Com um figurino comum a outras comemorações idênticas, mas com um mote assente nas “mães estão sempre lá, nas vitórias ou nos momentos difíceis”, o Comité Olímpico de Portugal decidiu promover, esta quarta-feira, a distinção das mães dos atletas medalhados em Jogos Olímpicos.
Com o Auditório Vicente Moura a transbordar com membros da família olímpica portuguesa, o evento surgiu de forma inovadora, mais atrativa e apelativa, em especial quando Carlos Lopes (campeão olímpico em 1984) recebeu a distinção por sua mãe, no que foi a mais estrondosa salva de palmas ouvida na sala em relação a todos os agora lembrados, o que se verificou também quando Fernanda Ribeiro subiu ao palco com sua mãe.
Só faltou Rosa Mota – ausente por motivos de ordem pessoal – para completar a tríade dos primeiros três campeões olímpicos do desporto português nos anos oitenta e noventa, no tempo de maior amplitude e cintilante cruzada à conquista do ouro olímpico para Portugal.
Com uma abertura ternurenta, com a canção da autoria da fadista Marisa, que foi um outro hino às Mães e Mulheres, num vídeo mais íntimo, em que mostra o próprio filho, que predispôs os presentes, no qual se incluía João Paulo Correia, secretário de Estado do Desporto e Juventude, em representação do Governo de Portugal.
Estiveram presentes Maria Adélia Barreto (mãe de Nuno Barreto, medalhado em Atlanta 1996), Maria Manuela Rocha (Hugo Rocha, medalhado em Atlanta 1996), Maria José Pedro (Fernanda Ribeiro, medalhada em Atlanta 1996 e Sydney 2000), Ana Maria Paulinho (Sérgio Paulinho, medalhado em Atenas 2004), Filomena Obikwelu (Francis Obikwelu, medalhado em Atenas 2004), Rosa Pimenta (Fernando Pimenta, medalhado em Londres 2012 e Tóquio 2020), Eduarda Silva (Emanuel Silva, medalhado em Londres 2012), Manuela Monteiro (Telma Monteiro, medalhada no Rio 2016), Regina Rodrigues (Jorge Fonseca, medalhado em Tóquio 2020) e Rosa Peralta (Pedro Pichardo, medalhado em Tóquio 2020).
As distinções foram entregues pela Comissão de Mulheres e Desporto, através de Filipa Cavalleri, Ana Celeste Carvalho, Francisca Laia e Catarina Rodrigues, antigas atletas olímpicas.
Foram lembrados ainda outros atletas que conquistaram medalhas para Portugal, mas que não estiveram presentes, cujo diploma será entregue em data futura.
Sem paragem, a radialista Carla Rocha declamou o poema “Para Sempre”, de Carlos Drummond de Andrade, onde se pode “compreender do poema a grande importância das mães nas nossas vidas. Desde a infância, quando o filho é muito dependente até a fase adulta, quando já não é tão dependente. Mãe não tem limite, se arriscaria até as últimas consequências por um filho”, que também se aplica na linguagem desportiva.
Na oportunidade (por vídeo gravado), Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, defendeu que “a valorização da mulher traz comprovadamente vantagens à sociedade”, mas identificou “um retrocesso” no processo de afirmação da mulher “em várias partes do Globo, como nos casos do Irão e do Afeganistão, onde persistem trevas impensáveis neste século XXI. Os regimes autocráticos em afirmação e multiplicação, nestas últimas décadas, menorizam sistematicamente o valor da mulher. É um ataque aos valores ditos ocidentais, no sentido de contraciclo com a harmonia que procuramos”.
Na condição de “mãe de duas meninas pequeninas”, Diana Gomes explicou que “talvez advenha daí a preocupação que me leva a temer retrocessos neste domínio. Hoje celebramos as mulheres. Cada uma, à sua maneira, escreveu um capítulo diferente, mas fazendo parte do mesmo livro intitulado Mulher”.
José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, sublinhou o significado da iniciativa de homenagear as mães dos atletas medalhados, afirmando que “não me ocorre uma cerimónia com um significado tão importante e tão determinante como aquela que estamos a realizar no dia de hoje. Trata-se de destacar a importância da família no percurso dos atletas e, dentro da família, das mães. Nós conhecemos os atletas, os treinadores, os dirigentes – eu só hoje conheci algumas das mães dos nossos atletas. E elas estão lá, sempre, nas horas boas e nas horas más, nas alegrias e nas tristezas. São colo, são abraço, são almofada, cobertor, são as primeiras adeptas destes e doutros atletas, e são aquelas que mais sofrem. Os atletas também sofrem, elas sofrem à sua maneira, chorando muitas vezes quando as coisas não correm bem, chorando de alegria quando as coisas correm bem. A homenagem às mulheres que são mães é o cumprimento de uma obrigação absolutamente elementar, para destacar a importância que estas pessoas tiveram no percurso desportivo dos seus filhos e das suas filhas. E não é demais sublinharmos e valorizarmos essa importância. É este testemunho que o Comité Olímpico de Portugal, no Dia Internacional da Mulher, vos queria transmitir, agradecendo em nome do desporto nacional, agradecendo em nome do Movimento Olímpico, sobretudo, em nome de Portugal”.
João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e Desporto, na sua alocução, destacou o caráter do evento, como “uma cerimónia justa, com muito sentimento, e uma cerimónia muito merecida para as mães das nossas campeãs e dos nossos campeões.”
E porque no Dia Internacional da Mulher o tema da igualdade de género está sempre presente, João Paulo Correia vincou que o “combate às desigualdades é uma causa de todos os dias, em todos os sectores da nossa sociedade. Combater as desigualdades é uma missão que convoca cada um de nós, independentemente da sua ideologia, da sua forma de ver o mundo”, tendo concluído “em nome do Governo, agradeço todas as alegrias que os atletas portugueses têm dado a Portugal.
Joana Rodrigues, acompanhada pelo pianista Giovanni Barbieri, interpretou o tema “Para os Braços da Minha Mãe”, de Pedro Abrunhosa, outro tema a abordar as Mães.