A principal curiosidade não desportiva desta 80ª Volta a Portugal que se inicia esta quarta-feira é que vai coincidir – tudo o indica – com o primeiro dia de um verão que também vai nascer em simultâneo, sendo esperadas temperaturas a rondar os 40 graus.
Com a primeira edição realizada de 26 de Abril a 15 de Maio de 1927 – nesse tempo provavelmente com “as águas mil de Abril”, o que sempre era mais fresco – a verdade é que se chega à octogésima edição com um fulgor diferente de ano para ano, a começar pelo lote de “estrelas” que têm desfilado pelas estradas deste país e que, por motivos da nossa “pequenez” (financeira), não consegue aproximar-se das corridas de topo.
Vale, por isso, a animação que leva durante doze dias por toda a parte, confirmando a tradição de que o “desporto de rua” tem sempre mais espectadores que em recinto fechado, salvo raras excepções ou, de outra forma, elegendo o futebol.
Na estrada vã estar 131 corredores que participam na 80ª Volta a Portugal Santander, oriundas das 19 equipas participantes que foram apresentadas esta terça-feira, como habitualmente, dando-se a conhecer no Há Volta, o programa da RTP que foi transmitido em directo de Setúbal com muita animação e música junto às águas tranquilas e azuis da fantástica baía que emoldura a cidade sadina.
Além das nove formações portuguesas conheceram-se as dez que chegam de vários pontos do globo, da Malásia ao Equador, passando pela Roménia e Albânia.
Raúl Alarcón, Rui Vinhas, Gustavo Veloso, todos da W52-FC Porto, sabem o que é ganhar a Volta, assim como Alejandro Marque, do Sporting-Tavira, equipa que este ano apresenta Joni Brandão, ausente em 2017 devido a problemas de saúde. Também a Aviludo-Louletano-Uli parte com ambição depois do terceiro lugar conquistado por Vicente Garcia de Mateos na edição passada e com Luís Mendonça a querer mostrar evolução depois de conquistada a Volta ao Alentejo. A Vito-Feirense-BlackJack tem em Edgar Pinto a aposta para a geral e João Matias – uma das sensações em 2017 depois de andar vários dias como líder da montanha, que não é a sua especialidade – irá procurar uma vitória de etapa.
A Efapel parte com Sérgio Paulinho e Henrique Casimiro na luta pela geral, mas Daniel Mestre é sempre um nome a ter em conta. A Rádio Popular-Boavista conta com o regresso de Daniel Silva que reforça um bloco que tem em João Benta mais um nome para a montanha, além de contar com um dos homens mais populares do pelotão nacional, Filipe Cardoso que faz agora a 12ª Volta. Domingos Gonçalves irá envergar as camisolas de campeão nacional tanto no contra-relógio como nas etapas em linha, na procura de mais um triunfo esta temporada.
As equipas que este ano subiram ao escalão Continental, Liberty Seguros-Carglass, Miranda-Mortágua e LA Alumínios, apostam muito na juventude, sendo uma classificação que deverá ser bastante discutida. De referir ainda a presença de dois portugueses que estão na equipa espanhola Caja Rural. Rafael Reis e Joaquim Silva estão na Volta para lutar por bons resultados e Rafael, natural de Palmela, quase a correr em casa e especialista na luta contra o crono é um dos candidatos a vencer em Setúbal.
Setúbal recebeu pela primeira fez o arranque da Volta, tal como Fafe fará a estreia no encerramento da corrida, no dia 12. Até lá, haverá o regresso ao Algarve e o reforço da presença do Alentejo. Haverá ainda a Etapa Vida, no sábado, que passará por alguns dos locais mais afectados pelos incêndios do verão passado e que contará com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Domingo será dia de Serra da Estrela, com a Senhora da Graça a surgir no penúltimo dia.
Gonçalo Leaça (LA Alumínios) vai estrear o Prólogo, às 15h18 desta quarta-feira, corredor que é o primeiro a sair para a estrada no contra-relógio individual de 1,8 Km. O vencedor da Volta de 2017, Raúl Alarcón, será o último a partir às 17h28.
Quanto à luta contra o doping – a volta vai ter controlos em todas as etapas, como deriva do respectivo regulamento – será desenvolvida pelas autoridades responsáveis por esta área e não pela empresa que organiza a competição sob a tutela da Federação Portuguesa de Ciclismo, a única entidade que dá cobertura legal, de acordo com a lei portuguesa, pelo que não tem nexo a Podium Events divulgar que “não permitirá a participação futura nas suas provas de equipas que tenham qualquer envolvimento em resultados positivos de doping”, se bem que se concorde com o alerta feito de que “incumbe exclusivamente às equipas a decisão imediata sobre a participação ou não na prova de um corredor suspeito de doping e que, após as devidas averiguações, poderá efectivamente ser confirmado como tendo competido sob o efeito de substâncias proibidas”, esclarece José Carmona.
Na comunicação emitida sobre o assunto, a “Podium adverte para a total intransigência quanto a este tipo de situações e assacará a devida responsabilidade à equipa, caso se verifiquem comportamentos desleais de algum membro da equipa, que desrespeitem as normas e regulamentos antidopagem e que coloquem em causa os resultados obtidos na “Volta a Portugal em Bicicleta” e a boa imagem da organização e seus patrocinadores”, voltando a olvidar que a autoridade sobre esta matéria está conferida à Federação e à agência nacional antidopagem.
Apelemos ao desportivismo, à ética e ao fair play de todos para com todos e que esta 80ª Volta a Portugal Santander seja, acima de tudo, uma festa por todo o país.