Segunda-feira 24 de Novembro de 8904

Muito calor e circuito com inclinação fora do normal na base da fraca presença portuguesa no Mundial de Marcha

Sem que tivéssemos conseguido contactar com alguém da comitiva portuguesa no final da competição dos 35 km do mundial de marcha, no passado domingo, tivemos oportunidade de falar, após o regresso a Portugal, com a experiente marchadora Inês Henriques.Atl-Marcha-InêsHenriquesCampeã-16-01-2022

A campeã mundial dos 50 km, que não foi aos Jogos Olímpicos de Tóquio porque o Comité Olímpico Internacional (COI) e a World Athletics – WA (designação actual da Federação Internacional das Associações de Atletismo – IAAF), decidiram acabar com a prova nesta distância – não se sabendo se a distância entrará no programa dos Jogos de Paris’2024 – sente-se triste pela desistência.

JM – Quer causas estiveram na base de ter que desistir perto dos 17 km, sensivelmente a meio da prova?

IH – As principais foram o excessivo calor que se fez sentir e, também, o facto de o percurso, que devia cumprir as regras da WA, ter uma inclinação superior à que está regulamentada, o que levou outros países a também reclamar pelo facto.

JM – Chegaram a fazer o reconhecimento do percurso que tinha sido divulgado pela organização?

IH – Sim. Chegámos a Omã na quinta-feira de manhã e fomos logo conhecer e treinar no circuito. A WA ainda tentou mudar o local da competição, pelos protestos dos países, mas como eles queriam promover o centro de congressos, os responsáveis da cidade disseram que era naquele local ou não se realizava.

JM – E o que foi o original era diferente?

IH – Sim. Era à beira mar, plano, mas num local sem ninguém – apenas existiam dois edifícios que estavam em construção – que não reunia condições para ali se realizarem as provas. Por outro lado, não nos adaptámos nem ao calor nem à hora marcada para a competição.

JM – Mas se este percurso era o ideal, como se diz na gíria do atletismo, e tinha sido divulgado na informação às equipas, porquê mudar para um que acabou por ter dificuldades acrescentadas face à inclinação que tinha? A inclinação estava de acordo com as regras?

IH – Por que mudaram não sei. Mas a inclinação era irregular porque superior ao que estava descrito nas regras, o que levou muitos países a reclamar e a solicitar que as competições fossem realizadas no local indicado inicialmente, o que não foi consentido nem pela organização nem pela WA.

JM – Pesarosa com o resultado?

IH – Evidente. Depois de uma época passada algo atribulada, entrei para 2022 com uma dinâmica diferenciada que foi dando resultados positivos até à partida para Omã. Daí que não esperava que as condições climatéricas influenciassem a marcha normal que devia ter feito. Mas aos 17 km tive que desistir por não me sentir com força para chegar até ao fim.

ines henriques londres 2017 ouroJM – E agora?

IH – Continuo direccionada para os Europeus e Mundiais de Marcha, competições que tem lugar este ano, separadas por dois meses, se bem que preciso de ter o foco bem definido porque há necessidade de confirmar as marcas definidas.

JM – Segundo constatei, o Comité Olímpico Internacional retirou do programa do atletismo, nos Jogos Olímpicos de Paris’2024, a prova dos 50 km e não admitiu a dos 35 km, apenas possível, para já, no europeu e mundiais deste ano. A presença como atleta em Paris é uma miragem?

IH – Não havendo impossíveis do ponto de vista físico, pelo menos para já, a verdade é que o Comité Olímpico Internacional tomou essa decisão, ainda que a WA tivesse definido que divulgaria, até final do ano de 2021, uma decisão final, o que até agora ainda não foi feito, segundo creio.

Segundo a decisão do COI, a prova de 50 km é substituída por um evento ainda não definido, sabendo-se apenas que será misto, para se chegar aos 50% na paridade entre homens e mulheres (igualdade de género).

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