E os “deuses” do desporto voltaram a subir, desta vez à Senhora da Graça (Mondim de Basto), onde a montanha de primeira categoria “obrigou” a que os mais candidatos ao triunfo na 81ª Volta a Portugal Santander ficassem igualados, depois do sortilégio das fugas, de esticões, de tácticas que foram produzidas ao longo dos 133,5 km do percurso da penúltima etapa.
António Carvalho (W52/Porto) – no seguimento da estratégia “montada” pela formação mais candidata a quase tudo – deu de “frosques” na altura precisa e isolou-se nos últimos metros para vencer, deixando o seu companheiro de equipa João Rodrigues a um segundo.
Um segundo depois de Rodrigues, foi o camisola amarela Jóni Brandão a ultrapassar a linha de chegada, levando a que os dois ciclistas ficassem empatados na primeira posição, criando mais um facto inovador que é propiciado pelo desporto, em que as vitórias e os títulos se conquistam por centímetros ou segundos, aqui ainda por décimos e centésimos de segundo.
O que cria, sem dúvida, um acto inédito na Volta a Portugal, com Jóni e Rodrigues a tentarem vencer o contra-relógio final. Fabuloso.
E ninguém se lembra de um final assim e não há registo, nas anteriores 80 edições, de uma discussão ao centésimo como a que vamos assistir, este domingo, no Porto, numa Avenida dos Aliados inundada por um mar de gente.
João Rodrigues terminou imediatamente atrás do companheiro de equipa e anulou o escasso segundo que tinha de desvantagem sobre o comandante da classificação geral, Joni Brandão (Efapel), que foi terceiro na chegada ao Monte Farinha. Será o contra-relógio final, entre Gaia e o Porto, que vai decidir o vencedor da Volta 2019.
É inédito no historial da prova haver dois corredores empatados à partida da derradeira etapa. Gustavo Veloso, o terceiro da Geral, perdeu outra vez tempo e passou a estar a 40 segundos dos dois melhores. É muito mas não há impossíveis!
Esta etapa não decidiu a Volta, mas afastou definitivamente alguns candidatos ao primeiro lugar como, por exemplo, Vicente Garcia de Mateos (Aviludo-Louletano) que abandonou a prova devido a uma indisposição, ciclista que se encontrava na quarta posição, a 34 segundos de Jóni Brandão e que, este sábado, também poderia ter entrado na “festa de uma amarela” que bem poderia ser a três.
A discussão entre Brandão e Rodrigues na etapa desde sábado, que partiu de Fafe, retirou protagonismo ao triunfo de António Carvalho, mas não deixa de ser um feito significativo porque correram-se 133,5 quilómetros e o homem da equipa azul e branca esteve quase sempre na frente.
Primeiro, Carvalho teve a companhia de outros elementos em fuga e depois em solitário, quando a seis quilómetros da meta disparou à procura da primeira vitória na Volta a Portugal.
Aberta ao ciclismo, como sempre, a “Sala de Visitas do Minho” animou-se ainda com a partida da penúltima etapa, a última em linha.
Outro dado novo: qualquer dos dois ainda não venceu a Volta a Portugal.
Raúl Alarcón venceu em 2017 e 2018 e Rui Vinhas foi o último português a vencer esta clássica do ciclismo nacional, em 2016.
Num dia de muitas subidas, a Montanha surgiu logo aos primeiros quilómetros. Ainda nem tinha passado uma hora de prova e já a classificação do “Rei dos Trepadores” estava resolvida. Luís Gomes (Radio Popular-Boavista), com a vantagem que tinha e amealhando pontos nas primeiras contagens, garantiu definitivamente a Camisola Azul Liberty Seguros e só tem mesmo de chegar ao Porto.
Totalmente fechada está também a classificação dos Pontos, Camisola Verde Rubis Gás, que teve em Daniel Mestre (W52-FC Porto) o vencedor. Com a desistência do basco Unai Cuadrado, devido a queda, a luta pela classificação da Juventude mantém-se e Emanuel Duarte (LA-Alumínios-LA Spot) voltou a envergar a Camisola Branca Jogos Santa Casa.
