerimónia inesquecível não só para José Manuel Constantino como também para todos os que aqui se encontram, face às múltiplas dimensões que o desporto abarca”.

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Marcelo Rebelo de Sousa não se coibiu de deixar ficar “escrito” que “pelo que tem feito, queremos que mantenha a sua vida, nesta ou noutra função, para continuar uma obra que ainda não está acabada, com a certeza de que aqui estarei para poder atribuir outra condecoração que será, como foi a anterior, inteiramente merecida!”

O Presidente da República, que presidiu à cerimónia salientou também que “o desporto português aprendeu consigo”, tendo considerado ainda que “é uma festa para a universidade e para o desporto português”, perante uma vasta plateia de professores, alunos, dirigentes das Federações Desportivas, autarcas e governantes, nomeadamente a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Correia, e ainda o presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, Vítor Pataco, familiares e muito amigos.

José Manuel Constantino, que estava acompanhado no palco pelo presidente da FMH, Luís Bettencourt Sardinha, pelo professor jubilado da FMH e companheiro da graduação completada em 1975, Carlos Neto, pelo reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira – que lhe impôs as insígnias de Doutor -, e ainda pelo presidente do Conselho Geral da Universidade de Lisboa, Carlos Pina, ouviu Marcelo Rebelo de Sousa a dizer que “dedicou a sua paixão ao desporto”, mas “a sua preocupação com o desporto foi muitíssimo além. O que publicou cobre praticamente todas as dimensões do desporto e, mais importante, influenciou o desporto português.”

O Presidente da República considerou igualmente que o Doutoramento Honoris Causa de José Manuel Constantino é “uma festa do espírito olímpico, porque o desporto mudou também para Portugal pela sua mão, como porta-voz do espírito olímpico”, por ter compreendido que esse espírito “podia ser mais internacionalista, mais aberto, mais global, mais pacífico, mais tolerante, mais dialogante, mais democrático, mais pluralista, mais progressista.”

Num registo mais pessoal, o Presidente da República destacou em José Manuel Constantino “o caráter e o espírito progressista. O caráter, às vezes, intratável. Ligeiramente intratável. Mas ainda bem que sim, sabendo enfrentar as situações mais difíceis, com a mesma hombridade, a mesma verticalidade e a mesma determinação. E, depois, o espírito progressista sempre virado para o futuro.”

E aqui Marcelo Rebelo de Sousa desafiou o presidente do COP a continuar a pensar nos tempos que se seguem: “Não faltam metas como o reconhecimento do desporto no meio público, de ir mais longe nas políticas públicas, não faltam até metas concretas olímpicas daqui a poucos meses. Espero que pense nelas, que nós pensamos e estamos descansados porque sabemos que está a pensar nelas.”

O Presidente da República concluiu com um agradecimento a José Manuel Constantino, muito aplaudido – que ter-se-á sentido “pequeno”, quase de lágrima no olho, comovido que estava pelas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa. “Não pode descansar, nunca descansou na vida. A sua vida foi feita de canseira ao serviço de Portugal. E, por isso, eu aqui estou para lhe agradecer, em nome de Portugal, esse passado de canseiras, mas apostar num futuro de canseiras que tem à sua frente.”

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O elogio de Carlos Neto

Coube a Carlos Neto, professor da FMH e antigo colega de José Manuel Constantino na licenciatura, fazer o elogio de José Manuel Constantino antes da imposição das insígnias de Doutor, considerando que este grau “deve ser atribuído a pessoas com um elevado prestígio científico, pedagógico e profissional e que se distingue com elevado mérito pelo seu percurso individual pelos serviços prestados ao País nos planos da vida social, politica e cívica”.

Acrescentou ainda que“José Manuel Constantino é um desses casos, e em boa hora a Universidade de Lisboa e a Faculdade de Motricidade Humana decidiram, de forma justa e oportuna, propor a atribuição do Doutoramento Honoris Causa através dos seus órgãos colegiais”.

Carlos Neto distinguiu aqueles que considerou serem os principais traços da personalidade de José Manuel Constantino, ao afirmar que “estamos perante uma pessoa invulgar pelo seu talento, rigor, responsabilidade, capacidade de liderança e um ser humano com grandeza nos princípios éticos, profissionais e relacionais. Uma pessoa em que a utopia não é impossível e atribui uma grande importância aos afetos, emoções e tomadas de decisão que não são completamente lineares como é apanágio dos grandes pensadores.”

