Terça-feira 24 de Novembro de 1265

Fernando Gomes com segundo “murro na mesa” volta a visar a incapacidade profissional

Pela segunda vez, ainda que em épocas desportivas diferentes (2018/2019 e 2019/2020), Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, voltou a dar “um murro na mesa” para tentar colocar em ordem os conflitos porque tem trilhado o futebol nacional, especialmente a nível dos clubes de âmbito profissional e onde se insere também a Liga Profissional de Futebol, incapaz de gerir e resolver as situações que surgem e para as quais não tem “força” negocial nem força profissional.

Há sensivelmente um ano, o “drama” aconteceu com um “estonteante” aumento da violência no futebol, dentro e fora dos recintos desportivos, que levou Fernando Gomes a publicar um comunicado em que se “envergonhava” do que estava a acontecer no âmbito das competições profissionais de futebol, assunto que foi ultrapassado algum tempo depois, pese embora os “resíduos” ainda continuem a pairar no ar, ficando na nossa retina a hipótese de poderem voltar nestas dez jornadas que faltam para concluir o campeonato da LIGA NOS de 2019/2020.

FPF-FernandoGomes-10-04-2020Desta vez, a questão coloca-se no facto de, por força da Covid-19, definir um plano efectivo para o cumprimento das jornadas ainda em falta – com todos os jogos à porta fechada (sem espectadores) – o que bule com o “frenesim” das finanças de cada um, depauperadas que estão e que levou, agora, o presidente federativo a afirmar que “o futuro do futebol não está garantido”, o que pode ter criado algum “amargo” de boca junto dos responsáveis clubistas.

Lesto mas vincadamente, salientou ainda que “o futebol, durante muitos anos, parecia o centro da vida para muitas pessoas, mas, não aligeiramos as palavras, porquanto já todos percebemos que não é. As pessoas conseguem viver sem futebol. É verdade que viverão pior, que serão mais pobres, que lhes faltará o prazer estético, a emoção, a alegria, a comunhão, a paixão. Mas viverão”.

Pelo meio, Fernando Gomes foi dizendo que “este artigo é a partilha pública das minhas respostas, que partem de uma evidência: o futuro do futebol não está garantido”, como frisou mais do que uma vez.

Continuando – percebendo-se o tom de amargura que lhe vai na alma – o presidente da FPF salientou que “estamos a começar um dos meses mais importantes – e recorde-se que Maio é o mês comemorativo (e reivindicativo) dos trabalhadores – do futebol português, em que tudo faremos para continuar a estar à altura da confiança que depositaram neste sector e em que nos prepararemos para voltar a competir. É uma oportunidade que não podemos desperdiçar, até porque, um pouco por todo o lado, estarão a olhar para o nosso comportamento. De uma certa forma, é começar de novo. Temos de começar bem!”

Para o curto prazo, Fernando Gomes estima que “o futebol, como a própria sociedade, tem vivido num modelo económico e comunitário estruturalmente baseado na velocidade das interacções, tendo pensado de menos no amanhã” adiantando que “o bem maior do accionista, digo-o sem reservas, é a sua empresa, o seu clube, a missão que persegue e não o lucro conjuntural de um ano ou outro.”

Os recursos humanos também foram um tema abordado, tendo o presidente federativo revelado que “teremos, nós os do futebol, de introduzir critérios mais exigentes na construção dos nossos projectos desportivos, escolhendo bem os directores desportivos, treinadores, jogadores. Ultrapassando esta conjuntura extraordinária, teremos de evitar as trocas constantes de recursos humanos ao primeiro sinal de que as coisas não correm conforme o planeado. A persistência, a resiliência e o trabalho colectivo dão resultados.”

Quanto aos trabalhadores (jogadores), “não podemos permitir que se vendam ilusões a jovens” – referiu também Fernando Gomes, para acrescentar que “a destruição de empregos não é um dano colateral desta pandemia. O futebol não escapou – não podia escapar … – e todos os clubes, treinadores e jogadores sentiram e vão continuar a sentir o impacto. Numa altura destas, o regulador questiona-se: será que fizemos tudo o que era necessário para impedir que algumas dezenas de atletas vivessem situações delicadas? A resposta, infelizmente, é não!”

Depois de salientar o papel responsável desenvolvido pelo Sindicato de Jogadores, a ANTF e a APAF tiveram na situação presente, Fernando Gomes referiu que “a competitividade é um valor essencial que teremos de assegurar, nomeadamente através da construção ou da afinação dos nossos quadros competitivos. Também aqui teremos de fazer mais, construir provas desportivamente rentáveis. Socialmente relevantes e economicamente viáveis.”

“Para lá chegarmos – salientou ainda Fernando Gomes – teremos, todavia, de assumir que a Liga NOS e as selecções portuguesas são o local para onde queremos que o mundo do futebol olhe. Constantemente, com interesse e curiosidade.”

Recordando que, ao fixar-se no sexto lugar do ranking da UEFA na presente época, Portugal aumentará o número de equipas nas competições europeias, o presidente federativo voltou à questão financeira ao dizer que “se sabemos que deveríamos ser mais igualitários e solidários na distribuição de receitas, temos principalmente de conseguir diversificar as fontes de financiamento do futebol nacional”.

Estaria Fernando Gomes a pensar na questão da centralização dos direitos televisivos, um tema que está há bastante tempo sobre a mesa mas que não consegue andar para a frente?

É provável que sim, se bem que tenha afirmado que “os orçamentos dos grandes clubes portugueses não podem estar dependentes – cerca de um quarto de todas as suas receitas! – das participações nas competições europeias”, completando que “mas se essa é a realidade actual, a competitividade internacional dos clubes portugueses tem de ser um eixo fundamental. Esse será sempre trabalho de muitos, mesmo os que não se apuram com regularidade para as provas da UEFA”.

Como salientou Fernando Gomes, o “futuro do futebol não está garantido”, pelo menos em Portugal, porquanto tudo vive acima de tudo e de todos.

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