Gianni Merlo, presidente da International Sports Press Association (AIPS), foi a personalidade em destaque no segundo dia do Seminário de Jornalismo Desportivo, Tecnologia da Informação e Comunicação, realizado pelo Centro Caribe Sports, que transmitiu a voz de especialistas em diversos áreas para mais de 1.200 participantes.
O Presidente do Comité Olímpico da Venezuela e da Comissão de Educação do Centro Caribe do Desporto, Eduardo Álvarez, abriu a conferência apresentando o projecto do Conselho Desportivo Universitário, que terá a responsabilidade de estabelecer alianças estratégicas com instituições de ensino superior da região para fornecer opções de educação e treino para os envolvidos com os desportos olímpicos na área.
Depois foi a vez de Merlo, que traçou a evolução do jornalismo desportivo desde os tempos em que as matérias eram ditadas por telefone desde a sede da cobertura até à era digital, em que os dispositivos móveis mudaram a forma de trabalhar.
“Somos os guardiões do desporto e de seus princípios” sublinhou Merlo, que também é membro da Comissão de Imprensa do Comité Olímpico Internacional, acrescentando que “muitas federações e clubes aproveitaram a contingência do Covid-19 para limitar o nosso acesso às fontes, o que é algo que não se compadece com uma imprensa livre e responsável, pelo que devemos lutar, porque somos os guardiões da indústria do desporto … Sem imprensa independente não há futuro para o desporto.”
Na sequência, a AIPS apresentou dois dos seus projectos mais importantes: o Young Reporters Program, uma experiência que permite a jornalistas em formação a cobertura de grandes eventos desportivos, com a orientação de mentores e guias mais experientes, e os AIPS Sport Media Awards, um prémio mundial que reconhece o que há de melhor no jornalismo desportivo.
As apresentações foram feitas pelos jornalistas Martín Mazur (Argentina) e Maria Constanza Mora (Colômbia).
“Uma das coisas que mais enfatizo quando falo com jornalistas das novas gerações é que o rigor e a disciplina equivalem, para nós, ao estado físico e ao treino de um atleta”, explicou Mazur, que referiu ainda que “depois, há o estilo, a criatividade, mas nenhum de nós pode florescer se não formos pontuais, se não verificarmos os dados ou não nos documentarmos.”
Mora, por sua vez, explicou que os AIPS Media Awards estão abertos a todos os jornalistas desportivos profissionais, independentemente de pertencerem ou não ao AIPS ou à associação de jornalistas desportivos do seu país.
Mora juntou-se depois a Eyleen Ríos (Ministério do Desporto de Cuba) e Katia Lopez (“El Heraldo de México”), para falar sobre a participação feminina no jornalismo desportivo.
“Os obstáculos foram poucos, talvez principalmente no início, quando se viam dúvidas nos entrevistados, que se perguntavam se você sabia ou não”, lembrou Ríos, que acrescentou ainda que “vivemos em sociedades patriarcais nas quais as mulheres são classificadas em certos papéis, mas isso está a mudar e temos conquistado espaços”.
Mora rejeitou que esses espaços sejam conquistados por meio de cotas e não como recompensa pela demonstração de mérito, considerando que “independentemente do género, todos podem conquistar o cargo. Já ouvi muitas histórias de discriminação em países da Ásia e de África, mas na América não é assim e devemos parar de nos vitimizar. Podemos dar muito mais e depende de nós como queremos que os outros nos vejam”.
Lopez, por sua vez, convidou todos a fecharem a porta aos estereótipos referindo que “só porque uma mulher é bonita não significa que ela seja burra, e pedir o telefone a um atleta não significa que você queira sair com ele. Felizmente, a minha experiência pessoal foi de grande respeito e apoio de meus colegas”.
Alejandro Goycoolea, gerente de comunicação da Panam Sports, apresentou o projecto do canal da organização, Panam Sports Channel, começando por salientar que “temos feito um grande esforço para mostrar o que outras mídias não fazem: resumos, documentários, seminários e formação, conteúdo exclusivo, conexão de especialistas, que foi uma experiência que nasceu durante a pandemia, que oferece orientações sobre psicologia, preparação física, nutrição e outros temas aos atletas. Continuamos sonhando grande”.
Ricardo Mendoza Puccini, que foi Director de Comunicações dos Jogos Centro-americanos e Caribenhos de Barranquilla 2018, falou sobre o desafio que a pandemia Covid-19 representa para eventos polidesportivos, afirmando que “o que foi afectado foi a emoção e a memória, que são os elementos que tornam os fãs apaixonados pelo desporto e suas figuras. Hoje encontramos novos conteúdos. O atleta virou outro cidadão, os ídolos aproximaram-se e isso representa uma nova oportunidade”.
Temas e atitudes sempre actuais, com vista a afinar um conjunto de predicados que devem presidir a um relacionamento racional, de abertura, em que todas e todos são indispensáveis, para que a igualdade do género não seja esquecida no dia a dia.