A Federação Portuguesa de Atletismo cumpriu 102 anos, tendo publicado um texto evocativo da data, com base nos escritos da obra do Centenário da FPA, que se transcreve:
“Embora haja registos de “convívios desportivos” e corridas pedestres no final do século XIX, datam de 1901 as primeiras provas de atletismo de que há registo em Portugal, trazidas a público pelos jornais da época. E foram organizadas (e participadas) por súbditos britânicos, agrupados no Lisbon Cricket Club, com sede na Cruz-Quebrada, e no Carcavellos Club.
Mas só em 1905 e 1906 surgem as primeiras provas com portugueses, da alta sociedade, em organizações do Campo Grande Foot-ball Club (antepassado do Sporting Clube de Portugal), nos terrenos da Estrada do Lumiar, e do Clube Internacional de Futebol (CIF), em Alcântara.
A primeira constou de corridas de cavalos e de burros, corridas pedestres de velocidade e de obstáculos, além de saltos. Na organização do CIF, também com vários tipos de corridas, saltos e lançamentos, estiveram na assistência, e a entregar prémios, o rei D. Carlos, a rainha Dona Amélia, o príncipe D. Luís Filipe, além de vários membros da nobreza, dando aqui o sinal de que o “sport” era uma atividade social para os mais abastados.
No final de 1909 é fundada a Sociedade Promotora de Educação Física Nacional, sob a direção do Conde de Penha Garcia e de Mauperrin Santos. E, em junho de 1910, com a também recém-formada Liga Sportiva de Trabalhos Atléticos, realizou-se no velódromo da Palhavã, com a presença de perto de oito dezenas de atletas de nove clubes, os primeiros Jogos Olímpicos Nacionais, considerados os primeiros Campeonatos Nacionais.
Seguem-se mais três edições e, em 1914 e 1915, os clubes dividem-se entre o Comité Olímpico (COP) e a Sociedade Promotora (SPEFN) e, a par dos Jogos Olímpicos Nacionais, realizam-se os Jogos Desportivos Nacionais, embora posteriormente sejam estes os considerados oficialmente campeonatos nacionais.
Até que, em 1916, a atividade voltou a parar por completo, por falta de entidades organizadoras. Ainda foi criada uma Federação Socialista dos Desportos Atléticos (organizou provas de ciclismo e atletismo e competições de futebol participados por clubes como o Vendedores de Jornais ou o Campo Santana), mas pouco consequente…”
Até que é (finalmente!) fundada a Federação Portuguesa de Sports Atléticos.
A Federação Portuguesa de Atletismo (então Federação Portuguesa de Sports Atléticos) foi fundada a 5 de novembro de 1921, mas o processo não foi simples e culminou cinco anos durante os quais a modalidade esteve praticamente inativa. Os clubes ainda faziam torneios de captação de atletas, mas todos sentiam necessidade de criar um organismo que os representasse e dirigisse a modalidade.
Apenas a 23 de setembro de 1921, “nas salas do jornal A Capital” (conforme anúncio nos jornais, dois dias antes) e, depois, em mais reuniões no Ateneu Comercial de Lisboa, os clubes se reuniram. Elegeram primeiro uma comissão, para que desse os passos necessários para a criação da Federação, formada por Salazar Carreira, Joaquim Oliveira e Sousa, Carlos Bazílio Oliveira e Armando Sá. E, finalmente, tendo como sócios fundadores o CIF, o Sporting, o Benfica, o Portugal FC, o FC Gaia e o Clube Escola Náutica do Porto, foi fundada a Federação Portuguesa de Sports Atléticos, a 5 de novembro desse ano.
O primeiro Congresso foi realizado a 26 de janeiro de 1923, a Comissão manteve-se em funções, mas só em 1926 foi eleita a nova direção, presidida por Fernando Caetano Pereira, tendo Francisco Nobre Guedes como presidente do Congresso. Em 1929, conforme se regista no Governo Civil de Lisboa, adota-se a denominação que tem até hoje: Federação Portuguesa de Atletismo
As diferentes direções da FPSA reuniam-se quando e onde era possível e nos anos 30 e 40 ainda chegaram a ser utilizadas para o efeito as salas da Associação de Futebol de Lisboa e da Federação Portuguesa de Futebol, a quem chegou a pagar 50 escudos por mês para ali ter armazenada a correspondência e demais documentação. A FPA encontrou uma casa mais definitiva a partir de 1951, na Praça da Alegria, em Lisboa.
A atual sede, em Linda-a-Velha, foi inaugurada em 1996, sucedendo-se a estadias também longas na Rua do Arco do Cego e Avenida Infante Santo.
Em termos desportivos, a FPA orgulha-se de ser a única federação desportiva portuguesa que tem os únicos campeões olímpicos de Portugal (Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora e Pedro Pichardo), expoentes de uma dúzia de grandes momentos olímpicos do atletismo nacional, espelhados na imagem que ilustra o artigo.
“FPA Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique
Graças ao papel desempenhado ao longo de décadas, a Federação Portuguesa de Atletismo foi agraciada por Jorge Sampaio, então Presidente da República, Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, com o título de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique, a mais alta condecoração recebida.
Antes, em 1991, por despacho do Ministério da Educação, é concedida a Medalha de Mérito Desportivo e, em 1998, o Secretário de Estado do Desporto, Júlio Miranda Calha, concede à FPA a medalha de Colar de Honra ao Mérito Desportivo.
Ao contrário do que poderia supor-se, as associações regionais de atletismo são uma ramificação da FPA, pois só foram criadas depois da federação. A primeira foi a do Porto (1926), ficando com a responsabilidade da organização das competições a Norte, sendo criada a de Lisboa em 1929, com as provas a Sul.
Exceto Porto, Lisboa, Faro (mais tarde Algarve), Guarda, Santarém e Setúbal, todas as Associações foram antecedidas de Associações de Desportos, que faziam esse papel, mas relativamente às várias modalidades. Coimbra teve uma Associação própria, mas apenas entre 1937 e 1940, e também há registos de uma associação em Setúbal, que não vingou… por não pagar a quota à FPA.
Da História de ontem para a História recordada hoje!