Segunda-feira 24 de Novembro de 1512

Há 35 anos, Carlos Lopes chegou ao recorde mundial da maratona, tendo sido o primeiro a baixar de 2.08.00

carlos_lopes_2Poucos desportistas se deram ao luxo de se terminarem a carreira ao mais alto nível, como se verificou com o campeoníssimo português Carlos Lopes, que se retirou dos grandes palcos mundiais (e nacionais) em 1985, depois de ter batido o recorde mundial da maratona, com o título de mais rápido de sempre, porquanto foi o primeiro a baixar das duas horas e oito minutos, quando venceu a Maratona de Roterdão (Holanda) com 2.07.12, em 20 de Abril.

Alcançou este desiderato com a bonita idade de 38 anos, a desafiar as “leis da ciência” daquela altura.

Para chegar a este deslumbrante resultado (para a altura), Lopes correu a primeira légua em 14.56, seguindo-se depois 15.08, 15.20, 14.46, 15.05, 15.41, 15.18, 14.20, para terminar em 6.28 os últimos 2.195 metros.

Carlos Lopes tinha anunciado, depois da medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, um ano antes, que em 1985 seria a última temporada de corridas internacionais e colocar de lado os sapatos de corrida, quiçá aproveitando a reputação intacta e o seu legado reforçado ao chegar ao primeiro lugar do ranking mundial da maratona.

Lopes “arrancou” tarde para a maratona mas, oito anos depois de ter conquistado a prata olímpica nos 10.000m (Montreal), conquistou o título olímpico de maratona em Los Angeles aos 37 anos em 2.09.02, o momento (ainda assim) mais lento da sua breve mas venerável carreira nas estradas.

A sua digressão de despedida em 1985 passou por Lisboa, onde venceu pela terceira vez o Campeonato Mundial de Corta-Mato, diante dos seus fervorosos apoiantes em casa, incluindo a sua mulher e dois filhos – um feito que só foi superado pelos quenianos John Ngugi e Paul Tergat e kenenisa Bekele, da Etiópia – para demonstrar que estava em excelente forma um mês antes da Maratona de Roterdão.

Lopes seguiu o seu caminho olímpico com um segundo lugar na Maratona de Chicago, onde viu Steve Jones sair e levar a vitória no mundial (2.08.05), registo que estava na mira de Lopes e conseguiu baixar para 2.07.12.

Em condições frias, Lopes foi escoltado nos primeiros 20 quilómetros pelos internacionais belgas Vincent Rousseau e Luc Waegeman – o próprio Rousseau voltou a vencer em Roterdão em 1993 e 1994 – enquanto Lopes manteve o seu ritmo muito bem na segunda parte, tendo defendido, no final, que “se tivesse tido alguns companheiros na segunda metade da corrida, teria corrido dois minutos mais rápido, podendo ter chegado ao fim entre as 2.05.45 as 2.05.50″.

O recorde mundial apenas durou três anos nas “pernas” de Lopes, que se viu ultrapassado pelo etíope Belayneh Dinsamo (2.06.50), que quebrou a barreira de 2.07.00 pela primeira vez e no mesmo percurso holandês., registo este que durou até 1998.

Esta foi a notável e última maratona completa de Lopes da sua carreira. Já era veterano quando se estreou na maratona em Nova Iorque (1982), onde desistiu antes de bater o recorde europeu – ou um melhor europeu como marcas de maratona – de 2.08.39 na Maratona de Roterdão, em 1983. Com um sucesso tão extraordinário numa fase tão tardia da sua carreira, porque é que Lopes não se mudou para a maratona mais cedo? Afinal, Lopes foi um dos melhores expoentes do seu tempo.

“Virei-me para a maratona para me tornar campeão olímpico”, disse. “O atletismo, então, não era tão individual como é hoje e também não havia tanto dinheiro na maratona como existe agora. Uma coisa é certa: se tivesse voltado para a maratona mais cedo, provavelmente não teria chegado onde cheguei e a minha carreira não teria durado tanto tempo” – rematou um campeão sempre desconcertante mais muito bem centrado onde queria – como se viu – chegar!

Mais um marco da história do maravilhoso atletismo português, que teve em Carlos Lopes a figura principal do desporto nacional.

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