Inês Henriques, campeã e recordista europeia dos 50 km Marcha, campeã mundial e ex-recordista mundial, é a figura de proa na 29ª Corrida dos Reis, na Ilha do Pico (Açores), onde será homenageada pelos vinte e seis anos de carreira e, em especial, pelos êxitos alcançados nos dois últimos anos, evento que terá lugar este domingo (dia 20).
Nascida em 1 de Maio de 1980, em Santarém, tendo representado desde sempre o Clube de Natação de Rio Maior, continua a ser orientada pelo seu técnico de sempre, Jorge Miguel, e consagrou-se como a primeira campeã e recordista mundial portuguesa.
Inês Henriques chegou ao Clube de Natação de Rio Maior e à marcha pela mão da sua irmã Sónia aos 12 anos de idade, quando Susana Feitor, então com 17, já havia sido campeã mundial e vice-campeã europeia de juniores, estando em vésperas de se estrear nos Jogos Olímpicos de Barcelona.
Rapidamente se distinguiu, tendo sido mesmo uma autêntica “papa-títulos” de marcha nos escalões jovens: foi seis anos seguidos (!) vencedora do Olímpico Jovem, entre 1993 (infantil) e 1998 (júnior), três anos campeã nacional de juvenis (1995 a 1997), quatro anos campeã nacional de juniores (1996 a 1999) e mais três anos campeã nacional de sub-23 (2000 a 2002).
Inês nunca chegou a ser feliz nas competições internacionais dos escalões jovens mas fez os seus primeiros Jogos Olímpicos aos 24 anos, em Atenas’1984 (25ª), e começou a fazer-se notar a partir de 2007 nas grandes competições: nesse ano, foi 7ª no Mundial de Osaka, a dois lugares de Susana Feitor, depois de já ter sido a melhor portuguesa na Taça da Europa (outro sétimo lugar), neste caso à frente de Susana Feitor, uma “verdadeira irmã” para ela, como fez questão de referir aos jornalistas no Mundial.
Ficou fora dos Jogos de Pequim’2008 (eram quatro as marchadoras com mínimos) mas, depois, foi 8ª no Europeu de 2010 e sucessivamente 10ª, 9ª e 11ª no Mundiais de 2009, 2011 e 2013, para além de ter alcançado um 3º lugar na Taça do Mundo de 2010. Regressou aos Jogos em Londres’2012, com um honroso 14º lugar, e no Rio’2016 com um ainda melhor 12º posto. Tudo isso enquanto terminava o curso de enfermagem.
Em 2012 (aos 32 anos) baixou pela primeira vez da hora e meia, com 1.29.54, tempo que melhorou em 2013 para 1.29.30 e em 2016 para 1.29.00. Entre 2000 e 2016 (17 épocas) esteve sempre no pódio do Campeonato de Portugal de 20 km (ganhou em 2009, 2011 e 2016). E de 2004 a 2016 (13 épocas) também não falhou qualquer pódio do Nacional de pista (10000 m), ganhando quatro vezes.
No início de 2017, aos 36 anos, o ponto mais alto na carreira: tornou-se a primeira recordista mundial (oficial) na nova distância (feminina) de 50 km marcha, ao conseguir 4.08.26 em Porto de Mós, melhor que a marca anterior (não oficial) da sueca Monica Svensson, que conseguira 4.10.59 em 2007. Meses depois, já com 37 anos, tornou-se a primeira campeã mundial de 50 km, em Londres, e com novo recorde mundial (4.05.56).
E em 2018 consagrou-se como a primeira campeã da Europa, numa carreira notável e que fica na história da especialidade, quer a nível nacional quer internacional.
Quase a cumprir 30 anos (em 2020), a edição deste ano também fica para a história do atletismo nacional, para além – e com maior relevo para as gentes do Pico e das outras ilhas da Região Autónoma dos Açores – do próprio arquipélago, porquanto este evento é muito mais valorizado pelo aspecto social e de promoção da modalidade na ilha do Pico, que domingo levará todo o povo à vila de São Mateus para festejar mais uma edição, onde o cariz religioso também se faz sentir com afinco, com o desfile aberto pelos Reis Magos.
Relevo ainda para a presença da Embaixadora (quase residente) Rosa Mota, a nossa primeira campeã olímpica (logo a seguir ao camponiíssimo Carlos Lopes), que também acompanhará os festejos e estará com Inês no acender da pira olímpica antes de se dar a partida da primeira corrida, envolvendo todos os escalões etários.
Do ponto de vista desportivo, de entre os cerca de 1.200 participantes, realce para a consagrada Carla Martinho (Desportivo de Águeda), que ajudou a equipa a chegar a vice-campeã nacional de estrada no passado sábado, composta ainda por Barbara Oliveira e Alexandra Oliveira), para além de Marta Martins e Sónia Ferreira (Braga), equipa que foi terceira classificada na mesma competição nacional, a quem se juntam Lara Glória (Sporting) e Rita Miranda (Benfica).
Na prova masculina, Luís Saraiva e Ricardo Vale (Braga), Cristiano Borges (Sporting), Pedro Carvalho (Benfica) e José Azevedo (Boavista) – este último vice-campeão do mundo e da europa INAS nos 3.000m e 5.000m respectivamente.
Uma festa onde o desporto e a religião se misturam para um fim genuíno de fomento da prática da actividade física e desporto por parte da população local.