Este sábado, a Academia Olímpica de Portugal (AOP) promoveu, via webinar, a comemoração do 34º aniversário deste órgão estatutário do Comité Olímpico de Portugal – o que é de enaltecer – ao mesmo tempo que aproveitou para fazer um balanço do ano de 2020, onde a pandemia tem tido um papel fundamental para a paragem, de grande envergadura, da actividade desportiva em Portugal.
epois de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, se ter pronunciado sobre o teor do evento, e de Tiago Viegas, presidente da AOP, ter passado em revista os actos possíveis de realizar neste ano que está a chegar ao fim, coube a António José Silva, presidente da Federação Portuguesa de Natação, abordar o tema programado: “Desporto em tempo de pandemia”.
Um tema forte para uma dissertação muito real sobre o estado do desporto em Portugal, com o professor universitário a colocar em destaque algumas das “feridas” que se abateram sobre as actividades desportivas no país, recordando o que o “desporto vale” e o que “os sucessivos governos não têm feito” para que esse valor (social, solidário, educacional, der saúde e suas tangências mais abrangentes) continue sem ter o reconhecimento que devia ter.
Apontou a falta de visão global, agravada pela pandemia que se mantém nos dias de hoje e pelos “sucessivos adiamentos verificados na história mais recente do desporto português”, que levou, por exemplo, na Federação da qual é presidente, a “um abaixamento de cerca de 80.000 praticantes filiados só neste ano, em comparação com o de 2019”, o que considerou uma situação “grave e de difícil recuperação, porquanto “haverá que fazer tudo de novo para voltar a cativar os praticantes para se inscreverem e seguirem, os que puderem e queiram, uma carreira de sucesso escolar, desportivo e humano que se deseja”.
Pelo meio, referiu-se aos valores que os governos têm investido no desporto, que continuam a ficar além do que é necessário – comparativamente com outros países similares a Portugal – se bem que os desportistas portugueses tem evoluído bastante e alcançado resultados, em qualidade e em quantidade, muito acima da média de há uma década atrás, “considerando que o desporto continua a ter um apoio condizente ao desporto sempre adiado”, pelo menos em relação ao custo benefício verificado.
Fez um balanço das várias fases da pandemia e “correspondentes perdas em cada uma, face às decisões tomadas pelo governo, em que o desporto não foi abordado nos documentos então publicados”.
Cooperantes em todas as latitudes, os dirigentes desportivos tiveram oportunidade de “apresentar várias propostas para serem analisadas e serem inseridas nos documentos oficiais, mas isso nunca foi enquadrado, apesar das posições tomadas pelas entidades da cúpula do associativismo desportivo”.
“Nunca tivemos uma resposta quanto às propostas apresentadas”, sublinhou António José Silva, que referiu que isso foi como que a “demissão do Estado de garantir medidas para tentar mitigar os problemas com que as Federações se confrontavam no dia-a-dia”.
No entanto, viu-se que “o Futebol teve um tratamento e planeamento diferenciado, tendo a primazia em relação às restantes modalidades, que só numa fase mais adiantada viram também as respectivas actividades poderem ser reiniciadas, ainda que sem contar com as acções para os mais jovens”, adiantou ainda aquele dirigente.
Ainda que a situação se encontre a caminho de uma abertura mais ampla, não existe cobertura “Day After” no que respeita aos clubes, porquanto é deles que parte a base de formação dos jovens, que há muito tempo estão sem actividade, quiçá também mais preocupados com a parte educacional (escola), porquanto é a carreira que terá que ser maias duradoura para o futuro.
Com as escolas de formação encerradas, “bloqueando” os clubes – porque não tem meios de subsistência – por certo não haverá competição, o que se reflectirá no futuro do desporto português, a todos os níveis.
É evidente que a pandemia não prejudica apenas o desporto, mas este é um dos sectores que dá grande visibilidade ao país.
“A criação de um fundo de emergência para o desporto, como foi apresentado pelas entidades agregadoras do movimento associativo” – referiu António José Silva, que adiantou – “teria – e terá – significado elevado para alavancar as acções dos clubes, criando-se, por exemplo, fundos não reembolsáveis face às receitas que existiam antes da pandemia se iniciar, para além de outros benefícios, como a redução de TSU, se acaso se definir uma estratégia nacional, que é o que faz falta”.
Salientou ainda que “a coisa do desporto tem sido sempre adiada porque se reconhece uma irrelevância do desporto para o Estado, para os interlocutores políticos, para os representantes do movimento associativo, que não sabem revindicar e ainda a inoperância das organizações na defesa das razões do desporto”.
O que leva António José Silva a “temer que os estímulos e adaptações que se possam operacionalizar não cheguem a tempo de reorganizar o desporto com vista a um futuro mais risonho no médio prazo”.
O tempo o dirá!