Portugal concluiu o primeiro dia do mundial de atletismo em pista coberta, em Belgrado, na liderança do medalheiro, com uma medalha de ouro e outra de prata, à frente da Etiópia (uma de ouro e uma de bronze), numa classificação oficiosa em que os Estados Unidos da América somam sete (três de prata e quatro de bronze).
Estas medalhas tiveram como base o título mundial alcançado por Auriol Dongmo (peso) e a prata conseguida por Pedro Pichardo (triplo salto).
A recordista nacional entrou com um ensaio a 19,32 metros, que repetiu na segunda ronda, registo que se manteve até meio do concurso, altura em que, num ápice, desceu ao terceiro lugar.
A norte-americana Chase Ealey lançou a 19,11 metros e a jovem neerlandesa Jessica Schilder mal passara os 19 metros (19,01 m). Ao terceiro ensaio foi nulo para Auriol e a sueca Fanny Roos assustou com (19,22 m), com Auriol a fazer outro nulo no quarto ensaio, altura em que Schilder passou para as medalhas com 19,46 m e chegou o assombroso quinto ensaio.
A norte-americana Chase Ealey bateu o seu recorde pessoal passando pela primeira vez os 20 metros (20,21 m), levando a portuguesa ao terceiro lugar. Mas a fé de Auriol é grande e a sua capacidade ainda maior, levou a recordista nacional melhorou a enviar o engenho a 20,43, com um gesto técnico que roçou a perfeição no lançamento, aumentando em 53 centímetros o recorde de Portugal, também a melhor marca mundial do ano e ficou com o título mundial no ‘bolso’.
No final, antes de se enrolar na bandeira, Auriol ajoelhou frente ao sector de lançamentos e benzeu-se. Aos jornalistas, afirmou que “passar os 20 metros pela primeira vez na minha carreira é uma sensação incrível. Sabia que estava pronta para melhorar o meu recorde, pois estava fortemente preparada nesta temporada de inverno. Mas ainda não tinha a certeza de quando seria capaz de realizar esse meu potencial”.
Acrescentou Auriol que “finalmente, consegui chegar ao meu melhor resultado na hora certa e no lugar certo”, desabafou, confessando que “esta noite eu senti-me calma e estava realmente confiante. Não tenho palavras para descrever esse sentimento de me tornar campeã do mundo, de voltar ao topo do mundo novamente. Esta vitória vai motivar-me ainda mais a continuar com o peso ao mais alto nível”
Por isso, já com os olhos noutros objectivos, Auriol afirmou que este resultado a motiva “a trabalhar ainda mais duro para chegar ao pódio em Oregon 2022. Eu tinha sonhado com a medalha olímpica no verão passado, mas isso não aconteceu. Eu queria dedicar a minha medalha de Tóquio ao meu treinador, como não o fiz, então tenho a oportunidade de fazê-lo hoje”.
Na mesma prova, Jessica Inchude obteve 17,58 metros logo no primeiro ensaio. Uma marca que a deixou na 12ª posição, sem acesso aos três últimos lançamentos.
Antes das lançadoras, competiu a recordista nacional dos 60 metros. Na primeira das três meias-finais, Lorene Bazolo voltou a fazer a marca da manhã (7,24 segundos), mas ficou na oitava posição, sem apuramento para a final.
No final da prova, a portuguesa mostrou-se “muito satisfeita com o resultado conseguido. Estava confiante com a marca da manhã e voltei a confirmar estar em bom momento”. Contudo, a atleta revelou que “estes mundiais não eram o objectivo inicial. Mas a época correu bem, fomos tendo resultados e então, já que havia essa possibilidade, pensámos estar aqui e bem”, disse a atleta que revelou não ter ficado mais descansada, “pois quando entro num campeonato é sempre para dar o meu melhor e hoje foi conseguido. Este é o meu melhor resultado de sempre em mundiais”.
