Terça-feira 26 de Novembro de 2024

Podemos fazer muito pela igualdade de género

A Comissão Mulheres e Desporto do Comité Olímpico de Portugal (CMD-COP) organizou – segundo informação veiculada no site do COP – o webinar “Políticas Europeias para a Igualdade de Género”, com o objectivo de mobilizar as atenções para uma temática que deve ser “uma prioridade”.

COP-IgualdadeGénero-25-09-2020Elisabete Jacinto, presidente da CMD-COP, sublinhou que esta realização visa também contribuir para o “aumento da participação feminina no desporto”, enquanto a atleta olímpica Filipa Cavalleri, da referida Comissão, moderou o webinar, que teve como primeira participante Teresa Fragoso, presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).

“O desporto é uma esfera fundamental para compreender a realidade vivida por mulheres e homens. O trabalho que fazemos para a Igualdade deve ser transversal a todas as áreas”, defendeu Teresa Fragoso, que sublinhou ainda que “uma coisa é a lei, outra é a vivência prática. As mulheres não têm historicamente o mesmo valor social dos homens. Têm sido vistas como inferiores”, reforçando que “todas as esferas reflectem esta assimetria entre homens e mulheres. E o desporto não é excepção. O que está na base da discriminação são estereótipos de género”.

Em relação ao caso específico do desporto, Teresa Fragoso lembrou existir “uma assimetria nos salários, patrocínios e prémios. A assimetria no que se paga é dizer às mulheres que valem menos. Há um caminho longo a percorrer”.

“O primeiro passo” – sustentou também a presidente da CIG – “para caminhar no sentido da igualdade de género é sensibilizar, informar. O desporto é sem dúvida uma área que deve dar um exemplo de igualdade”.

Sarah Keane, presidente da Comissão de Igualdade de Género dos Comités Olímpicos Europeus, fez a caracterização da situação da Igualdade de Género a nível europeu.

Primeira mulher presidente do Comité Olímpico da Irlanda, Sarah Keane esclareceu que ao assumir funções “sempre quis trabalhar pela igualdade de género no desporto”, defendendo ser “importante lembrar que esta é uma questão que também respeita aos homens.”

A dirigente irlandesa introduziu no webinar o tema da violência exercida sobre as mulheres, lançando um desafio em que “temos de manter as mulheres seguras e não é fácil que isso aconteça em todos os países.” Num estudo efectuado na Bélgica e na Holanda, 38% das mulheres inquiridas relatam experiências de violência psicológica, 11% de violência física e 14% de violência sexual, o que levou Sarah Keane a tirar uma conclusão: “nesta área, precisamos de ter uma política específica, é preciso haver pessoas dedicadas a esta questão, profissionalmente.”

A desigualdade na composição das missões olímpicas, com maior peso de homens, no que se refere a atletas e treinadores, foi também tema na apresentação da presidente da Comissão de Igualdade de Género dos Comités Olímpicos Europeus.

A propósito, salientou que “temos de fazer alguma coisa em relação a isto”, exemplificando que “na área dos treinadores tem-se feito pouco pela igualdade. No Rio 2016, na Missão de Portugal, 27 treinadores eram homens e dois eram mulheres.”

Sarah Keane acentuou a necessidade da governação das organizações ser alterada, tendo referido uma necessidade essencial: “Precisamos de mulheres que se candidatem.”

Na Irlanda, as federações aprovaram uma moção que obriga a Comissão Executiva do Comité Olímpico a ser preenchida com uma quota de pelo menos 40% de mulheres. “As federações aprovaram, agora esperamos que também concretizem essa medida na sua própria organização”, disse Sarah Keane.

Marisa Fernandez, adjunta do Chefe da Unidade de Desporto da Comissão Europeia, abordou os Programas e Políticas de Igualdade de Género definidos pela Comissão Europeia, destacando a importância da Semana Europeia do Desporto no contexto da pandemia e a importância dos prémios europeus “BeInclusive”: “A igualdade de género é um dos critérios para encontrar o vencedor.”

A adjunta do Chefe da Unidade de Desporto da Comissão Europeia sublinhou o facto da liderança no desporto “ter uma evidente falta de mulheres em lugares de liderança. Só 7% das federações são presididas por mulheres. Elas trazem uma atitude e perspectiva diferentes e as organizações só têm a ganhar com isso”, defendeu.

Marisa Fernandez explicitou ainda vários projectos europeus integrados no programa Erasmus+, como o “All in” e o “She Runs”, que promovem competências de liderança entre as mulheres.

No período de debate, Elisabete Jacinto colocou uma questão sobre a ideia de algumas das mulheres que chegam a lugares de topo, em Portugal, e referem não sentir qualquer discriminação quanto à igualdade de género e de oportunidades. Teresa Fragoso respondeu que “o mais normal é que as pessoas não se sintam discriminadas. As mulheres, estatisticamente, ganham menos do que os homens e não se manifestam. Esta é uma questão que precisa de momentos como este, de consciencialização.”

Ana Celeste Carvalho, da CMD-COP, encerrou o webinar. “Não podíamos deixar de colocar este tema na agenda desportiva, em Portugal, porque é um tema que está na agenda mundial. Ao fazê-lo visamos a três objectivos: informar, consciencializar e informar todos os participantes que podem ter um papel activo. É uma causa que temos de colocar também na agenda política.”

A membro da CMD-COP encerrou o webinar citando Nelson Mandela. “Escreveu o livro ‘Um caminho para a liberdade’, esperemos neste caso que não seja longo, que seja para a igualdade de género.”

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