O Palácio do Egito, em Oeiras, foi palco da apresentação do livro “Os Recordes Nacionais do Atletismo Feminino e outras histórias”, da autoria de Arons de Carvalho e Sequeira Andrade, uma publicação da Federação Portuguesa de Atletismo lançada no âmbito das comemorações do centenário desta instituição.
O dia escolhido – 8 de Março, Dia Internacional da Mulher – não foi ao acaso. O seu simbolismo deu o mote para homenagear as mulheres que, tal como outras nas mais variadas áreas, mostraram que o atletismo é tanto para homens como para mulheres; é tanto dos homens como das mulheres. Também o local escolhido não poderia ter sido melhor, já que tem, actualmente, patente a exposição dos 40 anos da Corrida do Tejo que, como lembrou o vereador do desporto da Câmara Municipal de Oeiras, Pedro Patacho, “muito contribuiu para a democracia e para a liberdade”.
Tendo este simbolismo como pano de fundo, foi possível juntar na mesma sala, por exemplo, a recordista Eulália Mendes, a primeira mulher a baixar do minuto aos 400 metros, com a actual recordista Cátia Azevedo, a primeira a baixar dos 51 segundos, que fixou a melhor marca nacional na distância em 50,59s.
“Somos uma modalidade com registos, que nos permitem comparar épocas e medir progressos”, lembrou o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Jorge Vieira, durante a sua intervenção, tendo acrescentado que “com este livro vamos poder folhear a história do nosso atletismo, a evolução das mulheres no nosso deporto, que provaram com o seu desempenho, mais do que com qualquer celebração que se possa fazer no Dia da Mulher, o valor da mulher no desporto e na representação nacional”.
Completou Jorge Vieira dizendo que “desde os tempos em que Eulália Mendes foi pioneira muito se progrediu. A última equipa olímpica, por exemplo, tinha mais mulheres do que homens, embora em termos de filiados o número de homens ainda seja maior. Outras iniciativas serão promovidas para que o número de mulheres praticantes e filiadas possa crescer”.
Modalidade que se diz das mais democráticas e inclusivas, “não fosse o atletismo a base de todas as modalidades, só poderia ter um papel preponderante na igualdade desportiva”, sublinhou, por seu turno, o Secretário de Estado do Desporto e Juventude, João Paulo Rebelo, que parafraseou em seguida Hilary Clinton, durante o seu discurso na ONU, no qual afirmou que “os direitos das mulheres são direitos humanos”.
“Todos devemos, por isso, defender os direitos das mulheres”, concluiu o Secretário de Estado, que dirigiu uma palavra especial à recordista nacional dos 50 km marcha, Inês Henriques, pela sua luta recente pela inclusão desta distância no programa dos Jogos Olímpicos, também ela presente, tal como Marta Onofre, Fernanda Ribeiro, Teresinha Vaz, Sónia Carvalho, Isabel Abrantes, Lorène Bazolo e Cátia Azevedo, tendo Rosa Mota surgido apenas na fase inicial, devido a outros compromissos assumidos.
De facto, muito se progrediu, no que diz respeito ao papel da mulher no desporto, desde que em 1934, oficialmente, se registaram as primeiras provas de atletismo feminino, mas também no que se refere à liberdade. Hoje os homens não escrevem nos jornais que a prática desportiva faz mal às mulheres, nem se atrevem a apelidá-las de “sexo fraco”, muito menos observam com espanto a mudança das saias para os calções enquanto equipamento desportivo. Hoje as mulheres são tão atletas quanto os homens e podem correr na rua sem serem importunadas, podem fazer as provas que quiserem e ninguém as vai expulsar de uma maratona por ser mulher. Tudo graças a estas recordistas e outras mulheres atletas que lutaram e lutam todos os dias para levar a modalidade e o nome de Portugal mais longe. São as histórias destas mulheres, além da estatística, que este livro imortaliza em 340 páginas que retratam a evolução trazida pelas mulheres ao atletismo e ao desporto nacional.
E a confirmar este “enlace” de gerações, ficou o registo de um abraço efusivo entre Eulália Mendes (a primeira recordista nacional dos 400 metros) e a actual, Cátia Azevedo, jovem que ficou de “boca aberta” quando conheceu a recordista inicial de então (anos 60), tal foi o entusiamo e calor proporcionado. Inesquecível, dir-se-ia mesmo!
O livro “Os Recordes Nacionais do Atletismo Feminino e outras histórias”, da autoria de Arons de Carvalho e Sequeira Andrade, pode ser adquirido na loja online da FPA: Loja – Federação Portuguesa de Atletismo (fpatletismo.pt)