Ricardinho anunciou, esta terça-feira, em cerimónia realizada na Cidade do Futebol, que vai deixar de representar a Selecção Nacional, depois de uma longa e brilhante carreira ao serviço do Futsal português, terminando com a conquista do primeiro título mundial para Portugal.
Com o coração à flor da pele e em “sobressalto”, Ricardinho justificou que “venho anunciar o final de um ciclo. Apesar de me custar muito, foi uma caminhada inesquecível. Olhar para trás e lembrar-me que comecei com 16 anos em Rio Maior, não sabia que o caminho ia ser tão perfeito. Com altos e baixos, como tudo na vida – não pude ajudar a nossa Selecção no Europeu da Hungria – mas foi somente o abrir de portas às conquistas”.
Visivelmente emocionado, o internacional português, que cumpriu 187 internacionalizações e 141 golos de Quinas ao peito, explicou ainda que “com trabalho, dedicação e a crença do nosso mister, conseguimos a qualificação para o Mundial. Depois desta lesão tinha marcado uma linha, o Mundial ia ser a minha última competição pela Selecção. Fosse qual fosse o desfecho. Estes dois anos foram de muito desgaste, sobretudo psicológico. Agarrei-me à crença do nosso treinador e a todos os portugueses que nos acompanharam. Termina da melhor forma esta página do futsal. Venho aqui dizer, com muita pena minha, que vou dizer um até já, que é a decisão mais difícil da minha carreira desportiva. É hora de dar lugar aos mais jovens, sinto que tudo o que podia dar à equipa nacional dei desde os 16 anos até hoje. Obrigado a todos, espero que entendam a minha decisão. Sou português, vou ser sempre português e vou continuar a apoiar a Selecção Nacional e o futsal”.
Fernando Gomes, Presidente da FPF, lembrou as qualidades humanas do capitão, afirmando que “o Ricardinho tomou uma decisão e decidiu comunicá-la aqui na Cidade do Futebol, perto dos troféus que ele ajudou a conquistar. Podia falar da carreira do Ricardo, do que lutou por nós, do que chorou por nós, mas sinceramente prefiro falar do homem para lá da quadra. Que nos ensina o Ricardo quando não está a jogar? Que raramente a vida começa no local óbvio. Ele como atleta nasceu fora dos grandes clubes. Temos de trabalhar para a base em vez de olhar para medalhas ou troféus. E não sei se há atleta de alto nível a ir a escolas, clubes e associações como ele, a ensinar rapazes e raparigas a jogar futebol. Fora da quadra é um motor de ignição para praticantes. Fora da quadra ensina-nos a ser saudavelmente inconformados. A vida não é uma curva linear. Ensina-nos que quando a curva desce está sempre nas nossas mãos inverter o caminho. É com um misto de sensações que reajo a esta decisão. Entendemos e respeitamos. Sem ti na quadra nenhuma equipa fica mais forte”.
O Presidente da FPF destacou ainda os desafios do futuro e fez dois convites a Ricardinho, que foram aceites posteriormente, tendo referido que “é com mágoa que digo que ainda não temos aqui na Cidade do Futebol o pavilhão das nossas selecções e para cuja existência tanto trabalhaste. Dizias que ia ser um dia duro, de muito orgulho, e isso também o sinto. Que aceites tornares-te a partir de hoje embaixador vitalício da nossa Selecção. Que nos permitas fazer a tua última internacionalização em solo português, num pavilhão cheio. Sei que hoje sais da nossa quadra, mas sabemos que nunca sairás da Equipa de Portugal”.
Jorge Braz, Seleccionador Nacional, sublinhou o percurso de Ricardinho frisando que “antes de mais um abraço forte de todo o staff médico, técnico de equipamentos e todo o staff da Selecção Nacional. Não trouxe a prancheta para te atirar com ela, mas foram 11 anos a aturar-te. Que desafio, que privilégio, que aprendizagem conjunta e momentos fantásticos. Houve momentos bons, outros menos bons, mas sempre na procura da excelência e muito graças à exigência que colocaste a ti próprio e que contagiou quem te rodeia sempre. Por isso foi possível tocar o céu, estar no topo dos topos e tu estiveste tantas vezes lá e levaste tanta gente a estar também. Mas, na vida, e sabes como penso, mais do que taças, títulos e campeonatos, que legado é que tu deixas e o teu legado é o melhor exemplo que pode existir. Para a Selecção Nacional para os companheiros, para o staff, para o futsal, para o desporto em geral e mais importante para as pessoas. Que exemplo do que é atingir coisas de forma correta e apaixonada. Como te disse ou se sente ou não se sente e muito sentiste o futsal. Que orgulho ter feito parte deste teu percurso e que orgulho ter contribuído para o legado e exemplo que estás a deixar. Muito, muito obrigado!”.
No evento estiveram presentes Fernando Gomes, Presidente da FPF, Humberto Coelho, Vice-Presidente, Pedro Dias e João Pinto, Directores da FPF, Jorge Braz, Seleccionador Nacional, e alguns colegas do internacional português, como Pedro Cary, Tunha, Pany Varela ou Bebé.