Este domingo, o primeiro corredor vai partir às 14h57 de Vila Nova de Gaia para os derradeiros 19,5 quilómetros até ao Porto. O Camisola Amarela, Joni Brandão, será o último a sair, às 16h50. Poucos minutos antes, João Rodrigues já estará na estrada para tentar alterar o rumo da classificação final.
Resultados da etapa deste sábado:
1.António Carvalho (W52/Porto), 3.49.12; 2. João Rodrigues (W52/Porto), a 1 seg.; 3. Jóni Brandão (EFAPEL), a 2 seg.; 4. João Benta (Radio Popular/Boavista), a 7 seg; 5. Frederico Figueiredo (Sporting/Tavira), m.t.; 6. David Rodrigues (Radio Popular/Boavista), m.t.; 7. Egdar Pinto (W52/Porto), a 9 seg.; 8. Danilo Celano (Amore & Vita), a 23 seg.; 9. Gustavo Veloso (W52/Porto), a 24 seg.; 10. Montoya Geraldo (Medellin/Colômbia), a 48 seg.
Geral Individual (Camisola Santander):
1.Jóni Brandão (EFAPEL), 40.29.33; 2. João Rodrigues (W52/Porto), m.t.; 3. Gustavo Veloso (W52/Porto), a 40 seg.; 4. João Benta (Radio Popular/Boavista), a 1.25; 5. David Rodrigues (Radio Popular/Boavista), a 1.37; 6. Edgar Pinto (W52/Porto), a 1.53; 7. Frederico Figueiredo (Sporting/Tavira), a 2.05; 8. António Carvalho (W52/Porto), a 2.17; 9. Montoya Giraldo (Medellin/Colômbia), a 2.23; 10. Henrique Casimiro (EFAPEL), a 3.19.
Continuam em prova 104 ciclistas.
Geral por equipas: 1. Rádio Popular/Boavista, com 121.27.24; 2. W52/Porto, a 2.51; 3. Sporting/Tavira, a 8.01; 4. EFAPEL, a 22.08; 5. Oliveirense/Inoutbuild, a 52.13.
Geral por pontos (Camisola Rubis Gás): 1. Daniel Mestre (W52/Porto), 91; 2. August Jensen (Israel Academy), 52; 3. Mikel Gardoki (Euskadi-Murias), 50; 4. Hector Saez (Euskadi Murias), 47; 5. Gustavo Veloso (W52/Porto), 45.
Geral Montanha (Camisola Liberty Seguros): 1. Luís Gomes (Radio Popular/Boavista), 107; 2. Hugo Sancho (Miranda/Mortágua), 47; 3. João Rodrigues (W52/Porto), 45; 4. Ricardo Mestre (W52/Porto), 38; 5. David Ribeiro (LA Alumínios), 36.
Geral Combinado (Camisola KIA): 1. João Rodrigues (W52/Porto), 15; 2. Jóni Brandão (EFAPEL), 19; 3. Gustavo Veloso (W52/Porto), 23; 4. António Carvalho (W52/Porto), 34; 5. João Benta (Radio Popular/Boavista), 39.
Geral Juventude (Camisola Jogos Santa Casa): 1. Emanuel Duarte (LA Aluminios), 40.42.02; 2. Berrade Fernandez (Euskadi Murias), 40.42.58; 3. Rafael Lourenço (Oliveirense/InoutBuild), 41.13.53; 4. Pedro Lopes (Oliveirense/InoutBuild), 41.35.22; 5. Gonçalo Leaça (LA Aluminios-LA Sport), 41.36.52.
Como se referiu, o contra-relógio Vila Nova de Gaia-Porto (19,5 km) fechará, com chave de ouro (qualquer que seja o desfecho final), a 81ª Volta a Portugal Santander.