Com o objectivo em apreço, o Instituto Português da Juventude e do Desporto promoveu uma sessão evocativa da final da Taça de Portugal de 1968/1969 – realizada em 22 de Junho de 1969, no Estádio Nacional, que colocou frente a frente as equipas do Benfica e da Académica de Coimbra, recordação que ficou registada na placa que Tiago Brandão Rodrigues e João Paulo Rebelo, respectivamente Ministro da Educação e Secretário de Estado da Juventude e do Desporto inauguram na Praça da Maratona do Estádio Nacional.
Este acto fica também assinalado pelo facto de ter surgido, em Abril de 1969, o que foi o primeiro “grito de liberdade” que se tornou conhecido como a “crise da Academia”, por via da “revolta” que Alberto Martins (que foi Ministro anos mais tarde) iniciou em Coimbra, quando ousou pedir a palavra – que não foi concedida – para falar num auditório repleto de estudantes e onde estava presente o então Presidente da República, Américo Tomaz.
Depois do “mal-estar”, Alberto Martins foi preso pela PIDE e, a partir daí, se reforçou a luta da classe estudantil, que teve outro momento alto precisamente em pleno Estádio Nacional, no dia da final da Taça de Portugal, que teve como protagonistas, como se referiu, o Benfica e a Académica de Coimbra, com os estudantes a apresentarem, publicamente, painéis com palavras de ordem contra o governo em exercício (Marcelo Caetano era o Primeiro Ministro).
O Benfica venceu (2-1) e, daí, talvez não ter havido “estômago” para “embandeirar em arco”, o que podia ter acontecido se a Académica tivesse ganho, como chegou a pairar, porquanto os estudantes foram os primeiros a marcar, o Benfica empatou e seguiu-se o desempate, que Eusébio … desempatou!
Parte de uma memória que existiu, que existe e que perdurará não só pelos que, de ontem, ainda cá estão hoje, mas cuja memória está registada para o futuro. Daí a máxima de que “sem memória não há futuro” ou, dito de outra maneira, “a memória faz parte e integra o futuro”.
Entre as figuras que protagonizaram estes momentos altos, dentro de um país a “desfazer-se” (com a guerra colonial pelo meio), esteve presente Manuel Alegre que, relativamente ao tempo, já lutava contra o regime, e que, numa das quadras escritas amiúde, simbolizou uma realidade que, na altura, não foi “decifrada” e que ficou na placa comemorativa dos 50 anos da Taça de Portugal no Estádio Nacional, cujo texto dizia
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não!”
Para bom entendedor meia palavra basta.
Impactante também foi o discurso de Alberto Martins que, entre outras coisas, salientou que a “ equipa da Académica demonstrou um sentido de respeito e de honra nesse dia 22 de Junho e foi o símbolo de revolta e da contestação dos estudantes de Coimbra. Nessa altura, Portugal era um país atrasado, com 40 por cento de analfabetos, envolvido numa guerra colonial, isolado do resto do mundo, sob uma ditadura e com polícia política”.
Na evocação do evento, Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação, considerou que a final da Taça de Portugal em futebol de 1969, “fintou a ditadura e foi o prenúncio do 25 Abril”.
“Aquela final de 1969 foi especial, fintou a ditadura e marcou muitos golos. No campo ganhou o Benfica, mas fora dele quem ganhou foi cada um de nós. Sabíamos, em Coimbra e em todo o país, que algo ali tinha começado”,
As outras figuras foram os homens em campo na altura: Mário Campos (capitão da Académica), Toni, Simões e Francisco Andrade. Toni também se iniciou em Coimbra e passou a representar o Benfica precisamente na época de 1968/69, o “grande” Simões e o técnico academista Francisco Andrade, também ex-jogador, tendo estado ainda presentes Pauleta, Rosa Mota e outras figuras do dirigismo desportivo português.
Um contar de histórias de outros tempos, dos momentos que se viveram no período que antecedeu a final da Taça, no dia do jogo, dentro dos balneários e “dentro” do jogo”, porquanto ninguém sabia o que podia acontecer, mais a mais quando os jogadores da Académica se apresentaram no relvado com a tradicional capa de estudante universitário, numa conversa ao correr do tempo pela “pena” de Vítor Serpa, Director do Jornal A Bola.
Para recordar também que o Governo dessa altura mandou cancelar a transmissão televisiva do jogo e que nem o Primeiro-ministro nem o Presidente da República estiveram na tribuna Jamor – como sempre fora e é tradicional – tendo a Taça sido entregue pelo então Director-Geral dos Desportos, Armando Rocha.
Uma iniciativa que evocou o 50.º Aniversário da Taça de Portugal entre Sport Lisboa e Benfica e Académica de Coimbra em 1969, jogo muito relevante do ponto de vista político, pois marcaria o início da história recente de Portugal, o fim do Estado Novo e o início da democracia.