Nélson Évora, ao conquistar o primeiro título de campeão europeu (e também a primeira medalha nesta competição),arrecadou o ouro que faltava na sua já longa história.
Aos 34 anos e depois de alguns anos de altos e baixos devido a um conjunto de intervenções cirúrgicas a que que foi sujeito, Évora reagiu à adversidade, nunca deixou de acreditar, foi resiliente e acabou por se superar de maneira fantástica, coim um registo acima dos 17 metros, que é muito para o “estado” porque passou durante todo este tempo.
Começando com um ensaio nulo, Évora fez 16,55 no segundo, melhorou no terceiro para 16,86 –nesta altura com o pódio quase certo – esperança que aumento no 4º ensaio, ainda que por mais um centímetro (16,87), “explodindo” no 5º ensaio quando saltou 17,10 e passou a liderar o concurso, deixando o ex-líder (Alexis Coppelo, do Azerbaijão) de “cócoras”, sem chama para recuperar, o que se confirmou no 6º e último ensaio. Évora, com o ouro garantido, ainda fez também o último ensaio (fair play e desportivismo acima de tudo), que foi nulo.
Foi a festa portuguesa a poucas horas de se encerrar a 23ª edição do Campeonato da Europa, com outros pergaminhos ainda alcançados, como foi o excelente sexto lugar de Marta Pen na final dos 1.500 metros e o 7º lugar da estafeta portuguesa dos 4×100 metros, podendo dizer-se que com uma equipa B, porquanto Yazaldes Nascimento, o melhor do ano, não integrou a equipa devido a lesão.
Com estes resultados a encerrar o evento que teve lugar em Berlim, Portugal obteve um excelente 11º lugar na tabela das medalhas (duas de ouro) entre os 27 países que conseguiram chegar ao pódio.
Melhor ainda porque, em termos de pontuação, Portugal obteve um 18º lugar (27 pontos), em que a G. Bretanha foi a vencedora (212), seguida da Alemanha (196,5) e da Polónia (172), polacos que obtiveram a melhor classificação de sempre neste campo, entre 36 países pontuados.
Outra curiosidade é que, no conjunto dos campeonatos europeus globais (seis modalidades e treze disciplinas, com o atletismo em Berlim e as restantes em Glasgow-Escócia), Portugal também o teve o 18º posto no que respeita a medalhas ganhas (4 – 2 de ouro e duas de prata, estas no ciclismo pelos irmãos Rui e Ivo Costa),com o triunfo da Rússia, com 66 (31-19-16), à frente da G. Bretanha, com 74 (26-26-22) e da Itália, com 60 (15-17-28).
Portugal começou da melhor maneira a sessão final, este domingo, com o apuramento da estafeta de 4×100 metros para a final, mas depois de várias correcções à classificação das duas séries indicadas, uma vez que, na primeira versão, Portugal estava eliminado, por que tinha feito o nono tempo.
Corrigidas as pautas, verificou-se que a Suécia e a Alemanha não concluíram a prova e que a Itália e a Polónia foram desqualificadas. Daí a subida de Portugal ao quadro final.
José Lopes, Diogo Antunes, Frederico Curvelo e Carlos Nascimento formaram o quarteto que completou a qualificação em 39,09 e na oitava posição.
Em final de festa (foi a última prova da noite) o quarteto voltou a estar em bom plano (não falhou nenhuma transmissão) e acabou em sétimo e último (a República Checa não participou), com 39,07, ainda que longe do recorde nacional (38,65), mas que podia ter sido melhor se Yazaldes Nascimento pudesse ter participado. Também nos valeu as duas desqualificações e as duas que não completaram a corrida. Dir-se-á que “tivemos sorte” mas, como diria Moniz Pereira, “a sorte dá muito trabalho”.
Ainda Évora saltava, foi a vez de Marta Pen fazer figura de “gente grande” ao terminar a final dos 1.500 metros na sexta posição, com 4.06.54, bem perto do seu recorde pessoal (4.04,53) que fez este ano.
Mas a parte final deste campeonato foi levada ao rubro por um jovem sueco, de seu nome Armand Duplantis, de 18 anos (ainda júnior de primeiro ano), que se tornou campeão europeu absoluto (e recordista mundial de sub20) com um salto a 6,05, depois de uma actuação irrepreensível, que foi louvado publicamente (e por várias vezes) com grandes ovações do público que enchia o Estádio Olímpico de Berlim, tendo sido apadrinhado por todos os “mais velhos”, entre os quais o actual recordista mundial (6,16), o francês Renaud Lavillenie.
Filho de uma americana e de um sueco, Duplantis pode chegar, a curto prazo – num dia como o deste domingo – ao recorde mundial. É esperar para ver.
Brilhante fim de noite para o atletismo europeu.
Campeonato que fechou com duas medalhas de ouro para o atletismo nacional, passando a somar 36 a este nível de campeonatos e 298 medalhas nas competições internacionais das várias disciplinas e desde os juvenis. Sem dúvida um palmarés de excelência que não tem paralelo em Portugal em mais nenhuma modalidade.
Registe-se ainda que Nélson Évora conquistou a 7ª medalha de ouro e ultrapassou Fernanda Ribeiro, que tem seis, na história do atletismo nacional.
Como nota final, também positiva, o facto de, no conjunto dos campeonatos europeus de sete modalidades e treze disciplinas – um evento novo criado com o apoio da EBU – União Europeia de Radiodifusão (que estará muito satisfeita pelo investimento feito e pelos resultados promocionais e, quiçá, financeiros que angariou, tanto que já renovou o contrato para, pelo menos, as duas próximas edições, 2020 e 2022.
Presidente da Associação Europeia salientou que o evento foi “o melhor de todos”
Svein Arne Hansen, presidente da Associação Europeia de Atletismo (EAA) salientou que “este campeonato europeu foi o melhor de sempre” vivamente feliz pelo resultado final e, em especial, pelo final desportivo apoteótico que a competição teve ainda na pista do Estádio Olímpico de Berlim.
“Obrigado, Berlim. A cidade organizou os melhores campeonatos europeus de todos os tempos”, tendo referido ainda que “estive em todos desde 1970 e talvez as pessoas tenham outra opinião, mas tivemos uma atmosfera inacreditável no estádio que tem trazido lágrimas aos olhos dos que tem assistido via canais digitais e televisão, não só no meu país (Noruega), mas em muitos outros”.
O que foi reafirmado pelo secretário de estado do Desporto de Berlim, Aleksander Dzembritski, que afirmou que “estamos muito, muito satisfeitos com estes campeonatos europeus. Onde quer que eu estivesse, seja na arena da Breitscheidplatz (local escolhido para as primeiras cerimónias de entregas de medalhas, fora do estádio), seja no estádio olímpico ou no “show” que aconteceu na terça-feira, houve emoções fantásticas. Acho que não havia melhor maneira de mostrar o nosso ideial europeu.”
Salientou, depois que “houve o adeus emocional a Robert Harting (lançador de disco, antigo recordista alemão, europeu e mundial) e aprendemos a palavra “arrepios” face ao cariz da homenagem prestada”, terminando por manifestar “que no Estádio Olímpico havia mais e mais espectadores todos os dias, que celebravam e era uma sensação fantástica.”
Foi bom, bonito e a pedir mais.