Rumando a Eindhoven com uma desvantagem de três golos, a selecção nacional de Andebol “guerreou” até ao fim para alcançar o objectivo de voltarem a integrar, de novo, o Mundial de Andebol, o que foi conseguido com uma margem folgada, ainda que com muito trabalho.
Os lusos entraram nos últimos 60 minutos do Play-Off de Qualificação para o Mundial com saldo negativo, dada a derrota consentida em Portimão, mas com ambição de levarem de vencida a congénere neerlandesa, como se confirmou este domingo de Páscoa.
A vitória – e consequente apuramento – foi a coroação de uma exibição de gala e teve como base o sete constituido por Gustavo Capdeville, Diogo Branquinho, Martim Costa, Miguel Martins, Francisco Costa, Pedro Portela e Alexis Borges.
Em Eindhoven, Paulo Pereira apresentou algumas novidades em relação ao jogo da primeira mão, com a titularidade dos irmãos Costa, no plano ofensivo e, para combater as substituições defesa/ataque, Victor Iturriza e Fábio Magalhães – em funções defensivas – iniciaram o ataque português em transição, num sistema 2:4 (dois pivôs e dois primeiras linhas), e apenas aquando do ataque posicional dão o seu lugar a Martim Costa e Francisco Costa. No verso, os irmãos Costa ficam em funções defensivas quando não for possível fazer a troca, para tentar evitar os golos em transição – onde os Países Baixos são extremamente fortes.
Gustavo Capdeville entrou inspirado na partida, ao parar duas bolas que permitiram aos portugueses chegar ao 0-2 através de Martim Costa. Os neerlandeses responderam na mesma moeda, igualando o marcador, mas Pedro Portela voltou a ser mais forte que Bart Ravensbergen, fazendo o 2-3 da marca de 7 metros. O guardião português voltou a aparecer e lançou Victor Iturriza para o 2-4.
A superioridade seguia lusa, com Gustavo Capdeville a parar diversas bolas, e com os portugueses à procura de alcançar os três golos de vantagem. Com 15 minutos volvidos, os tão esperados três golos à maior surgiram, com Miguel Martins a assistir Victor Iturriza para o 7-10, colocando a eliminatória empatada.
Francisco Costa colocou a equipa das quinas a vencer por quatro (7-11) e, mais tarde, o lateral direito deu a Portugal a maior vantagem registada até então (9-14). Os neerlandeses iam tentando adaptar a sua defesa e Paulo Pereira usou o seu primeiro time-out, com cerca de 23 minutos decorridos, no entanto, os homens da casa conseguiram reduzir até aos três golos, com o 11-14 de Bobby Schagen. Os lusos ainda retomaram os quatro golos à maior, primeiro por Miguel Martins (11-15) e depois por Martim Costa (12-16) mas, na recta final da primeira parte, os laranjas foram mais fortes e reduziram, através de Dani Baijens, até ao 14-16, com o intervalo a chegar com aos 15-17.
António Areia devolveu os três golos de vantagem na abertura do segundo tempo mas, após um período de inferioridade numérica lusa, os neerlandeses aproveitaram e chegaram ao 17-18 por Jasper Adams e as transições ofensivas dos locais voltaram a aparecer. Dani Baijens igualou o resultado a 19, obrigando o técnico português a parar a partida com cinco minutos decorridos da segunda parte.
A equipa nacional reagiu bem à pausa técnica e retomaram a liderança por dois, com Martim Costa e Miguel Martins a finalizar (19-21). Alexis Borges colocou o marcador, novamente, na marca dos três golos de vantagem lusa com o 20-23, mas os neerlandeses seguiam a aproveitar as transições para reaproximar o resultado, Florent Bourget apontou o 23-24 da linha de 7 metros, frente ao estreante Miguel Espinha, perto dos 45 minutos de jogo.
Os lusos atravessaram um novo período de inferioridade numérica mas desta vez conseguiram manter-se superiores, com a ajuda de três defesas consecutivas de Miguel Espinha, Portugal regressou aos quatro golos de vantagem, através de Alexis Borges que, assistido por Bélone Moreira, fez o 24-28 com 50 minutos decorridos.
O técnico neerlandês não hesitou em utilizar um time out para tentar quebrar a fase crescente dos portugueses. Ainda assim, foi a equipa nacional a regressar mais forte e, depois de igualar a maior vantagem registada até então, de cinco bolas (24-29), Martim Costa colocou a diferença em seis, por duas ocasiões, 25-31 e, mais tarde, 26-32.
Novo tempo técnico neerlandês, com pouco mais de três minutos por jogar, trouxe o 7×6 que levou Kay Smits a apontar o 27-32. Na resposta, Leonel Fernandes fez o trigésimo terceiro golo – marca que igualou o número de golos sofridos na primeira mão – mas os lusos não ficaram por aí e chegaram mesmo aos sete golos de vantagem, com Leonel a fixar o resultado final em 28-35.
Martim Costa, com oito golos assinalados, foi o melhor marcador do encontro, seguido do neerlandês Kay Smits com sete. Miguel Espinha teve uma estreia de sonho, sendo considerado o MVP da partida com 7 defesas traduzidas em 47% de eficácia.
Com este resultado, os Heróis do Mar carimbaram presença no IHF World Championship 2023, que tem início marcado para o dia 12 de Janeiro de 2023, terminando no dia 29 do mesmo mês e decorrerá na Polónia e Suécia. Depois das edições do Campeonato da Europa de 2020 e 2022, a presença no Mundial de 2021 e os Jogos Olímpicos de Tóquio, a selecção das quinas parte em Janeiro para a quinta fase final de grandes competições consecutiva.
Paulo Pereira, seleccionador nacional, destacou a principal mudança para este jogo que permitiu a reviravolta lusa, tendo salientado que “mudou a nossa forma de estar no jogo. Acho que no primeiro jogo houve alguns golos de contra ataque fruto das trocas que nós fizemos. Demos, porventura, mais primazia à troca defensiva do que à recuperação defensiva, às vezes vínhamos para a troca sem pensarmos que antes teríamos que defender um espaço ou defender uma zona, vínhamos mais a pensar na troca do que do que no resto. Isso foi corrigido, estes dois dias permitiram-nos centrar naquilo que tínhamos que fazer melhor e uma das coisas era essa. A outra, era a questão das ajudas, porque o Luc Steins fez um golo nesse primeiro jogo, mas fez uma enormidade [17] de assistências. Portanto sentimo-nos um pouco enganados, de certa forma, porque demos muita importância ao Luc Steins, quando os outros também são importantes e acabou por se confirmar por essa quantidade de assistências que ele fez. Aqui conseguimos resolver com um pequeno detalhe defensivo. Para além da questão de darmos mais primazia à recuperação do que propriamente à troca, fomos mais capazes nesse aspecto.”
Recorde-se que, no primeiro jogo (Portimão) Portugal perdeu por 33-30 e, desta vez, venceu por 35-28 para poder chegar à fase final do mundial de Andebol de 2023.