O Auditório José Vicente Moura, foi pequeno para acolher um numeroso grupo de figuras do desporto nacional das últimas décadas do Século XX, quando vieram à luz do dia para se tornarem nos grandes paladinos da Educação Física e do Desporto em Portugal.
Foi um fim de tarde para reviver e conviver com uma boa mão cheia dos protagonistas destas conversas reais – de que fala o livro apresentado – com os que estiveram esta quarta-feira, na sua grande maioria, no Auditório do Comité Olímpico de Portugal, como são Alberto Trovão do Rosário, Alfredo Melo de Carvalho, António Vasconcelos Raposo, Arcelino Mirandela da Costa, Carlos Neto, David Monge da Silva, Eduardo Trigo, Jorge Araújo, Fernando Mota, Francisco Sobral Leal, Henrique Melo Barreiros, Jenny Candeias, Jorge Olímpio Bento, Manuel Brito, Maria Adelaide Patrício, Maria da Graça Sousa Guedes, Fátima Monge da Silva, Leonor Moniz Pereira, Sidónio Serpa e Vítor da Fonseca.
As conversas imaginárias são com António de Paula Brito, Nelson Mendes, Henrique Reis Pinto, Hermínio Barreto, Jorge Crespo, José Esteves, Noronha Feio, Teotónio Lima, Maria da Graça Mexia e Mário Moniz Pereira, porquanto faleceram antes de se darem os primeiros passos para erigir esta obra magnífica que fica para a história do movimento desportivo em Portugal.
Editada pela Visão & Contextos (chancela da Omniserviços, Representações e Serviços), dirigida por João Barata, antigo internacional de andebol e comentador televisão também da modalidade, a obra “Um livro de História e de estórias de alguns dos grandes protagonistas da transformação da Educação Física e do Desporto em Portugal. Vinte conversas reais e dez conversas imaginárias com quem connosco continua a conversar através dos seus legados, que não se podem perder. A sublime descoberta de uma riqueza cultural escondida e injustamente esquecida. A evolução transformadora da teoria e da prática de uma área essencial do pensamento e do desenvolvimento humano” – foi assim que Vítor Serpa se referiu na nota introdutória do livro “30 conversas com a memória – o desporto, a história e a vida”, com a sua assinatura e que foi apresentado na sede do COP, em Lisboa, que patrocinou o livro.
No prefácio assinado por João Paulo Almeida, diretor-geral do COP, esclarece-se que as 30 figuras da Educação Física e do Desporto português com voz nesta obra são “protagonistas que desempenharam cargos relevantes no sistema desportivo nacional e em importantes funções noutras áreas e que nos ajudam a perceber que ontem, tal como hoje, persistem por ultrapassar aspetos centrais de desenvolvimento desportivo de um país.”
“30 conversas com a memória – o desporto, a história e a vida” nasceu da iniciativa de José Manuel Constantino, presidente do COP, que “com toda a justiça deveria fazer parte desta obra”, considerou a abrir a sessão de lançamento o editor João Barata, da Visão e Contextos.
“Uma ideia brilhante” de José Manuel Constantino, foi como Luís Bettencourt Sardinha, presidente da Faculdade da Motricidade Humana (FMH), que teve a cargo a apresentação pública de “30 conversas com a memória – o desporto, a história e a vida”, se referiu à obra.
Luís Bettencourt Sardinha escolheu citar o poeta Mário Quintana para sublinhar a importância que os 30 protagonistas que dão corpo ao livro têm na sua área de atividade, a Educação Física e o Desporto: “Não tenho a pretensão de que todas as pessoas de quem gosto gostem de mim…/nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante para mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…”
“Notável, Vítor Serpa”, disse Luís Bettencourt Sardinha, dirigindo-se ao autor, pelo trabalho feito com “um conjunto de personalidades de que o País se orgulha.” E defendeu ainda o presidente da FMH: “Há sem dúvida mais volumes a escrever.”
“Foi um privilégio ter podido aceitar e cumprir o desígnio que me foi apresentado por José Manuel Constantino”, considerou Vítor Serpa a propósito do desafio que lhe foi lançado há um ano, sublinhando ainda que a construção do livro lhe permitiu reconhecer “a extraordinária dimensão intelectual do professor de Educação Física.”
Estiveram presentes na sessão que encheu o auditório do COP, entre outros, o presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, Vítor Pataco, e o vogal Carlos Pereira.
“30 conversas com a memória – o desporto, a história e a vida” tem 520 páginas, é editado pela Visão e Contextos e pode ser comprado, via site do COP.
No grupo dos “vinte” (ainda presentes entre nós) – acima citados e nascidos entre 1933 e 1952 – Luís Sardinha teve oportunidade de citar, com oportunidade, algumas das “frases chave” do que cada um referiu quando da entrevista deita por Vítor Serpa – como foram os casos de Noronha Feio, que disse que “não é possível resolver o desporto se não se resolver a educação”, o que nos trás à realidade a luta que os professores de educação física tem produzido, ao longo de muitos anos, pela afirmação do elevado nível cultural que cada um demonstra em todas as latitudes.
Noutra perspetiva, mas globalmente dentro do mesmo quadro de apreciação, Melo Carvalho acertou na “mouche” – ou não tivesse sido o iniciador do novo movimento desportivo para Portugal, que afirmou que “para se transformar a sociedade é preciso ter poder!”
Quanto a Carlos Neto – o homem que passou a vida (e ainda nestes dias), a dizer que a formação da criança é para ser feita fora de casa – que afirmou que “o corpo está aprisionado e esquecido” ou que Monge da Silva – um guru da então teoria do treino – que salientou que “não vejo sinais de que as coisas vão mudar!”
Ou, entre outros, Jorge Araújo, que referiu que “o comportamento nos acontece!” trazendo à colação Fernando Mota que disse “Portugal poderia ter sido um país em forma!”, citando-se ainda Francisco Sobral quando referiu “O conhecimento anda mais depressa do que eu”, enquanto Melo Barreiros se referiu a “sempre com o passado à minha frente”, quiçá mais nostálgico, enquanto Jenny Candeias adiantou que de “desporto todos falam, mas poucos percebem.”
Jorge Olímpio Bento, pelo trajeto de vida que percorreu, deu alento a que “a causa da lusofonia preenche-me a alma” e Manuel Brito a citar que “com o 25 de abril, o corpo deixou de ser proibido”, para Maria Adelaide Patrício adiantar que “chamavam-me milagre”, com Maria da Graça Guedes recordar que “ensinei danças portuguesas aos pescadores de Malaca”.
Mais sucinta, Fátima Monge da Silva referiu que “foram 38 anos de pura paixão” (com o Andebol), enquanto Leonor Moniz Pereira deu primazia à causa da deficiência, dizendo que “há um imenso trabalho na inclusão das crianças com deficiência”, com Sidónio Serpa a salientar que “o mais importante é termos um sentido de vida”, para Vítor Ferreira da Fonseca fechar a dizer que “o cérebro é o órgão mais complexo do cosmos”.
Interessantes são ainda os textos que que se dedicam às “conversas imaginárias”, que se reportam aos que, pelos caminhos da vida, foram caindo luta após luta, mas que também não se esquecem!
Frases simples que envolvem grandezas de primeira fila em qualquer forma da vida. Lê-las será um bom sinal para também colocar o cérebro de cada um a pensar mais. Para melhor!