A atleta, já veterana ‘no papel’, afirmou também que a idade não quer dizer nada e o que é “importante é o trabalho que fazemos e o estado de espírito que temos para o enfrentar. Tenho de focar-me nos meus objectivos e ir tão longe quanto possível, assim tenhamos saúde para o conseguir”.
Pedro Pichardo com medalha de prata
Entretanto, Pedro Pichardo sagrou-se vice-campeão mundial de triplo salto, em pista coberta, nos Mundiais que estão a decorrer em Belgrado 2022.
O recordista nacional e campeão olímpico abriu o concurso com a marca de 17,42 metros, a sua melhor marca do ano e recorde de Portugal em pista coberta (o anterior era 17,40 m, e pertencia a Nelson Évora, com o terceiro lugar no Mundial de 2018). Era a resposta ao salto recorde (17,64 m) do cubano Lazaro Martinez que surpreendeu toda a concorrência.
Pedro Pichardo voltou a bater o recorde nacional ao segundo ensaio (17,46 m), assegurando a medalha de prata, mas não conseguiu melhorar. Fez um nulo no terceiro ensaio, no quarto ensaio registou um salto de 14,94 e depois prescindiu dos dois últimos saltos. Atrás do português ficou o norte-americano Donald Scott (17,21 m) que fez a sua melhor marca deste ano.
Pedro Pichardo explicou que prescindiu dos últimos saltos “por ter sentido um “toque” no pé. Já havia sentido no aquecimento uma coisinha, mas decidi competir. Nos dois primeiros saltos ainda deu para os fechar, sentindo algum desconforto, mas ao quarto ensaio senti que era mais forte e falei com o meu treinador – e pai – e decidimos parar por ali. E agora, enquanto caminho, vai doendo a cada passo”.
Sobre o adversário que se sagrou campeão, “Não fiquei surpreendido com o Lázaro [Martinez], pois já competi com ele e conheço todo o seu potencial. Até estava à espera de mais adversários”, referiu. Questionado se vai mudar alguma coisa no treino para o verão, adiantou que “a pré-temporada ainda não acabou. Não tencionava fazer época de inverno, devido a uma pequena lesão, mas ainda a fiz como preparação. Vou agora ver com o meu treinador e o fisioterapeuta o que temos pela frente, pois estou muito focado no verão com Mundiais e Europeus”.
Na mesma prova, outro português, Tiago Pereira, ficou a dois centímetros de poder saltar os três últimos ensaios, terminando em 9º lugar com a sua segunda melhor marca deste ano: 16,46. No final, admitiu ter “cometido alguns erros que impediram um resultado ainda mais feliz”.
Ainda na jornada da manhã, Rosalina Santos, que integrou a segunda prova de qualificação não conseguiu melhor que o sétimo lugar, com a marca de 7,37 segundos, perdendo aí as aspirações de seguir em frente “algo que, realisticamente, pensava ser difícil”, referiu a atleta, adiantando que “teria de estar a 120 ou 200 por cento para passar, batendo o recorde pessoal. Contudo, senti muitos mais nervos do que nos Europeus e não consegui descontrair para o conseguir. Espero continuar a evoluir e conseguir o apuramento para os mundiais de verão e aí estar melhor”.
Nos 400 metros, Cátia Azevedo correu na primeira eliminatória e terminou em quinto lugar com o seu segundo melhor tempo do ano (53,01 segundos), insuficiente para conseguir chegar às meias-finais (o acesso fez-se com melhor marca que o recorde de Portugal – 51,77 segundos).
Cátia Azevedo, referiu que “foi um sucesso conseguir estar nos mundiais, depois de recuperar do Covid. A época de pista coberta acabou por ser boa, embora os resultados não o traduzissem. Vou continuar a treinar bem forte para o ar livre, pois desejo fazer uma marca abaixo dos 50 segundos ou muito perto”.
Neste sábado, Carlos Nascimento estará na qualificação dos 60 metros (9h45), Isaac Nader participa na qualificação nos 1.500 metros (11h15) e Francisco Belo vai estar na final do lançamento do peso (18h40).