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E foi mais longe, dizendo que “em todo o lado, José Manuel Constantino é conhecido como uma figura de prestígio nacional e decisivo na evolução do desporto nacional, pelo seu percurso ativo como cidadão, professor universitário, gestor de várias instituições públicas, capacidade extraordinária de trabalho e inovação e desenvolvimento de políticas públicas que promoveu e estendeu por vários organismos e instituições nacionais e internacionais”.

No elogio, aludindo ao homenageado, Carlos Neto adiantou também que “José Manuel Constantino é uma pessoa com uma personalidade sensível e segura, próxima e distante, atento aos acontecimentos do mundo, de pensamento crítico e acutilante, capacidade de escrita e discurso claro e fácil de entender e de uma cultura não inculta do ponto de vista científico, pedagógico e profissional, conjugado com um poder notável de empatia num mundo cada vez mais apático, valorizando as coisas simples da nossa existência quotidiana”.

O autor do elogio elencou o trabalho desenvolvido por José Manuel Constantino como professor, autor de livros e artigos, fundador da Revista Horizonte, gestor autárquico e presidente da Confederação do Desporto de Portugal, do Instituto do Desporto de Portugal e do Comité Olímpico de Portugal.

O agradecimento de José Manuel Constantino

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Nascido em Santarém, em 1950, o presidente do COP reviveu, no discurso feito, os primeiros tempos de estudante na Cruz Quebrada, onde se situa a FMH, criado como Instituto Nacional de Educação Física, depois substituído pelo Instituto Superior de Educação Física, as lutas estudantis e as influências recebidas do Maio de 1968, em França, lembrando também as suas principais influências: António Paula Brito, José Esteves, Teotónio Lima, Celorico Moreira, Noronha Feio e Melo de Carvalho, para além de José Gameiro, seu primeiro professor de educação física, ainda no secundário, em Santarém”.

“Recebo esta homenagem na casa onde me graduei em 1975, muito honrado por tão elevado galardão, justificado muito mais pela vossa generosidade do que pelos meus méritos”, disse José Manuel Constantino, agradecendo ao reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, e “na sua pessoa” a todos os doutores “e demais intervenientes” que consideraram adequada a atribuição do grau de Doutor Honoris Causa”.

Os agradecimentos foram extensivos a Marcelo Rebelo de Sousa e a Carlos Neto. “É um momento de alegria, uma alegria partilhada com todos os que acompanharam o meu percurso no meio académico, profissional e desportivo, mas é também um ato carregado de enorme responsabilidade figurar na galeria de personalidades notáveis e nomes incontornáveis da nossa história a quem a Universidade de Lisboa atribuiu este grau, nomeadamente perante o Presidente da República do meu País, que saúdo e a quem penhoradamente agradeço a presença. Recebo, por isso, esta homenagem, muito honrado por tão elevado galardão, justificado muito mais pela vossa generosidade do que pelos meus méritos. A minha segunda palavra é de reconhecimento ao Prof. Doutor Carlos Neto, que teve a seu cargo o pesado ónus de, na minha pessoa e no meu currículo, vislumbrar méritos bastantes para justificar, perante tão exigente assembleia e renomada universidade, a concessão do título de Doutor Honoris Causa.”

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O presidente do COP aproveitou a oportunidade para voltar a reafirmar uma das suas posições de princípio, expressa ao longo de anos, afirmando que “ver o desporto apenas como um meio para uma vida saudável ou para uma estetização do corpo, ou por perspetivas meramente terapêuticas, é diminuí-lo. O desporto não pode ser de todo visto apenas por estas lentes.” E sublinhou: “O desporto entendido como bem público cujos enormes benefícios se estendem bem para além do indivíduo que pratica esta atividade – e por isso objeto de apoio público e consagrado constitucionalmente como direito de todos os cidadãos – carece de ajustar o seu modelo de desenvolvimento às circunstâncias e dinâmicas sociais atuais.”

Recuperando uma citação do Barão Pierre de Coubertin – que está inscrita nas paredes da sede do COP -, José Manuel Constantino referiu que “um país pode considerar-se realmente desportivo quando a maior parte dos seus habitantes sente o desporto como uma necessidade pessoal”, para defender, em seguida, que “os problemas de literacia motora e desportiva, expressos na situação desportiva nacional, impõem a necessidade de construir uma matriz conceptual para o desporto, em Portugal. O desporto entendido como bem público, cujos enormes benefícios se estendem bem para além do indivíduo que pratica esta atividade – e por isso objeto de apoio público e consagrado constitucionalmente como direito de todos os cidadãos. Também, por isso, serei devedor de um tributo e passo agora a ter uma enorme responsabilidade: o de estar à altura de saber honrar esta distinção”, concluiu, aplaudido de pé por toda a audiência.

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