Tendo entrado na fase em que – fechado que foi o calendário competitivo nacional e internacional por força do Codiv-19 – as mulheres e os homens do atletismo (meio findo e fundo) passaram a ter uma área mais alargada para poderem treinar, a verdade é que nem por isso tem forma de melhorar a técnica de marchar, porquanto nada se sabe do que vai acontecer até final da presente época.
Do calendário dito normal, apenas o europeu de atletismo (25 a 30 de Agosto próximo, em Paris) está de pé, não se sabendo se o fim desta primeira leva do Covid-19 será uma realidade até lá. Como se sabe, as coisas por França ainda estão complicadas mas resta a esperança de que #tudovaificarbem!
No entanto, as provas de marcha não fazem parte do programa desta competição, o que pode levar a alguma desmotivação por parte dos marchadores, que fizeram o ponto da situação em declarações ao site da Federação Portuguesa de Atletismo.
Para Inês Henriques, que completou 40 anos no primeiro de Maio, “neste momento estou a treinar uma vez por dia, mais quilómetros de corrida. Para realizar os treinos específicos de marcha uso o circuito habitual, já os treinos de corrida faço na mata próximo da minha casa. Quanto aos exercícios de reforço realizo-os em minha casa, com o material que tenho”, tendo a atleta ribatejana (Rio Maior) acrescentado que “o apoio técnico e de meios complementares é agora mais restrito, porquanto o meu treinador (Jorge Miguel) só está comigo duas vezes por semana e de resto não tenho mais nenhum apoio”.
Inês também tem estado activa nesta fase, empenhando-se um pouco mais na corrida e, recentemente, no dia do seu 40º aniversário, foi de Rio Maior a Fátima (mais de 52 km, em 4h22m), como forma de se desafiar a si própria.
A campeã mundial (2017) e europeia (2018) de 50 km marcha, ex-recordista mundial da distância, recordista portuguesa na distância, 15 vezes campeã de Portugal e somando 43 internacionalizações, entre as quais três presenças em Jogos Olímpicos, nove mundiais e cinco europeus, mostra-se cautelosa sobre as repercussões que uma época sem competir podem trazer para o seu futuro, afirmando que “temos de aguardar pelo tempo próprio para ver as repercussões em termos físicos, psicológicos e financeiros”, salientando ainda que “se a situação melhorar e tivermos condições para treinarmos e os restantes apoios fundamentais para o treino”, caso ainda exista alguma competição este ano, isso “seria benéfico. Se não acontecer será mais desgaste psicológico”, concluiu a atleta
Quanto a João Vieira, 44 anos, salientou que “neste tempo de pandemia tenho-me limitado a treinar uma vez por dia no circuito habitual de treino, num percurso limitado a 2 km, para ficar mais isolado e num treino de baixa intensidade, sendo o segundo treino diário feito com o material que tenho em casa”.
Orientado tecnicamente pela esposa, também marchadora (Vera Santos), que tem providenciado o seu conhecimento ao atleta, João salientou que “conto com esse apoio da minha treinadora em todos os treinos, mas estou restrito ao que se refere a apoio de instalações desportivas e de meios de recuperação, especialmente fisioterapia e massagem”.
O atleta do Sporting Clube de Portugal, nascido em Portimão, mas radicado há muito em Rio Maior, conquistou a medalha de prata na inédita prova nocturna de 50 km marcha, em Doha, no ano passado, nos Campeonatos Mundiais. Tinha então 43 anos, tornando-se o mais velho medalhado da história da competição na distância.
Com 45 internacionalizações, entre as quais quatro Jogos Olímpicos, 11 Mundiais e 6 Europeus, João Vieira é o actual recordista nacional de marcha atlética nas distâncias de 10 km (estrada e pista), 20 km (estrada e pista) e dos 50 km (estrada) e soma 55 títulos de campeão de Portugal, em pista, pista coberta e estrada.
Com o seu principal objectivo – Jogos Olímpicos – adiado por um ano, sem outras competições de marcha internacionais (nem mesmo o Challenge da World Athletics), João Vieira não é dos que viram a cara à luta, nem tem baixado os braços, o que é comum também a Inês Henriques.
Sobre que tipo de repercussões terá todo este tempo prolongado sem competir, pragmático, João Vieira afirma que “é difícil tirar conclusões das repercussões imediatas. Terá mesmo de esperar-se pela próxima época para tirarmos conclusões”, salientou o atleta, que entende o adiamento e cancelamento das competições internacionais.
Recordistas de Portugal dos 50 km marcha, João Vieira e Inês Henriques, não desarmam.
O sector da marcha atlética é um dos que nos últimos anos produziu excelentes resultados internacionais, conquistando medalhas de ouro e prata em campeonatos mundiais e europeus para Portugal, com os “quarentões” João Vieira e Inês Henriques na frente medalhada!