Sem que tivéssemos conseguido contactar com alguém da comitiva portuguesa no final da competição dos 35 km do mundial de marcha, no passado domingo, tivemos oportunidade de falar, após o regresso a Portugal, com a experiente marchadora Inês Henriques.
A campeã mundial dos 50 km, que não foi aos Jogos Olímpicos de Tóquio porque o Comité Olímpico Internacional (COI) e a World Athletics – WA (designação actual da Federação Internacional das Associações de Atletismo – IAAF), decidiram acabar com a prova nesta distância – não se sabendo se a distância entrará no programa dos Jogos de Paris’2024 – sente-se triste pela desistência.
JM – Quer causas estiveram na base de ter que desistir perto dos 17 km, sensivelmente a meio da prova?
IH – As principais foram o excessivo calor que se fez sentir e, também, o facto de o percurso, que devia cumprir as regras da WA, ter uma inclinação superior à que está regulamentada, o que levou outros países a também reclamar pelo facto.
JM – Chegaram a fazer o reconhecimento do percurso que tinha sido divulgado pela organização?
IH – Sim. Chegámos a Omã na quinta-feira de manhã e fomos logo conhecer e treinar no circuito. A WA ainda tentou mudar o local da competição, pelos protestos dos países, mas como eles queriam promover o centro de congressos, os responsáveis da cidade disseram que era naquele local ou não se realizava.
JM – E o que foi o original era diferente?
IH – Sim. Era à beira mar, plano, mas num local sem ninguém – apenas existiam dois edifícios que estavam em construção – que não reunia condições para ali se realizarem as provas. Por outro lado, não nos adaptámos nem ao calor nem à hora marcada para a competição.
JM – Mas se este percurso era o ideal, como se diz na gíria do atletismo, e tinha sido divulgado na informação às equipas, porquê mudar para um que acabou por ter dificuldades acrescentadas face à inclinação que tinha? A inclinação estava de acordo com as regras?
IH – Por que mudaram não sei. Mas a inclinação era irregular porque superior ao que estava descrito nas regras, o que levou muitos países a reclamar e a solicitar que as competições fossem realizadas no local indicado inicialmente, o que não foi consentido nem pela organização nem pela WA.
JM – Pesarosa com o resultado?
IH – Evidente. Depois de uma época passada algo atribulada, entrei para 2022 com uma dinâmica diferenciada que foi dando resultados positivos até à partida para Omã. Daí que não esperava que as condições climatéricas influenciassem a marcha normal que devia ter feito. Mas aos 17 km tive que desistir por não me sentir com força para chegar até ao fim.
IH – Continuo direccionada para os Europeus e Mundiais de Marcha, competições que tem lugar este ano, separadas por dois meses, se bem que preciso de ter o foco bem definido porque há necessidade de confirmar as marcas definidas.
JM – Segundo constatei, o Comité Olímpico Internacional retirou do programa do atletismo, nos Jogos Olímpicos de Paris’2024, a prova dos 50 km e não admitiu a dos 35 km, apenas possível, para já, no europeu e mundiais deste ano. A presença como atleta em Paris é uma miragem?
IH – Não havendo impossíveis do ponto de vista físico, pelo menos para já, a verdade é que o Comité Olímpico Internacional tomou essa decisão, ainda que a WA tivesse definido que divulgaria, até final do ano de 2021, uma decisão final, o que até agora ainda não foi feito, segundo creio.
Segundo a decisão do COI, a prova de 50 km é substituída por um evento ainda não definido, sabendo-se apenas que será misto, para se chegar aos 50% na paridade entre homens e mulheres (igualdade de género).